...Três anos depois
Hoje é meu aniversário de dezesseis anos, e não me parece uma data especial. É mais um dia normal como todos os outros. "Como é ter dezesseis anos?"- vovó perguntou hoje pela manhã quando invadiu meu quarto e destrancou a sacada fazendo com que a luz do sol inundasse os meus olhos. "É exatamente como ter quinze, ou catorze."- respondi enquanto enfiava o rosto debaixo do travesseiro.
Infelizmente fui forçada a me levantar cedo na manhã do meu dia especial, para caminhar pelo jardim. Isso mesmo. Minha vó me acordou cedo apenas para caminhar no jardim. Forcei meu corpo a se levantar e fui tomar um banho na tentativa de me acordar. É isso que acontece quando você dorme tarde tentando buscar maneiras inúteis para fugir do seu quarto.
Coloquei um vestido velho floral e uma sapatilha rosa. Passei a mão para pentear os meus fios curtos e me olhei no espelho. Para uma garota que foi desfavorecida pela genética eu até que estava bonitinha. Assim, para cumprir o meu papel de adolescente rebelde eu nunca usaria aquela roupa rosa, mas vovó insistia em me ver naquele vestido antigo. Quer dizer, meu corpo é um tanto magro demais e as curvas são tão singelas e tímidas que nem chamam atenção. O cabelo é castanho e ondulado, descendo em fios rebeldes um pouco acima do meu ombro. Tenho uma altura normal considerada normal, nem alta, nem baixa, na média. Um rosto oval afinado com sardas que pintam as minhas bochechas de um lado a outro. Olhos castanhos grandes e um nariz arrebitado com uma bola gordinha na ponta, finalizando com lábios médios levemente rosados.
Basicamente eu sou mais uma daquelas combinações aleatórias de genes, que não inovam em nada e que se parecem com mais outras milhares de combinações aleatórias. Uma garota normal e até mesmo invisível, daquelas que se você procurar bem vai conseguir achar na esquina de casa, na biblioteca da escola, ou até no cinema chorando por filmes açucarados- que eu adoro, diga-se de passagem.
Acompanhei aquela senhora da minha altura, com cabelos loiro escuros curtos e olhos azuis. Ela tinha a postura ereta, cabelos penteados meticulosamente para trás sendo segurados por uma tiara preta discreta. Jane Darling ou vovó- como eu prefiro chamá-la- usava um vestido cinza de corte meio quadrado o que a deixava ainda mais séria e amedrontadora.
-Então Adaline...- ela disse enquanto dávamos a quinta volta no jardim minúsculo do nosso casebre. - ...eu preciso te entregar uma coisa.
Ela parou e segurou as minhas mãos. Seus olhos estavam prestes a irromper em lágrimas. Eu nunca tinha visto a minha avó daquela maneira. Ela sempre foi tão séria e distante.
-Nossa você se parece muito com a sua bisavó Wendy. - ela disse enquanto pegava algo do bolso do vestido. - Eu sabia que o vestido antigo dela ficaria bom em você.
Minha bisavó Wendy foi a garota que inspirou J.M Barrie a escrever Peter Pan. Ela e os irmãos Miguel e João foram sequestrados quando crianças e foram achados caminhando em direção a sua casa uma mês depois, sujos de terra e com alguns pequenos arranhões e hematomas. Na época o sumiço e o reaparecimento das crianças virou o maior mistério e a grande novidade em Londres. A família ficou sobre o centro dos holofotes da sociedade inglesa e do mundo. Todos queriam saber o que tinha realmente acontecido naquele mês estranho. Entretanto quando questionadas as crianças não paravam de gritar e contar sobre as aventuras do menino voador, tinham conhecido um pirata malvado, lutado com índios, voado com as fadas... Os médicos disseram que essa foi a maneira que os três irmãos acharam de se livrar dos horrores que haviam passado, se escondendo e transformando tudo e todos que viram em personagens de fantasia. O advogado da família J.M. Barrie que também era padrinhos dos garotos resolveu escrever a estória que eles contavam, adicionando pequenas modificações e foi assim que nasceu o clássico infantil Peter Pan.
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Me Leve Para A Terra Do Nunca ( EM REVISÃO)
Fantasy#1 em peter pan 25/6/2019 #3 em fantasia 5/01/2020 #3 em aventura 10/5/2018 #7 em romance 22/7/2019 #9 em mistério 28/12/2018 Adaline Darling nunca se sentiu verdadeiramente parte de algo. Talvez fosse a orfandade ou a crianção rígida da vó, quem...