Capítulo 16- Acredite em sí.

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Não foi difícil completar os desafios dos outros garotos. Takashi conhecia todas as plantas, as que podiam ser comidas e as que não, ele também era um ótimo estrategista e conhecedor do território, tenho certeza que teria demorado dias ou quem sabe a vida toda para achar a pedra dele se Sininho não tivesse me levado direto ao pódio. Escondeu um rubi vermelho como sangue junto a frutas igualmente parecidas que nascem aqui.

São pequeninas e tão vermelhas que parecem ter sido pintadas com sangue, tem um formato curioso de gotas e seus frutos ficam pendurados nos galhos dando a impressão de lágrimas. Sininho me disse que são mais doces e gostosas do que qualquer coisa no mundo mas também são igualmente letais. Quem as ingere adormece em segundos e morre tranquilamente como se tivesse ido dormir. Ficou conhecida como beijo da morte.

A jóia estava entre as frutas e o único trabalho que tive foi de diferenciá-la, o que mesmo assim me custou uma hora e meia. Depois foi a vez da tarefa de Donkor, descobri que dos meninos ele era o mais furtivo. Conseguia se esgueirar pela mata sem ser visto, ouvia os rumores e os segredos de todos, podia estar em todos os lugares sem realmente estar ali. Era o mais volúvel dos garotos.

Sua jóia era uma esmeralda, estava escondida dentro de uma toca de gato selvagem, estava lá dentro, no meio dos filhotes e agradeci a deus pela mãe estar longe o suficiente. Tive que fazer silêncio e não pude gritar quando enfiei minha mão na toca em meios aos filhotes. Fui rápida o suficiente mas isso não impediu aquelas bestas pequenas de me arranharem com suas garrinhas afiadas.

Quando retirei minha mão tinha nela a cintilante pedra verde manchada pelo sangue da minha mão cheia de cortes. Meu colar começou a brilhar e a luz azul irradiou por debaixo da minha blusa. Tantas coisas tinham acontecido desde que cheguei aqui, que me esqueci de que estava com ele.

-O que é isso?- Sininho disse voando na direção do meu peito e pegando o medalhão.

-É só um colar que ganhei da minha avó.- respondi pegando o pingente brilhante de suas mãozinhas pequenas. Segurei forte com minha mão machucada e a luz aumentou por alguns momentos antes de desaparecer totalmente. Depois só restou sangue seco.- Vamos. Onde está o próximo desafio?- digo me levantando de súbito, guardando a joia e voltando a caminhar em direção a mata.

-Mas ele te curou.- ela disse voando do meu lado para tentar acompanhar os meus passos. – Isso nunca aconteceu com nenhuma delas. Nem com Wendy, nem com Jane.

-Está falando besteiras. Ele me curou e daí?- digo colocando o medalhão dentro da minha blusa para tirá-lo de sua vista.

-Esse negócio ai dentro é pó de fada. Ele faz com que os humanos voem, mas quando em contato com seres daqui, da Terra do Nunca, ele faz mas que isso. Potencializa as habilidades mágicas. Ele nasce da árvore anciã, é a fonte da vida de todo esse lugar, um pedaço da mãe de todos...- ela pareceu pensar por um momento, sua feição mudava, os lábios se apertavam nervosos e franzia a testa com força.- Mas ele te protegeu, ele te curou. Então isso quer dizer que você...- seus olhos se abriram em espanto e sua boca se escancarou.

-...Que eu?- continuei na esperança de que ela terminasse o raciocínio.

-Nada, isso deve ser besteira.- disse por fim e me virei para ela de súbito com uma vontade de gritar.

-Nada? Nada Sininho? Sério?- perguntei indignada elevando o tom da minha voz.- Eu já estou começando a ficar cansada disso tudo. Exausta. Desde que eu conheci o Peter e vim pra cá, todos começam a dizer coisas e não terminam. "Você vai entender mais tarde." "Vai saber quando for a sua hora."- eu disse imitando a voz de outras pessoas.- Não quero mais isso. Não aguento mais ficar sem saber de nada. Me sinto cada vez mais desconfortável rodeada de tantos segredos.- respondi diminuindo o meu tom de voz quando percebi que estava gritando. De certa forma, foi bom poder desabafar.

Me Leve Para A Terra Do Nunca ( EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora