Caminhando pela rua até em casa, acenei para algumas das pessoas que passavam por mim: o carteiro, as vizinhas e algumas das crianças que brincavam de bicicleta. Mesmo que eu nunca tenha falado diretamente com nenhum deles, o fato de você ser parte de uma família que protagonizou uma das maiores histórias de fantasia do mundo já lhe garante sorrisos de graça.
Virei a esquina rumo ao casebre rústico no final da rua, já avistando o corpo magro de Jane Darling a minha espera na porta enquanto conferia o relógio, minuto após minuto, para ver se eu chegaria na hora certa.
Eram quatro e quinze da tarde, entrei dentro de casa e me guiei o mais rápido que podia até o meu quarto, largando de qualquer jeito meu material em cima da cama, assim como os meus sapatos e a gravata. Abri a minha sacada afastando as portas de madeira escura, olhando para o céu.
Certa vez Mabel me disse que eu não deveria me preocupar em nunca ter visto o céu a noite , porque ele era muito sem graça. Cheio de pontinhos distantes que só apareciam em uma noite sem poluição, ou nuvens, se você tivesse muita sorte. Algo que, segundo ela nunca acontecia porque morávamos em Londres. O máximo de luxo que eu poderia encontrar, dizia Mabel, era uma lua brilhante tão distante no céu que eu só conseguiria ver apenas uma bola branca sem muita definição.
Mas isso não tirava a minha vontade. Era o meu céu. Minhas estrelas, minha lua. O meu universo particular, e eu queria vê—lo com os meus próprios olhos, sem me importar com o quão banal, corriqueiro e tedioso ele poderia parecer.
—Adaline, saía daí agora mesmo! — minha avó gritou, invadindo meu quarto com seu típico vestido cinza e me arrastando para fora da sacada.
Eu poderia discutir, gritar, espernear, dizer que aquilo que ela fazia não era certo, que não havia nenhum mal em me deixar ver o céu... Mas eu já havia tentado inúmeras vezes ( e não estou sendo exagerada quando digo isso) e nunca funcionou. Nada consegue tirar Jane Darling do sério, ou fazê-la mudar de ideia. Até que eu consiga abrir a sacada por mim mesma ou virar adulta —segundo ela— eu não poderei ver o céu.
Ouvi um barulho e me virei confusa, pensando que talvez pudesse ser algo da minha cabeça, mas ouvi um leve tilintar vindo de algum lugar acima da mim. Olhei confusa para cima procurando o tirilintar, porém só vi uma luzinha amarela e minúscula voando.
Estava muito cedo para vaga-lumes, não estava?
Vovó também percebeu o pequeno vaga-lume brilhante e deu um tapa nele afastando-o. Em seguida, bufando ela me puxou para dentro do quarto com tanta força que tinha certeza que iria ficar com a marca de seus dedos em meu braço. Cambaleei até minha cama e me sentei enquanto observava vovó fechar as portas de madeira da sacada e trancá-las com um cadeado, fechando as cortinas para impedir a luminosidade do lado de fora entrar pelas frestas da madeira.
Depois disso, ela ainda fechou e trancou todas as janelas da casa com suas proteções de madeira e seus respectivos cadeados. Eu não sabia como ela conseguia escolher com maestria a chave certa dentre aquele molho de chaves imenso que ela carregava no bolso do vestido. Eram chaves de portas, de janelas, de baús, de armários, chaves e mais chaves sem fim.
E eu tentei, tentei decorar a chave, tentei decorar que era a chave arredondada, a sétima da esquerda para a direita, rápido o suficiente, antes que ela guardasse todas no bolso do vestido.
...
Sentamos na mesa de jantar, uma em frente a outra, nos encarávamos no período que comíamos carne com batata. Era uma mesa relativamente grande para uma casa onde só moravam duas pessoas. Isso sem contar que além da mesa ser grande vovó insistia em se sentar em uma ponta e me fazer sentar na outra, deixando um espaço gigantesco entre nós, um abismo onde ressoava todo o silêncio sepulcral.
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Me Leve Para A Terra Do Nunca ( EM REVISÃO)
Fantasy#1 em peter pan 25/6/2019 #3 em fantasia 5/01/2020 #3 em aventura 10/5/2018 #7 em romance 22/7/2019 #9 em mistério 28/12/2018 Adaline Darling nunca se sentiu verdadeiramente parte de algo. Talvez fosse a orfandade ou a crianção rígida da vó, quem...