Fugindo?

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Kate

Abri os olhos devagar, tinha medo de ter sido apenas um sonho, e eu não ter  visto Alissom. Mas assim que minha visão focou, pude perceber que seu rosto estava a centímetros do meu. Ponderei a situação por dois segundos, não era uma boa ideia, era uma péssima ideia.

Mas eu o queria tanto! Eu precisava daquilo antes que meu corpo entrasse em colapso. Coloquei a mão em seu rosto, mas logo tirei, quando ouvi Duda dizer a Vitória que estava com fome.

Pulei da cama, e abri a porta. Duda me abraçou.

— Mamãe, o papai foi embora sem me dar beijinho de boa noite. — ela disse, se recostando em meu colo.

— O papai tá lá no meu quarto, pequena. Por que não vai lá acordá-lo? —  falei, um sorriso se abriu, e ela correu até o quarto.

— Vocês dormiram juntos? — Vitória perguntou, estava com uma cara maliciosa.

— Sim, mas não é nada disso que você está pensando. 

— Eu sei, Kate. Você estava dormindo ontem quando viemos para casa. Ele te carregou até aqui e acho que quis cobrar pelo serviço ficando agarradinho em você a noite inteira. — ela sorriu novamente.

— É sério? Como você é infantil! — 

— Ah, para! Olha esse homem, Kate. Que mulher não gostaria de dormir em seus braços? 

— É melhor você mudar de assunto, antes que ele ouça e pense que eu estou pensando essas besteiras. — falei, saindo do corredor e indo em direção a cozinha preparar o café.

Coloquei o leite das crianças no fogo, e passei o café como costumava fazer quando não acordava atrasada. Tudo parecia normal, apenas pelo fato de Alissom estar escorado na porta da cozinha com o olhar fixado em mim. Eu sabia o que ele estava fazendo, não estava me olhando porque gostava de me olhar, estava me olhando por ser um maldito cozinheiro melhor do que eu. Estava pronto para enxergar algum erro e me criticar. 

— Então...— ele começou, sua voz me fez arrepiar —  eu queria saber se você vai trabalhar hoje?  

Não que eu quisesse, mas me manter afastada dele o dia inteiro seria ótimo. 

— Infelizmente, existem alguns pais que trabalham aos sábados, ou seja, crianças para cuidar na creche. — falei, enchendo sua xícara com café — Mas não se preocupe, são apenas alguns sábados, e é apenas meio turno.

— Então eu vou ficar sozinho com as crianças? — ele quis saber.

— Se você quiser... quer dizer, eu sempre deixo elas com a minha mãe, ou peço pra Vitória faltar aula, o que ela faz com muito prazer, mas se você quiser ficar, eu agradeceria.

— Claro, eu fico com as crianças. Fica tranquila. Pode deixar o endereço da creche, caso haja alguma emergência? — ele pediu, me entregando um papel para escrever.

— Tá, mas você tem que ficar esperto com esses dois, é sério. Henry tem intolerância a lactose, não pode dar nada pra ele antes de ler o rótulo. E a Duda tem dever de casa, faça ela fazer antes do almoço. — falei, estava anotando tudo no papel, sabia que ele iria esquecer.

— Mas a Duda não está no primário? — ele perguntou, confuso.

—Sim, mas eu a ensinei a ler, e desde então, ela faz tarefas. E olha, ela é boa, se não fosse minha filha diria que é um gênio. Sabe mais do que as crianças normais, e Henry também, os dois fazem juntos. — falei, estava orgulhosa de meus pequenos.

—Puxou a mãe, não é? — ele sorriu.

Eu precisaria sair dali rápido, pois se ele continuasse a sorrir para mim daquela maneira, seria difícil resistir e eu acabaria fazendo uma grande besteira.

 Enfiei uma blusa e uma calça que estavam entre a pilha de roupas pra dobrar, e arrumei meu cabelo com uma faixa vermelha, as crianças diziam que eu parecia a branca de neve quando colocava. 

— Bom, eu estou saindo. Cuida bem das crianças, tá bom. Qualquer coisa me manda mensagem. — falei, pegando minha bolsa.

— Eu te acompanho até o elevador.  — ele disse, abrindo a porta.

— A Duda não come pão de manhã, ela gosta de cereal e o Henri come banana amassada. — continuei até a porta do elevador se abrir — Volto perto da uma hora da tarde, você consegue sobreviver?

— Kate, eu sou uma ótima babá. — ele colocou a mão na cintura.

— Da última vez que você ficou de babá, eu cheguei na portaria e dava pra ouvir os berros que ela dava. — falei, entrando no elevador.

— Passado, passado. Eu vou sobreviver, estou preparado! — ele disse, confiante.

— Boa sorte. — e a porta se fechou.

Não estava atrasada, o que era um grande milagre, e por isso, não precisaria pegar o ônibus, podia muito bem ir a pé. Respirar aquele ar poluído da cidade e queimar algumas calorias, sabe? Pensar bastante nas coisas que eu tinha que não fazer perto do Alissom. Obviamente meu coração estava aos berros comigo, dizendo que eu não deveria ter saído sem ter feito o que eu queria fazer: beijá-lo. Mas eu era uma adulta agora, não podia ser impulsiva, tinha que pensar racionalmente, e pensar racionalmente envolvia muito controle, pois Alissom estava perto de tirar meu juízo.

O dia começou a passar absurdamente devagar, e de certo modo, era bom me manter tanto tempo longe dele. Me fazia lembrar do quanto ele era um idiota por ter me abandonado, e eu deveria o odiar por isso, mas minha mente divagava para outro lugar quando estava com a imagem dele na cabeça.

 O sinal soou, e as crianças me deram um beijo antes de deixar a sala, havia muita coisa para arrumar, e me concentrei em fazer isso rápido. Saí pelo portão de grade amarela, exausta e com fome, pensando se já havia perdido o ônibus, e provavelmente sim, mas um par de olhos azuis me deteve de ir até o ponto de ônibus.

— O que tá fazendo aqui? — perguntei ao chegar perto.

— Coloquei fogo no apartamento, vim buscar ajuda. — ele brincou.

— Eu sabia que você não era um adulto responsável. — sorri.

— Talvez eu tenha vindo pra te sequestrar. — ele abriu a porta do carro, eu entrei.

— Não ficaria surpresa mesmo assim. Você não bate bem da cabeça. — ele fechou a porta.

— Ah, Kate, se surpreenderia com as coisas que a minha mente pensa de vez em quando. — ele sorriu, aquele maldito sorriso sedutor!

Bom, aquilo já era tortura o suficiente. Eu tinha quase certeza de que ninguém me julgaria se eu o agarrasse ali mesmo e o fizesse contar cada uma das coisas que estava pensando. Eu só precisava de um beijo, um só!

— Por que não me mostra? — me ouvi dizer, mas não me lembro de ter aberto a boca pra falar. Droga!

— Você só precisa pedir. — Ele virou seu rosto para mim, tentando ficar o mais próximo possível do que o carro permitia. 

Você só precisa pedir, Kate. Só precisa pedir.

O irmão da minha melhor amiga 2 Onde histórias criam vida. Descubra agora