Capítulo 34-A chama de cada um.

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Três meses depois... (no mesmo ponto em que paramos no capítulo anterior, mas dessa vez voltando para a Terra do Nunca).

Não sei que dia da semana é hoje.

O vento sopra acariciando a minha pele de um jeito maternal. As folhas balançam e chiam no alto das árvores farfalhando. A grama verde e úmida com o orvalho recente da madrugada serve de colchão macio.

As pálpebras se erguem e o céu parece tão azul.

Respiro fundo.

É meu aniversário afinal de contas.

Dezessete anos.

Sempre achei que não existia uma diferença entre um aniversário e outro. Aliás o que é só mais um aniversário na sua vida? Só mais um ano de vida? Ou um ano a menos? Não sei. Mesmo aqui esse pensamento não faz sentido.

Um ano a mais ou um ano a menos. Do que adianta contar se você pode viver pra sempre?

Mas hoje...Hoje, quando eu paro pra pensar em tudo desde o meu aniversário de dezesseis anos...Sei que não sou a mesma.

Sou um turbilhão de coisas. Tudo e nada ao mesmo tempo. Sou um paradoxo. Algo perdido no tempo. Nem passado, nem futuro. Presente.

O vento sopra varrendo o chão da clareira. Todos os pelos do meu corpo se arrepiam. Eu sinto a energia.

Dinâmica. Viva. Exterior. Interior.

Levanto-me. Desamassando as roupas simples de sempre e prendendo o cabelo comprido numa trança que cai até o meio das minhas costas. Estou numa clareira pequena, um buraco de luz escondido no meio da vegetação densa da floresta.

Farfalhar de folhas. Barulho de galhos quebrado. Tem alguma coisa aqui. Estou sozinha. Minha mão corre para o cabo da espada. Puxo a lâmina que zune silenciosa só pra mim. Franzo a testa.

O barulho continua e parece estar mais perto agora. Me lembro de tudo o que já passei. Piscinoe e a criatura estranha que tentou me matar há quase três meses. Suor escorre pela minha testa, pingando em gotas gordas.

Parece que a morte cismou comigo.

Quero sair correndo daqui, não consigo. Algumas forças sobrenaturais prendem os meus pés no chão. São três no total:

A primeira é o orgulho. Ele não me permite sair correndo em disparada porque sabe que, se o que estiver se aproximando for algo pequeno como um coelho ele vai ficar bem bravo por eu ter sido tão estúpida e medrosa.

A segunda força é o medo de que, se for realmente uma criatura daquela, que caso eu saia correndo ela possa atingir outras pessoas que não eu. Os meninos perdidos. Meus irmãos. Já consegui matar um deles uma vez e não iria me perdoar se acontecesse de novo.

A terceiro força e a mais insistente de todas, por mais que eu deteste admitir. Ela é estranha. Me assusta. Um tipo de eletricidade que só consegue sair em momentos de tensão. Um êxtase enorme que eu senti quando pûs as minhas mãos sobre o corpo da criatura e deixei que a energia escorresse queimando-a, assim como queimou o rosto de Piscinoe. Quero sentir de novo, por mais que eu tente esconder de mim mesma.

Posiciono a espada. Um pé depois do outro. Me aproximo do barulho. Há uma quantidade imensa de folhas na minha frente. É tanto mato que não consigo ver absolutamente nada. Ergo a espada em posição de ataque- obs: sei que devo estar ridícula- e com a mão livre eu conto até três e afasto as folhas dando um pulo pra frente.

Não é coelho. Também não é monstro.

É um menino. Não como os meninos perdidos.

Não.

Me Leve Para A Terra Do Nunca ( EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora