Existe algo de desconcertante em não poder voltar atrás. Por mais que você diga mil vezes e se convença de suas decisões, é completamente diferente quando elas batem na sua porta e entram para ficar. O ser humano naturalmente gosta de segundas opções. Gostamos de saber que podemor mudar de ideia, virar a esquerda e não a direita, correr para um plano B caso o A não dê certo. Somos cômodos. A verdade é que quando a porta se fecha, quando só há um caminho a se seguir, quando não se sabe se existe luz no fim do túnel ou se no final da trilha você vai encontrar um leão ou um coelho, nós sentimos pavor.
Um pavor tímido, não daqueles arrebatadores que nos deixam sem reação e mortificados. Um pavor que vai subindo pela ponta dos dedos do pé até a cabeça, devagar, sem pressa, agitando o estômago, com uma ansiedade de quem está subindo uma montanha russa pela primeira vez. Um pavor que enche sua cabeça de perguntas e questionamentos sobre suas atitudes, fazendo você se torturar por bolar segundas opções sendo que só há um caminho a seguir. Mesmo assim ele não te paralisa. Ele deixa você seguir seus passos pelo túnel incerto sabendo que essa é a única opção enquanto matuta futuros piores e te crucifica pelo passado. Um pavor que você não percebe ter até não consegui voltar atrás.
O Jolly Roger estava ancorado a alguns metros da costa da ilha. Eu não havia dormido nada naquela noite, não depois do que havia acontecido. Eu já estava acordada há quase um dia inteiro, mas o meu corpo traumatizado parecia se recusar a dormir. Estávamos, eu, Trixie, Gancho, Max, Lorenzo e Smee em um barco menor que nos levava até um pequeno deque no litoral do Recanto das Fadas.
Sininho havia saído na frente com a corujinha para avisar os remanescentes. Ali parados no minúsculo cais do Recanto das Fadas, estavam nossos anfitriões. Em outros tempos eu descreveria a aparência do grupo exótico, absolutamente conternada com cada diferença, mas já estava suficientemente calejada e agora nenhuma estranheza sequer me causava incômodo.
O nosso barco encostou e desenbarcamos em terra, recebidos por uma dúzia de olhares não muito amistosos. Tigresa estava em pé trajando roupas de couro de javali, adornada com desenhos tribais em vermelho e branco que coloriam o resto da sua pele descoberta. Estava com trajea de um guerreiro Picanniny , embora fosse uma mulher e estas fossem estritamente proibidas de lutar (novos tempos, novas necessidades). Seu rosto não era mais de uma garota mas sim de uma mulher, de uma chefe. Tinha o semblante sério, inexpressivo, obtusa e fria. A esquerda dela estava Derish o líder dos centauros com quem costumávamos a brincar. Nunca tive muito contato com ele, nem sequer o tinha visto apenas ouvia falar o nome dele, não era conhecido por gostar de crianças. Era um homem enorme e músculo (ao menos a parte que lhe cabia), tinha uma cicatriz enorme que lhe dividia o rosto, desde a lateral esquerda da testa até o canto direito do queixo. Por sorte, havia lhe poupado os olhos mas o nariz havia sido tão mutilado que a cicatrização havia formado uma massaroca desforme e feia no meio da cara. O corpo de cavalo era viril e robusto como o mais cara dos azalões. Entretanto o pelo negro e sedoso em determinadas partes dava espaço para cortes e mais cicatrizes. Peter havia me dito uma vez, que antes dele existir os homens vinham de diversos reinos caçar os centauros para usá-los na guerra em seus reinos e que muitas das marcas em Derish vinham das lutas contra caçadores.
A direita havia um panteão de seres em formato de árvore. Pude ver pelos traços que eram ninfos e ninfas que haviam sobrevivido. Não estavam na sua forma convencional. Eram seres com aspectos humanoides formados com diversos cipós e troncos de árvores retorcidos para dar sustentação. O rosto parecia ser formada por uma massa só de madeira que subia para expor galhos no topo com poucas folhas. Uma versão bizarra e nem um pouco fofa do Crood. Haviam também anões, seres pequenos e atarracados, gorduchos em seus corpos e mãos roliças, com temperamento explosivo e machados afiados. Os anões eram habitantes da Terra de Ninguém, no nordeste da ilha. Diziam que era uma região cheia de ouro e outras riquezas inimagináveis. Os anões organizavam a mineração e haviam conseguido, apesar do Crocodilo, a viver nos domínios da Floresta Morta por um tempo. Até as coisas piorarem e eles serem obrigados a migrar para o oeste onde passaram a viver em seu próprio povoado numa parte exilada da Vila dos Piratas.
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Me Leve Para A Terra Do Nunca ( EM REVISÃO)
Fantasy#1 em peter pan 25/6/2019 #3 em fantasia 5/01/2020 #3 em aventura 10/5/2018 #7 em romance 22/7/2019 #9 em mistério 28/12/2018 Adaline Darling nunca se sentiu verdadeiramente parte de algo. Talvez fosse a orfandade ou a crianção rígida da vó, quem...