Capítulo 14- Logo após a curva do rio - REVISADO

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"O que eu gosto no rio, é que ele nunca está igual.

A água é sempre livre e vai correndo.

Mas não podemos viver assim,e este é o nosso mal.E o pior é que acabamos não sabendo..."

-Pocahontas.

Entrei na Árvore do Nunca e Peter me apontou uma das perfurações na parede coberta por folhas. Não consigo olhar para ele diretamente então tudo o que faço e assentir com a cabeça. Meus pés caminharam o mais rápido possível –sem parecer desesperada- para dentro do quarto.

Afasto as folhas e entro, o cômodo é pequeno. Uma tocha presa a parede ilumina o recinto e de certa forma projeta a minha sombra contra a parede de folhas.Tem uma rede pendurada entre duas paredes- imagino que é ali onde eu devo dormir- com um travesseiro de palha (que não parece nem um pouco confortável) e um baú pequeno encostado no canto do quarto e ao lado dele a minha mochila e o meu casaco marrom. Achei que tinha perdido os dois enquanto despencava pelo céu, mas por algum motivo milagroso eles estão aqui.

Corro até a minha mochila e agradeço  mentalmente a quem quer que a tenha trazido. Abro e pego o meu pijama não tardando a arrancar aquele vestido apertado que eu estava usando. Sinto que pela primeira vez naquela noite consigo respirar de verdade. Tiro a faixa que estava envolta dos meus seios e consigo ouvi-los gritando Aleluias e Améns. Não adianta querer me vestir de Wendy, eu não sou ela. Isso não sou eu. 

Coloco a calça de moletom larga e a minha blusa grande e confortável que tinha a imagem do Pernalonga e do Patolino juntos. Pego o meu celular que por algum motivo eu trouxe, mesmo sabendo que não vai adiantar nada –ao menos que aqui tenha eletricidade e wifi- o que não é o caso.

Desbloqueio o celular e observo a tela dele. Está com 57% de bateria e nenhum sinal de 3G.Sei que não vai durar muito mais do que essa noite então nem me preocupo e o largo dentro da mala.

Juntamente com a foto que separei de vovó e Mabel- apertando-a contra o peito- e deito angustiada na cama sem esquecer as palavras de Lorenzo que me tiram o sono: Vá embora enquanto você tem tempo, enquanto ainda tem a sua sombra.

Essas palavras martelam na minha cabeça e tento decifrar o significado delas. Talvez tenha sido um aviso, mas muito provavelmente Lorenzo só quer me assustar. Ele aparentemente me odeia sem nenhum motivo e desde que cheguei  aqui não me dirigiu sequer uma palavra simpática.

Deito-me na rede e apoio  a minha cabeça no travesseiro de palha, é estranho e a palha pinica a minha cabeça, mas estou cansada demais para ligar. Sinto-me tentada a revisar o dia de hoje e meus últimos acontecimentos mas descido não me incomodar com isso. Pensar demais só me traria mais preocupações e no momento eu não queria me preocupar com nada.  Assim, caio em um sono sem sonhos.

...

Duas pestes entram no meu quarto correndo e gritando e passam a me chacoalhar com a suas pequenas mãozinhas até que sou obrigada a me retirar daquele estado maravilhoso de moleza eterna que é dormir.

-Acorda! Acorda! Acorda!- os dois gritam em uníssono, não devem ser nem oito da manhã e eles já estão assim? Eu DEFINITIVAMENTE não me dou bem com crianças.

-Shh...Vão embora.- digo ainda de olhos fechados com a voz embargada pelo sono, tento espantá-los como se fossem moscas com uma das minhas mãos mas não funciona e eles continuam a gritar para que eu acorde.

Decido que vou ignorá-los e me remexo para mudar de lado, mas acabo caindo no chão (eu deveria me lembrar de que estou dormindo numa rede, não numa cama de casal e que estou vivendo em um buraco na terra dentro de uma árvore e não em um hotel cinco estrelas).Novamente a gravidade fazendo o trabalho dela. Já não sei se ter vindo pra cá foi uma escolha sensata.

Me Leve Para A Terra Do Nunca ( EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora