Capítulo 5- Era Uma Vez Um Sonho. - Revisado

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Estou presa.

Minhas pernas estão tremendo, minhas mãos estão tremendo, sinto gotas de suor frio se formando aos poucos na minha testa. Não consigo me mexer. Os nós nos meus dedos estão vermelhos e doloridos. Não sei quanto tempo eu vou aguentar.

Crack...Prac...Prec. O barulho dos galhos se quebrando abaixo de mim faz o meu coração acelerar, o sangue sobe e desce gelado pelo meu corpo e aperto com ainda mais força o galho acima de mim. A única coisa que me salva desse abismo.

O farfalhar das folhas na árvore se agita cada vez mais conforme a ventania aumenta, o tronco da árvore vai e vem de um lado para outro se curvando com o vento fazendo com que meu corpo pendesse cada vez mais sobre o abismo que pacientemente me aguarda.

Sinto o terror e o pavor me dominar e não me mexo, respiro ou pisco. Fico apenas parada agarrada a um galho com toda a minha força torcendo para ele não se quebrar. Estou presa em uma árvore na beira de uma montanha prestes a cair em um precipício negro.

Meus olhos buscam desesperadamente alguém ou alguma coisa que possa me livrar deste momento horrível. Minha visão pousa no garoto misterioso que eu havia visto no colégio. Por um momento não sei se isso é realmente real ou se é uma miragem. Ele está de pé na montanha ao meu lado, seus cabelos acobreados bagunçados pelo vento rebelde. Ele está ali tentando me resgatar, mas a ventania é forte e por algum motivo ele não consegue se aproximar de mim.

Sei que não posso me mexer, não posso perder o equilíbrio, caso contrário o galho se parte e estou morta. Sinto lágrimas quentes começarem a surgir nos meus olhos e engulo em seco tentando não deixar nenhuma delas escapar. O galho parece tão frágil que uma simples lágrima caindo poderia quebrá—lo. Olho o garoto novamente desesperada. Abro a boca devagar quase em câmera lenta e com cuidado projeto o movimento das palavras, torcendo para que ele seja bom em leitura labial. Socorro. Ouço um barulho fraco de algo se quebrando e noto que o galho ao qual estou presa está começando a trincar, com cada movimento de lábios que eu faço.

Quando volto minha atenção ao garoto, reparo que ele já não é mais o estranho que conheci na escola, mas sim um garoto de treze anos sorridente e que flutua. No mesmo momento uma ventania ainda maior rompe e quebra o galho ao qual estou presa.

Perco todo o equilíbrio e sinto meu corpo desfalecer aos poucos conforme ele é engolido pela imensidão escura.

Flutuando, o garoto me observa cair com um sorriso nos lábios.

Solto um grito alto de terror e me levanto com um sobressalto, arregalando com força os meus olhos. Logo em seguida ouço um turbilhão seguido do barulho de risadas crescentes. Quando me dou conta percebo que acabei de interromper a aula de química.

Sem mais nem menos sou mandada para a sala da diretora para ouvir um sermão de uma hora sobre como eu venho me portando, que alunas exemplares do Saint Marie não fazem esse tipo de coisa e blá—blá—blá. No final, a única parte do discurso dela na qual eu não boiei completamente foi quando ela me alertou que se eu dormisse ou causasse mais alguma intriga ela seria obrigada a me expulsar, tudo isso devido ao meu histórico, digamos assim...invejável.

Ótimo, como se minha vida já não estivesse ruim o suficiente.

Avó paranoica, encarceramento dentro de casa, visões estranhas e agora ameaça de expulsão. Parabéns, Adaline!

A que ponto chegamos?

O final do meu dia foi extremamente monótono. Eu voltei para a aula e passei o resto do período prestando atenção — ou tentando— ao que os professores diziam. Tinha me esquecido como as aulas são chatas, ficar sentado sem se mexer só ouvindo enquanto os professores despejam milhares de litros de informação praticamente semi—inútil. Quer dizer, por que eu tenho que saber fisicamente como gerar eletricidade usando batatas? Ou como ligar um relógio usando limões? Ninguém mais consegue ver que esse tipo de coisa é desnecessária? Não é como se eu fosse participar daquela série Largados e Pelados ou ficar Perdida em Marte.

Me Leve Para A Terra Do Nunca ( EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora