Lindo futuro

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Não que eu tivesse dormido, mas o sol já estava pra nascer e eu estava com os olhos abertos. Talvez minha mente estivesse cheia demais para eu me aprofundar no sono, talvez eu estivesse atulhada de coisas pra fazer, talvez fosse esse frio na barriga de saber que, no sofá da sala, estava dormindo o meu noivo.
Meu noivo. Ainda era estranho dizer isso, porque as vezes  parecia que eu ainda tinho 16 anos.

Enfim, já era manhã e meu dia seria cheio de detalhes estranhos.
Coloquei minha roupa e desci as escadas, na pontinha dos pés.

— Kate, por que você está acordada? — Vitória perguntou, me assustando.

— Quer me matar?! — coloquei a mão no peito — O que você tá fazendo aqui? Não era pra estar na casa dos seus pais?

— Eles não queriam que eu ficasse lá. — ela olhou para a xícara em suas mãos — Só o Henri.

— E você deixou ele lá?

— Óbvio que não! Eu sou a mãe dele, se não querem que eu fique por perto, então ele também não vai ficar — sua voz soou magoada.

— É o certo a se fazer — coloquei a mão em seu ombro.

— Mas você não me respondeu. Por que está acordada tão cedo?

— Bom, eu tenho que ver a casa da Agnes... — pausei — Quer dizer, a minha casa.

— Eu posso ir junto? — ela perguntou, parecendo muito interessada.

— Tá. Pode.

Ela terminou de tomar seu café e foi se arrumar. Me dei o trabalho de escrever um bilhete para o meu noivo (adorei dizer isso), dizendo que voltaria logo.
Vitória apareceu já pronta e me ajudou a pegar as chaves do carro do Alissom, de dentro do bolso dele.

A casa era um pouco longe do prédio, mas era na mesma rua da casa da minha mãe. O que era perfeito, pois a Duda iria adorar ficar perto do meu pai e da minha mãe. E da tia Laura.

Entrei na casa, os móveis tinham sido retirados; alguns Alissom havia pegado no despejo e outros, eram da empresa e foram levados.

— Não temos um fogão, nem uma maquina de lavar, nem micro-ondas.  Nem todo o resto — a casa estava praticamente vazia.

— Então, Kate... — Vitória começou — você vai casar e tudo mais, vai se mudar e constituir sua nova família aqui nessa casa...

— Se eu não morrer — falei, sem dar muita importância.

— Você sabia que o Bruno tá indo embora? Tipo, mês que vem? — ela pareceu decepcionada.

— Sabia. E o que tem isso?

— É que eu... Você vai ter uma nova família Kate, vai ser a sua vez de novo! Você sempre consegue o que você quer, e eu quando consigo pelo menos um pouquinho, a vida me tira isso. Não é justo — sua voz embargou.

— Você gosta do Bruno? — olhei em seus olhos.

— Sim, eu gosto. Pra caramba.

— Então vai com ele, simples.

— Como assim? Simples?

— Você não tem nada aqui, Vitória. Você não fala com seus pais, você não tem emprego, você não tem casa e muito menos namorado. Ah, e você também não gosta da sua faculdade — despejei de uma vez.

— Mas e você? E a Duda?

— Continuaremos aqui. Vivos, de preferência. — segurei suas mãos —  É a sua vez de ser feliz, eu não vou atrapalhar essa chance que você está tendo.

— Eu vou falar com o Bruno! — ela disse, já correndo para a porta.

Continuei andando pela casa e subi as escadas de mármore branco, com o corrimão de metal.

Era estranho ver aquela casa tão vazia, pois costumava ser sempre tão bagunçada cheia de brinquedos espalhados e as meias da Agnes.
Não tinha móveis, nem armários, nem as estrelinhas que costumavam ficar no teto do quarto da Agnes. Era só uma casa vazia, com muitas lembranças.

— Sabia que você estaria aqui! — Alissom gritou da escada.

— A gente vai morar numa casa que não tem nem encanamento, não é preocupante? — gritei de volta.

— O que me preocupa, é que eu vou casar com uma pessoa ansiosa feito você!

Casar. Eu vou casar. Meu Deus, eu vou casar.

— Qual vai ser o quarto da Duda? — ele se aproximou e ficou entre as duas portas. O quarto dele, o de hóspede e o de Agnes.

— O da Agnes, óbvio. O seu não tem janela, e a Duda ama janelas.

— Então esse vai ser o da Maria Luísa, e aquele o do Lucas.

— Você decidiu sozinho o nome dos nossos filhos? — arqueei a sobrancelha.

— Mas é claro! Eu deixo você decidir a cor dos quartos deles — ele sorriu e me abraçou.

Fixei meus olhos nos seus e não pude evitar de sorrir, ao imaginar nosso futuro. Nosso lindo futuro.

O irmão da minha melhor amiga 2 Onde histórias criam vida. Descubra agora