Inesperado

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Tentei não me virar tanto durante a noite, pois toda a vez que eu me mexia, a minha cabeça começava a latejar novamente. Acordei com uma mão úmida e gelada na minha cara.

Era uma menininha, muito parecida com Alissom. Seus cabelos eram longos e formavam anéis nas pontas, os olhos mais lindos que eu já havia visto, quer dizer, eu não me lembrava dos outros olhos que havia visto, mas com certeza esse eram os mais lindos, e as mãos mais geladas e suadas do universo.

— Mamãe! — a menina me abraçou forte.

Mamãe. Uau, que sensação maravilhosa é essa? Acho que nunca mais terei uma sensação assim.

— Olha, a Duda não pode ficar aqui mais do que cinco minutos. A Glória liberou que ela entrasse, mas vocês não podem ficar enrolando, tudo bem? — Alissom disse, estava sussurrando.

— Então você é a minha filha? Sabia que você é muito linda?

— Sabia, você diz isso toda hora, mamãe. Até escleveu na porta do nosso quarto. — ela contou.

— Isso significa que eu sou uma boa mãe, não é?

— Sim, mamãe. E olha — ela me mostrou alguma coisa minúscula que estava entre seus dedos — pêdi meu dentinho.

— Uau! E você não chorou?

— Não mamãe, eu sou fóti. — ela mostrou os pequenos braços, como se fosse muito forte.

— Você é muito forte, realmente. Então já que você é forte, tenho uma missão para você.

— O quê, mamãe?

— Me dar um abraço bem forte!

Nem precisei pedir duas vezes, ela me abraçou em um movimento só. Glória apareceu depois para levá-la, e Alissom também foi embora, mas antes me avisou que hoje quem ficaria comigo, era um tal de Bruno, meu primo. Fiquei triste, confesso, mas eu não estava em posição de escolher nada naquele momento.

— Oi, Kate. — o menino disse, assim que entrou no meu quarto

— Oi, Bruno? — perguntei, ele acenou com a cabeça.

— Eu sou o seu primo. Lembra do que aconteceu? — ele perguntou, sentando na cama.

Sim, eu lembro, mas eu gosto de fingir que eu perdi a memória. É ÓBVIO QUE EU NÃO LEMBRO.

— Não.

— Bom, eu trouxe algo que pode te ajudar a lembrar. — ele tirou um livro azul, de dentro da mochila.

— O que é isso? — perguntei.

— É o seu diário. Você não escrevia coisas muito importantes, só memórias e coisas bestas, mas que pode te ajudar.

Eu estava tentada a ler aquilo, com certeza. Mas, e se tivesse algo escrito sobre aquele menino, o Greg? E se eu fosse apaixonada por ele, e agora eu não seja mais? E se eu estiver me apegando a pessoas que nunca fizeram parte realmente da minha vida? (e com pessoas eu quero dizer o Alissom —

— Eu acho que não quero ler isso agora. — falei, Bruno não entendeu.

— Mas se você ler, pode se lembrar de tudo. Como não quer ler?

Minha cabeça estava latejando, a voz dele foi ficando distante, eu só me virei pro lado, antes de colocar tudo pra fora.

Bruno começou a gritar nos corredores, como se vomitar fosse a coisa mais perigosa do planeta. Enfim, Glória apareceu, furiosa, por estar em seu horário de almoço.


— O que aconteceu com ela? — Alissom veio gritando.

Eu não queria que ele me visse daquele jeito, e nem sabia porquê ele ainda estava no hospital, mas só sei que Glória ficou ainda mais furiosa do que já estava.


Ela tentou me levar até o chuveiro, mas eu era muito pesada para ela. Alissom me pegou no colo sem titubear, e me levou até lá. Mas saiu do banheiro para que eu pudesae me despir.

— Garota, você tem um exército de homem bonito na família. Queria eu ter, pelo menos, um dos homens que você tem.  — Glória disse, assim que eu saí do banho.

— Eu tenho sorte, eu acho. — falei, eu estava sorrindo.

— Bom, o Alissom vai ficar aqui de novo, então comporte-se. — ela disse, e deu uma piscadela.


— Sim, senhora.— pisquei de volta.

Alissom entrou no quarto, estava com muitos travesseiros e sacolas.


— O que é tudo isso? — perguntei.

— Esse sofá não é nada confortável, sabia? Não, você não sabe, porque tem uma cama maravilhosa só pra você. — ele se debrussou sobre os pés da cama e sorriu.


— Eu tenho muita sorte.

— Eu sei. E então? Está melhor?

— Ainda não morri, então, acho que sim.


— E tomara que não morra, pois eu não saberia cuidar de Duda tão bem quanto você.

— Ah, então quer dizer que é só pra isso que eu sirvo, senhor Alissom? Bonito, muito bonito.

— Não, eu não quis dizer isso. Eu me expressei errado. Eu quis dizer... eu quis dizer que...

— Que...?

— Que eu não conseguiria viver sem você.

U

au, aquilo foi inesperado. Eu estava esperando qualquer tipo idiota de resposta, mas não essa. Não agora, nem aqui, mas parece que ele tirou o dia para me surpreender. Não consegui dizer mais nada depois daquilo, ele entendeu e logo se acomodou num canto do sofá. Depois começou a me olhar e dizer que eu estava muito pálida.
Como eu não estaria? Ele havia acabado de dizer que não vivia sem mim, o que queria que eu fizesse? Talvez eu estivesse colocando coisas demais na minha cabeça, coisas que nem sejam reais, e isso me deixava nervosa.
Mas ele disse. Ele disse que não conseguiria viver sem mim. Isso significava que eu tinha uma chance. Uma pequena, mas uma chance.


O irmão da minha melhor amiga 2 Onde histórias criam vida. Descubra agora