Capítulo 21- A Mãe de Todos.

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As pessoas estavam começando a se retirar da lareira, indo cada uma para suas ocas se estirar preguiçosamente numa rede. Deviam ser mais de onze horas e eu haviam poucas pessoas nos arredores.

Minha mente estava cansada e o meu corpo também, mas eu estava presa com duas crianças no meu colo. Em momentos como esse eu só gostaria de poder dormir, me embrenhar numa cama enorme cheia de travesseiros e cobertores e fingir que o mundo não existe.

Avistei Yakecam recolhendo as coisas, conversando com a mesma índia que tinha estado no meu quarto mais cedo. Nunca o tinha visto tão solto desse jeito. Até porque ele tem aquele jeito durão e quieto, sempre ríspido e ostensivo a qualquer tipo de abertura. Não que ele não fosse uma pessoa rude ou grossa e que preferisse não conversar com ninguém, muito pelo contrário ele conversava e era gentil e atencioso mas sempre na sua. Um homem de poucas palavras, daqueles que você vê e não tem a mínima vontade de conhecer, só que, assim que conhece descobre que é uma pessoa legal.

Ali na companhia daquela bela moça ele estava solto, a postura menos rígida, os olhos menos duros e mais amigáveis e um sorriso que fazia sombra nos seus lábios. Estava certo em sorrir. Porque se eu fosse homem e tivesse uma moça daquelas na minha frente também sorriria.

Não era bonita mas não era linda. Mas tinha algo na sua postura e no corpo, algo na maneira como sorria e nos olhos espertos que a tornavam fascinante. Fiz menção de erguer os meus braços e sacudir no ar para chamar a atenção dele, mas Donkor apareceu atrás de mim baixando a minha mão.

-Não vai interromper o menino vai?-ele falou enquanto abaixava a minha mão.

-Não é a minha intenção, mas prezo mais a integridade das minhas pernas. –respondi e ele que sorriu ao meu lado e se abaixou para pegar Todd no colo. Depois voltou para carregar Cariel.

Nesse meio tempo Lorenzo se sentou perto de mim e me estendeu a mão fechada. Franzi a testa olhando a mão dele e ele, a mão dele e ele, ele e a mão dele.

-Você não comeu hoje.- falou simplesmente. Franzi ainda mais a testa e ergui uma das sobrancelhas e fiquei encarando ele atônita.

Lorenzo também me encarou fixamente e fez um sinal com a cabeça pra que eu aceitasse logo o que quer que fosse que ele estava oferecendo. Estiquei minha mão e ele me entregou algumas amoras. Agradeci as amoras e comecei a comer. O gosto doce na minha língua invadia a minha alma e meu estômago roncou. Eu não tinha a mínima ideia de que estava com tanta fome assim.

Ele também comia e estávamos a uma distância considerável. Só que, mesmo fingindo estar olhando para qualquer que fosse eu sentia o olhar dele na minha pele, fitando e analisando cada movimento meu. O acampamento estava vazio agora. Dois índios conversavam em uma oca um pouco distante, mas estavam tão longe e noite já se alongava tanto que eu só via vultos.

- Peter não está com você hoje.- ele atestou o óbvio.

Assenti com a cabeça sem olhar na sua direção e terminei de comer as amoras que sujavam os meus dedos de rosa.

-Isso é mais do que eu esperava de uma garota Darling.- falou sorrindo com certa ironia.- Parece que você não é boba o suficiente pra cair nos encantos daquele babaca.

Lambi os meus dedos e olhei pra ele com cara de poucos amigos.

-Até parece que você não gosta dele.- falei desconfiada encarando-o com a melhor cara de desconfiada-desinteressada que eu podia fazer.

-Não gosto mesmo.- disse na maior cara de pau. Devo dizer que a minha boca foi para o chão naquele momento, afinal, ele era um dos meninos perdidos.

Me Leve Para A Terra Do Nunca ( EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora