Kate
Alissom não estava mais na nossa nova casa, ele havia ido buscar mais caixas para prosseguirmos com a mudança. Eu só tinha que colocar as coisas de bebê da Duda no sótão, mas eu estava com medo, ele sempre me contava histórias horríveis quando éramos crianças.
Abri a porta e entrei, estava escuro e empoeirado.
— Ótimo! Agora eu vou morrer de alergia. — resmunguei para mim mesma.
Acendi a lanterna do meu celular e coloquei as caixas no canto, mas antes de sair, observei por alguns segundos aquele lugar. Ele não parecia tão assustador, estava totalmente cheio de coisas de Alissom e Agnes crianças.
Bicicletas, patinetes, berços e brinquedos diversos. Caixas e caixas de louça antiga de porcelana, muito sofisticadas, e um baú lacrado. Um baú lacrado? O que teria de tão importante lá dentro pra ele ter sido lacrado? Seria muita petulância minha, abrir algo que não era meu? Sim, seria.
Entretanto, eu tinha crises de ansiedade, então ,com certeza, o Alissom iria entender se eu o abrisse sem sua permissão, mas eu seria uma péssima noiva. Mas infelizmente, minhas pernas e meus braços se mexeram involuntariamente , movidos pela curiosidade e me fizeram arrastar o baú até a sala, e ele quase despencou da escada.
— Eu espero que não tenha nada que seja frágil, porquê se tiver, já deve estar em pedaços. — falei, enquanto o arrastava pelo chão.
Minha mente ficou dividida entre abrir o baú e satisfazer a minha curiosidade, ou não abrir porque não era meu e eu era uma ótima pessoa. Seria muito rude da minha parte abrir aquele baú, pois poderia ser uma coisa importante para a família de Alissom, e eu estava nesse momento querendo me meter.
Na pior das hipóteses, poderia ser uma boneca assassina que iria me perseguir até eu morrer. O que eu poderia fazer? Simplesmente ignorar aquilo como se eu nunca tivesse visto? Eu, com certeza, nunca mais dormiria tranquila sem saber o que tinha dentro.
— Alô? — a voz de Agnes estava sonolenta.
— Ei, Agnes, te acordei?
— Sim, são oito horas da manhã. Meus bebês não pararam de mexer a noite toda, faz dias que eu não durmo direito.
— Me desculpa, deve ser bem difícil. Então, é melhor você levantar e vir aqui me ajudar, achei algumas coisas de bebês de você e do Alissom. — mordi o lábio. Não era certo eu acordar uma grávida de gêmeos, no último trimestre, apenas pra abrir uma caixa.
— Tudo bem, chego em dez minutos. — ela desligou.
Eu era uma péssima madrinha.
Ver Agnes grávida era como enxergar a minha melhor amiga, com cinco anos, caindo do balanço da escola. Não conseguia enxergar ela como as mães do filmes, ou a minha mãe, eu só conseguia ver a garota que uma vez derrubou um tubo de cola em si mesma. Mas ela estava tão linda, ainda mais com aquele barrigão, com dois bebês a caminho.
Com essa palhaçada que ela inventou de não saber o sexo do bebê, acabamos descobrindo agora pouco, que eram gêmeos. E foi então que eu entrei em pânico junto com Agnes, tanto ela como eu, sabíamos que não seria fácil cuidar de um bebê, sabíamos que eu teria que ajudá-la, pois eu cuidei de Duda facilmente, mas eram dois bebês, duas crianças.
Mas, ainda tínhamos umas duas semanas pra pensar nisso. E no momento eu estava preocupada com outra coisa.
— Eu quero comer cenoura. — Agnes disse, assim que abri a porta.
— Eu quero que a minha mãe seja legal.
— Kate, meus filhos não vão nascer com cara de cenoura. — ela andou até a cozinha, pegou uma cenoura inteira e começou a comer.
— Não quero que meus filhos nasçam com a cara da minha mãe!
— Meus pés estão enormes, minhas mãos estão enormes. Eu estou enorme! — ela se atirou no sofá.
— Você está grávida, Agnes. — arrastei a caixa até os pés dela — Sabe o que é isso? Sabe como abrir?
— Onde você achou? Ah, meu Deus! Pensei que estava perdido. — ela apalpou o peito e tirou um colar em formato de chave que sempre usou — Essa é a chave, toma aqui. Abre logo, eu quero ver.
— Tá bom, eu ja vou abrir! Mas o que é? — perguntei, girando a chave na fechadura.
— Era o baú de vestidos importantes da mamãe. Tudo começou com o vestido em que ela deu o primeiro beijo no papai, e nunca mais conseguiu usá-lo em outro lugar, a não ser quando estava com o papai. Aí ela o guardou, e continuou guardando os outros vestidos importantes.
Abri a tampa do baú lentamente, e o primeiro vestido que vi era vermelho. Um vestido muito bem cuidado, com uma saia rodada até o joelho.
— Onde ela usou esse? — perguntei.
— No noivado dela, era o seu vestido favorito. — Agnes sorriu — Procura um vestido amarelo, cheio de girassóis, por favor.
Mexi nos outros vestidos, com todo o cuidado para não estragá-los ou amassá-los, e achei o vestido que Agnes queria, e o entreguei, mas logo em baixo desse, uma caixa retangular toda cheia de renda, estava a vista.
— Esse vestido amarelo foi o que mamãe usou quando estava na maternidade. Ela usou nas duas vezes, como uma tradição.
— E você vai usar também, e continuar a tradição. — sorri.
Enquanto Agnes curtia seu devaneio, meus dedos trabalhavam para retirar a caixa retangular de dentro do baú. Ao abrí-la, meus olhos brilharam, era o vestido de noiva da mãe de Agnes.
Senti uma conexão muito forte com ele, e nem sei se era possível ter conexão com uma roupa, mas se fosse, tinha acabado de acontecer.— Ah! O vestido de noiva da mamãe! — Agnes suspirou.
— Ele é simplesmente... perfeito!
— Kate, acho que achamos seu vestido de noiva! — ela se levantou do sofá.
— Mas é da sua mãe...
— Kate, mamãe sempre quis que você namorasse o meu irmão, ela com certeza adoraria que você usasse o vestido dela. Vai, experimenta ele pra eu ver. — ela me empurrou.
O vestido tinha uma cauda enorme, mas nem se comparava à cauda do veú coberto de detalhes em renda. Era rendado na frente, no estilo ombro-a-ombro, com muitos bordados, e se ajustou completamente à minha cintura. A saia não era muito volumosa, e era coberta de brilho, até a barra que também tinha bordados em renda.
— Você está linda! Ele ficou perfeito em voc... — Agnes arregalou os olhos.
— O que foi? Eu rasguei o vestido? — olhei por todo lugar do vestido para verificar o que eu havia feito.
— Eu acho que fiz xixi na calça. — Agnes olhou para baixo e viu suas pernas molhadas — Muito xixi!
— Ai meu Deus! Sua bolsa estourou! — AI MEU DEUS.
— Você acha? — ela começou a se contorcer.
— Vamos manter a calma, nada de desmaiar agora, Kate. — falei para mim mesma.
Manter a calma, que ilusão!
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O irmão da minha melhor amiga 2
Teen FictionDepois de quase 6 anos, o mundo dela virou de cabeça para baixo. Uma filha e muitas descobertas. Novas paixões, novas surpresas; novos sentimentos. A baixinha marrenta que achava que a vida adulta era mais fácil; descobriu que estava errada... Não é...