Primeira filha

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Eu passei a semana toda procurando igrejas e lugares para o meu casamento. E é estranho quando perguntam se eu e o Alissom somos os noivos, porque o meu cerebro não me obedece, e acontece mais ou menos assim:

- E vocês são os noivos?

- Não - e então o Alissom e o  cerimonialista ficam me olhando, e eu me xingo mentalmente -  Quer dizer, sim. Desculpa, eu ainda não me acostumei.

E ninguém me disse que casar é muito caro! E chato também. Quer dizer, é muito detalhe pra acertar e todo mundo fica falando sobre damas de honra, alianças, madrinhas e padrinhos, decoração, tipo de flores, cor do tapete, paleta de cores dos vestidos  das madrinhas, luzes, lugares, pastores e todo o resto que é MUITO CHATO.

- Eu nem tenho amigos, como vou arranjar oito padrinhos? - choraminguei - Meu pai pode ser padrinho? - falei, caindo sobre a lista em branco no caderno.

- Kate, você tem muitos amigos, para de drama!

- Ah, sim! Por muita coincidência, os meus amigos são os mesmos que os seus, então não vai dar certo!

- Calma, ainda é cedo pra pensar nisso. Nós estamos apenas vendo os lugares, você sabe que a nossa situação finaceira não é das melhores, então vamos ter que esperar um pouco pra esse casamento.

Eu sabia disso, e eu estava completamente de acordo com o tempo proposto por ele, pois eu não tinha pressa e nós tínhamos todo o tempo do mundo. Bom, nós tínhamos,  porque eu inventei de contar pro meu pai, e ele não aprovou.

- Como assim esperar? - ele fez uma cara feia.

- Pai, a reforma na casa vai consumir todas as economias do Alissom. E eu não tenho mais emprego! O casamento vai ter que esperar.

- Kate, você é a primeira das minhas filhas que vai casar, você acha mesmo que eu vou deixar você ficar dois ou três anos noiva, só por causa de dinheiro? Não mesmo, eu sou o pai, eu vou pagar a festa - isso era tão previsível.

- Eu não vou deixar você pagar o meu casamento. - ele bufou-  Pai, você me deu minha primeira casa, me ajudou a pagar as parcelas do meu carro e compra todos os materiais escolares da Duda. Você não é um banco! Não vou recorrer a você quando eu não tiver dinheiro!

- Kate, eu sou seu pai, não um banco. Eu tive que me segurar pra não continuar pagando o aluguel do apartamento, e tive que me segurar pra não dar várias coisas pra Duda, pois eu respeito o seu espaço, eu respeito a sua independência. Eu te dei a casa e deixei você conquistar sua independência sozinha, porque confio em você, mas agora, minha princesa, a questão é o seu orgulho.

- Orgulho? - arqueei a sobrancelha.

- Você está sendo orgulhosa! O que tem de mais em um pai querer dar a festa de casamento da filha? Não vai afetar em nada na sua independência, pare de ser teimosa!

Revirei os olhos. Ele estava certo, mas eu podia esperar dois ou três anos, tempo não era problema!

- Eu não quero que você pague a minha festa! - ele colocou os dedos na ponte do nariz.

- Pois bem, vamos fazer um acordo! Eu pago a sua festa de casamento, como se fosse um empréstimo. E você me paga um determinado valor todo mês, fechado? - ele era bom.

Pensei por alguns segundos, e então concordei.

- Mas você vai ter que fazer um contrato, e eu vou assinar - ele revirou os olhos - É a minha condição! E eu vou organizar tudo, você não vai mexer em nada!

- Da onde você saiu tão teimosa? Por Deus!

Por ele, óbvio.

- Eu não sei, talvez eu seja adotada - brinquei.

- A Mel dizia isso pra você, quando eram pequenas. E olha agora! Uma fazendo faculdade de moda, e a outra vai casar! Oh céus, eu estou ficando velho.

Me senti um pouco incomodada com a frase "uma fazendo faculdade e a outra casando", pois não era o posto que eu queria... eu queria ter sido a primeira médica da família, cursando medicina numa faculdade federal, passando no ENEM em primeiro lugar, queria ter sido a filha que não faz um curso alternativo porque acabou mãe por acidente e não tinha direito pra se sustentar.

Eu queria mais do que o título "primeira das minhas filhas a casar". O casamento era importante pra mim, óbvio que era, mas eu também queria ter um emprego que me deixasse extasiada, apaixonada e satisfeita. Eu queria a faculdade, e eu tinha que lutar por isso.

Só que agora, eu tinha que arranjar um jeito de conciliar ser mãe, organizar um casamento, uma reforma, estudar pro vestibular, arrumar um novo emprego e ajudar Vitória com a mudança pra Campo Grande.

Eu estava perdida, com certeza.

O irmão da minha melhor amiga 2 Onde histórias criam vida. Descubra agora