— Mãe, eu não sei a diferença desse tom pra esse. Pra mim, todos são brancos. — eu disse, o que deixou ela muito irritada.
— Não, Kate! É o seu casamento, você tem que saber diferenciar os tons. Ah, por favor, você foi dama de honra de todos os casamentos da família! — ela bateu com a revista na minha cabeça.
— É, eu me lembro muito bem da minha vida com seis anos. A única coisa que eu me lembro desses casamentos, era que eu sempre acabava de castigo por ficar correndo na igreja.
— Mamãe. — Duda desceu as escadas, com sua camisola de ursos.
— Oi, minha pequena. — peguei ela no colo — Eu e a vovó te acordamos?
— Eu tive um pesabelo! — ela disse, e sua voz ficou manhosa.
— Ela já tá grandinha pra falar as palavras errado, não está? É pesadelo, Duda. — minha mãe disse — E isso é hora de estar dormindo? Como vai dormir à noite?
Com os olhos.
Calma, Kate. Você não pode matar a sua mãe, isso é crime. Não faça isso.
— Quem bom que a mãe dela sou eu, não é? — falei, e ela revirou os olhos.
— Pega a sua bolsa! — ela disse, e parecia disposta a me mostrar algo.
— Eu não tenho uma.
— Mas que... — ela segurou um palavrão.
Mamãe vestiu uma roupa em Duda, e em seguida, nos arrastou porta fora.
Ela tinha uma Range Rover prata, e estava constantemente dizendo que queria trocar de carro.O bairro onde eu morava era simples, assim como as casas. Mas o bairro em que nós estávamos agora, com total certeza, estava à um ou dois patamares acima do meu, ou seja, bairro de gente com dinheiro.
As casas estavam ficando cada vez mais altas e perfeitas, junto com a simetria das gramas e os carros caros nas garagens.
Mamãe finalmente estacionou, e para o meu desespero era uma loja de noivas.Faltavam seis meses, eu não precisava disso agora! Ah, que tortura!
Assim que entramos na loja, fomos recebidas com muitos beijos e berros histéricos. Falsidade é um brinde que vem junto com a fortuna.Uma mulher alta, parecia ter uns quarenta anos, muito bem vestida por sinal, veio até nós e deu um abraço em mamãe.
— Que linda está a sua filha! Uma verdadeira mulher — ela apertou minhas bochechas.
— Linda, não é? Puxou a mim. — minha mãe deu um sorriso orgulhoso.
Eu não era parecida com a minha mãe, definitivamente! Meus cabelos eram castanhos, assim como os meus olhos, e os cabelos dela eram loiros e seus olhos cor de mel, com uma faixa verde em volta da íris.
Dei um sorriso pra mostrar o mínimo de entusiasmo, mas então ela perguntou sobre a Duda.
— E essa deve ser a dama de honra.
— Não. — minha mãe falou rapidamente.
— Como não? Ela vai sim, moça. — retruquei, o que fez minha mãe me enforcar mentalmente.
— Quem sabe nós damos uma olhada nos vestidos? — a mulher disse, vendo que iria começar a terceira guerra mundial.
— Ótima ideia, Vera! — minha mãe bateu palminhas, como se fosse criança.
— Tem algum modelo em mente? — Vera perguntou.
O modelo que eu tenho em mente, com certeza não tem aqui. PORQUE ESSA LOJA DEVE SER MAIS CARA QUE O MEU ALUGUEL.
Eu não estava animada. Minha mãe conseguiu monopolizar o assunto todo, não era assim que eu imaginava meu casamento. Não era nessa loja cara, que eu ia encontrar o meu vestido...
— Veja, está uma princesa! — ela disse, ao me ver sair do provador com um vestido que mais parecia o próprio bolo.
Ele era cheio de saias, e o corpete era apertado. Muito apertado! Não sei, não entendi, as noivas não respiram?
Minha mãe parecia ter ganhado na loteria, pois seu rosto estava iluminado.Troquei o vestido, e desta vez ele era justo. O vestido era bonito, cheio de pedrinhas que pareciam tão frágeis ao toque, mas ele não era o meu vestido.
Algumas horas se passaram, e a minha vez de experimentar já tinha passado. Duda agora, estava arrasando corações com sua beleza.
Estava com um vestido ombro a ombro e com o peito cheio de pedrarias. A saia era bem volumosa, cheia de brilho e com um laço atrás da cintura que chegava ao chão.Esse era o vestido perfeito para a minha pequena.
— Você gostou, Duda? — perguntei.
Ela acenou freneticamente com a cabeça.
— Eu pareço uma pincesa.
Parecia mesmo. A minha princesa.
— Então, vamos querer esse.
Vera sorriu e levou o vestido para registrar o aluguel. Mamãe se meteu e disse que iria pagar, e não deixou que eu visse quanto custava.
— Kate, Vera perguntou qual dos vestidos você escolheu. — Mamãe apareceu no provador, enquanto eu ajudava Duda a se vestir.
— Nenhum, isso não é óbvio? — eu estava de costas amarrando o tênis de Duda, mas pude sentir o olhar mortal que ela me lançou.
— Você experimentou todos os vestidos da loja, Kate! Como não gostou de nenhum? — ela ralhou.
— Mãe, por favor.
Eu estava triste. Não, eu estava chateada! Eu nunca fui de ficar idealizando o meu casamento, mas é claro que eu tenho uma ideia de como queria que ele fosse.
Não quero que ele seja numa igreja gigante, pra convidar todos os parentes que a família da minha mãe tem; eu quero simplicidade, mas ninguém parecia estar disposto a me ouvirO trajeto para casa foi silencioso, pois parecia que a Dona Deise estava me dando um gelo. Eu não ligo se ela acha que está certa, até agradeço se ela nunca mais falar sobre esse casamento. Só que eu não posso ficar brigada com a minha mãe, pelo simples fato de ela ser a minha mãe.
Cheguei em casa carregando Duda no colo, ela havia dormido. Minha menina estava ficando grande para eu poder carregá-la.
Coloquei ela na cama e me joguei no sofá.Alguns pensamentos começaram a me corroer por dentro. Quando se é adolescente, quanto mais maluco e diferente você for, mais as pessoas vão gostar de você. Quando você é adulto, se não segue o padrão da vida bem sucedida, então não é bem vindo e começa a ser excluído do ciclo social.
Eram tantos problemas pra eu poder resolver sozinha. Tantas coisas ruins acontecendo que as boas não tem tempo para superar. Quando me dei conta, meu rosto estava encharcado e eu soluçava compulsivamente.
Eu chorei por tudo o que eu não pude chorar quando era criança: por ter opinião e pensamentos diferentes da minha mãe.
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O irmão da minha melhor amiga 2
Teen FictionDepois de quase 6 anos, o mundo dela virou de cabeça para baixo. Uma filha e muitas descobertas. Novas paixões, novas surpresas; novos sentimentos. A baixinha marrenta que achava que a vida adulta era mais fácil; descobriu que estava errada... Não é...