Capítulo 35- Sombras no fogo.

2.8K 302 279
                                    

Era tarde quando deixei a Vila dos Piratas rumo a árvore do Nunca. Já era noite e a lua era a única coisa que iluminava o meu caminho. Apertei o passo. Não podíamos ficar fora quando a noite chegava. Era perigoso.

Engoli em seco, estava com uma sede tão forte que a saliva já não bastava. Cada célula do meu corpo estava dolorida pelos exercícios dos últimos dias. Trixie tentava me ensinar a controlar a magia, fazê-la fluir, moldá-la. Era sempre inútil. Estávamos na mesma coisa a duas semanas e nada acontecia.

Me sentia completamente estúpida. Ficava olhando uma vela todos os dias focalizando a minha visão ali no pavio tentando fazer fogo ou quem sabe, olhando em algum pedaço de terra vendo se eu conseguia fazer nascer alguma flor. Sabe isso é complicado. Você vê no filme, nos livros, as pessoas com poderes olham as coisas e com o poder da mente conseguem realizar feitos insanos. Agora para nós reles mortais... tudo que eu ganho é uma dor de cabeça ferrada.

Trixie havia me dito que eu preciso achar o meu poço de energia, entrar em contato com ele. Descobrir como tocá-lo e moldá-lo. Ela me havia contado que sentia a energia vibrando ao meu redor em todas as minhas tentativas falhas. Era uma linha tênue de energia, camuflada, lenta, disfarçada um quase nada.

O fogo crepitava do lado de fora da árvore do nunca. Conseguia ver as sombras dos meninos sendo projetadas nas árvores. Peter flutuando um pouco acima deles parecia gritar.

-ONDE ELA ESTÁ?- ele gritou com a voz grave ecoando como um trovão pela floresta escura.

Calafrios subiram a minha coluna instantaneamente.

-Não sabemos.- Donkor erguendo a voz com um pouco de coragem, dando um passo a frente em direção ao líder. Pelas sombras dava pra ver que os garotos estavam todos juntos num pequeno montinho no chão, aglomerados, contra Peter que se postava a um patamar superior no ar inclinado sobre eles. Sininho voava oscilando pra cima e pra baixo do seu lado.

-Ela sempre some durante a tarde.- Yakecam falou se impondo para apoiar o colega. –Tem seus segredos, assim como todos nós.

-Mas ela nunca chega muito tarde, sempre volta ao pôr do sol.- Takashi falou por sua vez, como o menor dos mais velhos tentando apaziguar a situação.

-Não me importa! Vocês tem que ficar de olho nela!- sua crise de raiva foi interrompida por uma série de tosses sôfregas que irromperam do peito.

Ainda em meio a crise ele desceu ao chão como se perdesse as forças e suas pernas fraquejaram quando seus pés tocaram o solo. Peter caiu de joelhos sobre o chão poeirento. Preocupados os garotos avançaram sobre ele oferecendo mãos que o ajudassem a se levantar. Pan ergueu a sua em resposta em protesto e cambaleando se levantou sozinho. As tosses haviam parado, por agora.

-Mandei que vocês ficassem de olho nelas e me desobedeceram. O que acha que eu devo fazer com vocês?- bradou raivoso, uma ameaça velada entre as suas palavras.

Estava encoberta pela escuridão observando a cena. Peter obviamente estava muito mal. Tinha a postura curva cansada, os olhos verdes azulados tão brilhantes pareciam apagados e se afogavam em sombras negras ao seu entorno. Os lábios levemente repuxados para trás numa expressão ranzinza. As roupas pareciam lhe cair mal, o brilho dos cabelos haviam indo embora e os cachos cor de cobre caiam murchos sobre a sua testa. Estava branco demais para um garoto que tomava sol todos os dias.

-Hein?! Não fiquem me olhando assim. Respondam! O que acham que eu devo fazer com vocês?- falou de novo, os olhos fuzilando cada um dos garotos. Sininho quieta, sobrevoava os dois grupos aturdida, sem saber direito onde deveria ficar.

-Você não vai fazer nada com eles.- disse saindo da escuridão e me expondo a luz da chamas, me coloquei em frente aos meninos perdidos, quase como uma mãe protegendo a sua prole. Afinal, pelo menos os três mais novos literalmente me chamavam de mãe.

Me Leve Para A Terra Do Nunca ( EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora