Epílogo

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É engraçado como a vida traz mudanças inesperadas para nós. Tudo que você sabe, tudo que você conhece, seus planos, suas dúvidas, mudam em um piscar de olhos. Quanto mais você tenta planejar cada detalhe, parece que mais dá errado.

Mas a verdade é que as coisas boas da vida não são planejadas por nós, elas simplesmente acontecem independente da nossa vontade.

Alissom e Duda eram as coisas mais importantes da minha vida, e eu não havia planejado nem me apaixonar pelo irmão da minha melhor amiga, nem muito menos adotar a prima dele como minha filha. E isso é estranho, né? Pensar que não temos controle sobre as coisas é horrível, mas se pudéssemos controlar tudo, a vida seria um desastre.

Não controlei que Alissom fosse embora, não controlei o sequestro dos meus bebês, nem controlei o meu próprio pedido de casamento.

E então mais uma vez a vida vem e me sacode, me ensinando que nada é por acaso e que temos que sempre acreditar que as coisas ruins vem, mas as boas também.

Olhei para minha aliança no dedo, suspirei. Faz um ano que casei e ainda não me acostumei a ter aquele negócio no dedo.

Alissom disse pra eu parar de chamar a aliança que ele escolheu de "negócio", mas eu acho tão esquisito chamar de aliança. Tipo, eu ainda me sinto uma criança de 6 anos aprendendo como se anda de bicicleta, (e eu ainda não sei) ou como alguém que ainda não aprendeu que não se pode comer com as mãos.

Sei lá, acho que eu cresci rápido demais e não me adaptei o suficiente pra achar isso normal. Ainda mais na situação que estou agora, com duas pessoas batendo freneticamente na porta do banheiro enorme que o Alissom fez.

Destravei a porta na maior lerdeza, odeio que me apressem. Alissom e Duda estavam me olhando ansiosos, como se estivessem ganhando o presente do próprio Papai Noel.

- E então? - Alissom perguntou.

- Não sei, eu não olhei ainda. Vamos olhar juntos. - respirei fundo.

- No três, mamãe.

- Um.

- Dois.

- Três.

- Espera, aquilo ali são 1 ou 2 riscos? Tá muito fraco pra enxergar. - Alissom perguntou.

- Sei lá, vamos esperar.

- O Que foi? - Duda se pôs na ponta do pé - Eu vou ser irmã mais velha?

- Espera eu tô vendo! Ali, ali dois riscos! - Alissom gritou.

- Ai, meu Deus. Eu tô grávida?

- Estamos grávidos! - ele me pegou no colo e me girou.

Meu coração acelerou freneticamente, eu realmente estava com uma pessoa dentro de mim. Isso era muito confuso. E se o bebê não gostar de mim? E se eu não souber acalmar ele? Meu Deus, e se ele nascer com três olhos e quatro braços?

- Kate, para de pensar besteiras.

Ele me conhecia tão bem.

- Nosso filho ou filha vai ser perfeito, não há nada com que se preocupar. - ele segurou meu queixo.

Quero deixar registrado que ele disse que não havia nada com que se preocupar. Pois é, eu descobri que meu marido me iludiu demais.

Dali em diante eu estava sendo tratada como se fosse uma boneca de porcelana, não podia sequer encostar meus pés no chão pra fazer mais nada.

E eu fui obrigada a saber as semanas de gravidez, porque grávida não conta meses, e sim, semanas. (Ps: chato)
Mas o pior é ter que aguentar todo mundo dando "pitaco" de como criar meu bebê. "Não dê isso, não dê aquilo, não faça isso, não faça aquilo", nessas horas eu só respiro, abstraio e finjo demência.

Mas aquele período estava sendo tão bom, sabe? A barriga crescendo mês a mês, eu ouvindo seu coração, éramos um só. E quando deu seu primeiro chute (que doeu muito) foi uma festa, parecia que tínhamos descoberto petróleo no quintal.

Já nos últimos dias, eu não conseguia nem levantar sozinha, então dependia de todo mundo pra fazer qualquer coisa (claro que eu usava e abusava disso).

- Pega ali o meu chinelo, por favor. - pedi para a Duda, estávamos assistindo filme.

- Onde você vai, mamãe? O papai disse que você não pode se cansar!

- Eu só vou no banheiro, meu amor, não se preocupe. - como eu disse, eu estava sendo vigiada 24 horas pelos dois.

De repente senti algo forte, uma dor aguda. Respirei fundo, esperando passar, mas logo depois de uns minutos veio outra mais forte. Seria hoje então, bebê?

- Duda, liga pro seu pai e diz... que o bebê tá nascendo. - ela berrou e saiu correndo aos tropeços para pegar o celular.

Alissom chegou quase que em dois minutos, não sei como não bateu o carro.

- Eu vou ser irmã, eu vou ser irmã!- ela dava pulinhos no carro.

- Tá com muita dor? - Alissom perguntou.

- Sim, um pouco. - parecia que estava rasgando minha barriga de ponta a ponta.

- Já estamos chegando, calma.

Calma. Essa era talvez a coisa que eu mais ouvia ultimamente. Mantenha a calma, Kate, respire fundo mais uma vez. Só mais uma força, só mais uma vez.

- Só mais uma vez, Kate, você consegue. - Alissom apertou minha mão.

Olhei para ele, como eu não conseguiria se a pessoa que eu mais amo no mundo estava do meu lado?

Um chorinho atravessou a sala de parto. Era a primeira vez na vida que me sentia feliz por ouvir um choro.

- Parabéns, mamãe, é uma menina. - a enfermeira me entregou aquele pacotinho minúsculo em meus braços.

- Mais uma menininha, meu amor. - Alissom disse.

- Seja bem-vinda ao mundo, Aisha.

...

Livro 3: https://my.w.tt/mJvjZvTL85

O irmão da minha melhor amiga 2 Onde histórias criam vida. Descubra agora