Me Leve Para A Terra Do Nunca ( EM REVISÃO)

Capítulo 39- Um banho quente não faz mal a ninguém.

-Não acredito que dormi com você.- digo olhando-o de baixo para cima com asco. – Eu fui burra a ponto de entregar o meu coração pra uma pessoa que não fez nada além de me usar...-bato com as mãos na minha cabeça, diversas vezes me martirizando.

-PARA COM ISSO!-Peter disse se aproximando de mim segurando o meu pulso com força, impedindo os meus braços de me baterem mais e mais.- EU NÃO MENTI PRA VOCÊ ADALINE! NÃO ESTAVA NOS MEUS PLANOS ME APAIXONAR POR VOCÊ MAS ACONTECEU! EU TE AMO E VOCÊ ME AMA, SABE DISSO.

-ME SOLTA!- grito e me afasto dele, fugindo da sua presença e do aperto das suas mãos. Cambaleio alguns passos para trás. Não há palavras suficientes capazes de descrever a zona de sentimentos e pensamentos que me habitam. Tenho vontade de gritar até ficar rouca. –MENTIRAS E MAIS MENTIRAS!-não consigo acreditar que depois de tudo isso ele ainda insiste em dizer que me ama, está na cara que é mais uma falácia. Peter só ama a si mesmo.- EU ME APAIXONEI PELO PETER PAN E NÃO PELO CROCODILO! –grito de volta e vejo quando minhas palavras batem duras contra os seus ouvidos. Ele fecha os olhos e respira fundo tentando recuperar a sanidade por alguns instantes. Quando os olhos verdes azulados se abrem eu não sei dizer se ele está magoado ou apenas com raiva. Talvez os dois.

Milhares de palavras se formam, frases que gritam para sair, sentimentos e sensações que de maneira precária lutam para transparecer, se transformar em algo minimamente lógico. Um nó se forma na minha garganta e eu entreabro a boca para fazer jorrar toda essa chuva confusa de sentimentos mas nada vem. Giro nos calcanhares e saio a correr pela praia rumo para a aldeia. Não sei a onde vou, só quero sair daqui.

Meus calcanhares se prendem na areia como se estivessem sendo segurados e caio violentamente batendo a cabeça no chão. Levo minhas mãos a testa tentando cessar a dor e a tontura. Vejo Peter parado aonde eu o havia deixado antes dessa tentativa falha de fuga. Há uma grossa mancha preta que se estende dele até mim, parando logo abaixo dos meus pés. Remexo-me desesperada, querendo voltar a correr mas não consigo, sinto uma dor excruciante nos calcanhares.

-Não posso deixa-la ir embora Adaline. Me desculpe, mas não pode contar nada disso aos outros. – ele diz e entendo o que é aquilo. É a sombra dele que me segura. A sombra que vi no outro dia.

Uma bola de fogo surge cortando a noite escura e atinge a sombra negra no chão que solta os meus pés e se retorce inteira voltando para Pan com rapidez. Ele solta um gemido alto de dor, arfando, fazendo parecer que a chama também o havia atingido . Em seguida uma flecha sai zunindo do meio do mato, atingindo-o no ombro fazendo Peter gritar de dor, enquanto sangue escorre pelo ferimento manchando a blusa de linho branco num tom vermelho escarlate.

Um garoto encapuzado surge correndo da lateral esquerda da praia na minha direção, seguido por uma mulher. Ele corre até mim e segura meus braços rudemente, apertando com força os meus pulsos, puxando-me para cima.

-CORRE!CORRE!CORRE!-ele grita nos meus ouvidos me empurrando para frente com tapas duros nas costas.

Instinto domina o meu corpo, as pernas começam a se mexer sozinhas disparando pela areia na praia sem se importar se por dentro estou tremendo e não tenho força para levantar. Disparo para a aldeia, o garoto correndo ao meu lado, alguns passos a frente e a mulher na retaguarda. O vento bate cortando o meu rosto com seu bafo gélido, bagunçando os meus cabelos, transformando os fios num ninho de passarinho. Esse mesmo vento assopra o capuz do garoto e mesmo assim ele não para de correr.

Lorenzo segue na minha frente, o arco e flecha pendendo nas suas costas. Sinto cheiro de fumaça e viro por segundos a cabeça para trás para encontrar Trixie na retaguarda. Está usando um manto vermelho fino que lhe cobre o vestido branco e o rosto. Ela está descalça e cada passo que dá na praia faz surgir uma trilha de fogo que vai consumindo a areia e aumentando, criando uma barreira.