Capítulo 29- Bonitinha

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Vejo o rosto dele. Sorrindo enquanto me beija. Meu coração bate rápido descompassado, sem ritmo, batendo. O toque carinhoso escorre pelo meu corpo traçando uma linha de chamas que vai queimando. Estou tão feliz que quero dizer que o amo. Amo de verdade. Ele ergue o rosto do meu pescoço, a face de mármore iluminada pela meia luz da tocha no quarto escuro, as sombras dançam no seu rosto.

Ele mira os meus olhos e me derreto por inteira. Sorrio de volta e digo que o amo. Vejo seus olhos se estreitarem me analisando. O sorriso vai diminuindo até os lábios se converterem numa linha fina sem emoção.

-Eu não.- ouço a voz monstruosa sair da boca dele e uma mão envolve a minha garganta apertando.

Meus olhos saltam pra fora e um som engasgado, um gemido sofrido sai pelo meus lábios. Levo meus dedos tentando a mão do meu agressor arranhando com toda a força tentando tirar a mão dele dali. Peter está sorrindo. Não. Piscinoe está sorrindo. Quero gritar, quero respirar mas a minha garganta está fechando dolorida, se rasgando enquanto tento lutar por ar mas só água entra.

As pontas dos meus dedos estão sangrando e vou perdendo a força, meu corpo vai se contraindo contra as mãos de Piscinoe em espasmos violentos. Fecho os olhos e não sinto mais nada.

Abro os olhos contra o vento no meu rosto e estou caindo num abismo infinito adentrando a total e completa escuridão. Meu corpo vira, se retorce no ar enquanto cai, cai , cai... Estou com uma dor de cabeça insuportável, a dor é excruciante tão forte que começo a arranhar a mim mesma deixando traços, linhas de sangue na minha pele pra tentar fazê-la parar.

Grito. Não sei como eu consigo, a voz não sai da minha garganta, ninguém consegue me ouvir mas eu grito mesmo assim. Grito. Grito. Grito.

Meu corpo ferve como fogo de dentro pra fora, parece que o sangue que corre dentro de mim é lava e vai derretendo cada órgão, pedaço de pele, neurônio. Vai subindo de dentro pra fora, me consumindo como uma fogueira.

Quero morrer, quero morrer, acabar com toda essa dor. Não consigo me concentrar no pensamento. Então eu grito de novo e meu corpo irrompe em luz azul.

Abro sobressaltada e tomo uma golfada de ar desesperada surpresa pelo oxigênio conseguir chegar aos meus pulmões. Sinto um calor aconchegante no meu peito, a luz do colar estar irradiando fraca mas com força o suficiente para me acalmar, como se dissesse estou aqui. Minhas mãos estão frias e tremendo mas consigo segurar o colar e suspiro me acalmando. Fecho os olhos por um instante e sinto o líquido úmido escorrendo pelas minhas bochechas, eu estava chorando.

Tento me levantar mas os braços de Peter envolvem o meu corpo enquanto dorme tranquilamente. Ele não se parece nada como um maníaco do meu sonho. Na verdade é um bebê ali, dormindo tão tranquilo, tão seguro...Nunca nem pensei que veria ele daquele jeito tão frágil, desprotegido, calmo.

Faço meu melhor pra me desvencilhar dos seus braços sem acordá-lo. Vejo as minhas roupas e as dele jogadas por todos os cantos do cubículo e me lembro da noite passada. Não é nada disso que vocês estão pensando leitores. Não aconteceu nada demais depois aquilo. Também não é como se eu não quisesse, eu queria mas o Peter parecia reservado demais. Acho que ele tem de certa forma seus próprios valores morais...Só não entendi o por quê dele ter parado. Não é como se eu fosse pressioná-lo a continuar de qualquer forma mas da onde eu venho as coisas não funcionavam assim.

Pego a camisola e o vestido no chão, juntamente com os sapatinhos de cristal e vou andando de fininho pelo quarto até a porta. Espreito o grande salão que divide os quartos. Pelos raios de sol que vão iluminando aos poucos a noite escuro eu diria que são mais ou menos cinco da manhã.

Me Leve Para A Terra Do Nunca ( EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora