Histórias Reais

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Ouvir aquelas crianças falarem sobre o que realmente era a vida, foi de fato emocionante. Crianças são tão puras, doces; pensamos que elas são marionetes da sociedade, mas não, são elas que dão cor ao mundo, com suas perguntas, ingenuidades, com seus gestos de afeto, de amor, que normalmente, nunca são esperados.

A essência de uma criança é diferente da de um adulto. Tanto na forma de expressão, quanto no cuidado. Uma criança é uma coisa tão delicada! Até mesmo aquelas denominadas "pestinhas", são tão frágeis e delicados quanto os calados.

Agnes um dia, tentou me explicar o que era amor. Que quando fosse amor eu saberia, que quando fosse amor meus olhos iriam brilhar, sorrir. Meu estômago daria piruetas e meu rosto queimaria.
Acho que de certa forma, Agnes descreveu tudo o que eu senti. Porém, o que era irregular em seu discurso, foi a pessoa destinada. Não para um garoto — ou devo dizer: Alissom — , e sim para uma criança.

Minhas mãos estavam frias e trêmulas, não sei porquê, nem quis saber. A única coisa que me importava, era saber:
Quem era a menina da fita amarela.

— Hora da roda! — a médica de cabelos brancos gritou.

As crianças se acumularam todas em uma grande roda, sentadas no tapete colorido e todas mostrando a linda arcada dentária.

— Quem vai começar a oração? — a médica perguntou olhando e apontando para o nariz de um menino.

— Eu acho que a Chloe deveria começar! — Benjamin gritou apontando para a menina de fita amarela.

— Chloe! — gritei sem perceber. Todos me olharam — Desculpa... Eu... Vou ficar aqui... Quieta.

— Deus, abençoa nós pra podermos brincar e abençoa nossas mamães, nossos papais e abençoa nossas vidas pra gente viver pra sempre. Amém!

— Ela quer viver pra sempre? — perguntei baixinho a Benjamin.

Ele pareceu pensar bastante, pois deu um longo suspiro e passou os dedos entre os cabelos. Me olhou, olhou para Chloe e depois suspirou de novo.

— Leucemia — ele disse por fim — Ela tem... Leucemia.

— Mas... Ela é só uma criança... — falei e não pude conter que os meus olhos marejassem.

— Acontece com as pessoas mais frágeis.

— Mas ela vai ficar bem, não é?

— Na melhor da hipóteses... — ele suspirou de novo.

Ficamos em silêncio por uma fração de tempo e passamos a observar Chloe.
Depois de um tempo, os pais de cada um deles, foram-nas levando para seus devidos quartos. Porém, Chloe ficou ali até o Benjamin levantar e levá-la.

— A mãe dela não veio? — sussurrei enquanto acompanhava Benjamin.

— A mãe dela morreu no parto, ela só tem um pai. Um "pai" — ele fez aspas com as mãos.

— Como assim um "pai"? — imitei o gesto.

— Dizem que ele odeia Chloe. Ele a acusa de ter matado a sua esposa, e bem, agora ele vive bêbado e largado na calçada.

Não pude conter o espanto. Tudo bem que perder uma esposa é algo extremamente dolorido... Agora culpar uma criança? Uma pobre e indefesa criança? Isso é um crime!

Benjamin a colocou com cuidado na cama e contou uma história de super-herói — que ela não gostou muito porque o super-herói morre no fim — e aos poucos ela foi se entregando ao sono.

— Você é um péssimo contador de história, sabia? — falei me sentando na cadeira de rodas.

— Se você contar uma boa história para um criança, isso vai estimular o cérebro dela e vai fazer ela ficar agitada e sem sono. Porém, se contar uma história chata ela vai se entediar e pegar no sono. Não subestime minha capacidade, eu sou médico! — ele foi falando enquanto empurrava minha cadeira.

O irmão da minha melhor amiga 2 Onde histórias criam vida. Descubra agora