Capítulo 40-Lágrimas do passado.

2.9K 282 266
                                    

Estou num terreno plano. Árvores mortas, secas, retorcidas. O vento bate nos meus cabelos e ouço gritos me chamando. Viro-me para um lado. O mundo está em chamas. Trixie está trajando os tecido fino avermelhado. Os cabelos dela esvoaçam, as pontas parecem serem feitas de fogo. Lorenzo do lado oposto tem os cabelos castanhos presos num rabo de cavalo pequeno e a flecha armada na minha direção. Ao lado dela Gancho no centro, vestido quase como um príncipe pirata, posando com o gancho na cintura e a outa mão estendida na minha direção.

Ao mesmo tempo, do lado oposto ao grupo eu vejo os meninos perdidos. Trajando sua espadas e adagas. Eles estão sorrindo pra mim, querem me dar um abraço. Sininho me observa reclamona prestes a julgar minhas ações. Sei que independentemente das minhas escolhas ela não irá me abandonar. Todas as outras fadas também estão aqui, ninfas, centauros, duendes, elfos, os indíos. Na frente de todos, está Peter. Ele me olha certo com a sobrancelha arqueada. Estende a mão para mim.

-Escolha Adaline.- as vozes de Peter e Gancho soam ao mesmo tempo no meu ouvido como retumbar de um relógio marcando o início de uma decisão e também o seu fim. – Agora.

Estico o corpo na direção de Gancho. Meus pés não saem do lugar. Forço os meu dedos até o máximo. Ele também o faz. Estamos quase nos tocando por milímetros. Finalmente sua mão agarra a minha e sou puxada para o seu lado.

Pan me observa desapontado, ele meneia com a cabeça, negando. Olha uma última vez no fundo dos meus olhos e estala os dedos. Gritos ensurdecedores de puro terror invadem o ambiente. Cheiro ocre de sangue metálico pinta o ar como se ele mesmo pegasse para si um tom vermelho. Vejo o grupo na minha frente.

As pessoas que eu não escolhi.

Uma chacina.

Todos estão mortos. Com as gargantas cortadas e a pele pintada de sangue. Mortos. Uma pilha de corpos banhados em líquido vermelho. Peter não está mais aqui. Apenas os outros.

Grito desesperadas e impulsiono o meu corpo para frente para correr até a minha família. Gancho me segura forte em seus braços, me envolvendo num aperto que me impede de avançar.

Eles estão mortos por minha causa. Porque não foram aqueles que escolhi seguir.

-ADALINE!- acordo sobressaltada com mãos firmes me prendendo na cama. –É SÓ UM SONHO!SÓ UM SONHO!- Trixie tem o corpo todo jogado sobre o meu, me prendendo a cama. Ela está descabelada. Seus olhos desesperados me encaram. Estou confusa. Tremendo. – Já passou. Foi só um pesadelo.- sua voz é suave e calma, ela acaricia os meus cabelos, afrouxando o aperto nos meus ombros.

Fico aliviada em ver o seu rosto. Suspirando aliviada eu levanto da cama e envolvo o seu torso num abraço, escondendo o meu rosto na curva do seu pescoço e pondo-me a chorar. Ela envolve as minhas costas num carinho maternal, alisando os meus cabelos e sussurrando "shh, está tudo bem, vocês está bem agora..."

Depois de longos minutos finalmente consegui forças para conseguir me retirar do seu abraço. Lentamente ela foi me soltando, olhando pra mim com as mãos nos meus ombros.

-Me desculpe por não ter vindo mais cedo querida. Estive passando tão mal todos esses dias. Vomitando até as tripas.- ela diz se desculpando, alisando meus ombros desnudos.

Já se passaram três ou quatro dias. Talvez. Não tenho certeza. O vai e vêm das ondas me deixa confusa, mareada. Acordava em alguma hora qualquer do dia com o estômago revirado apenas para vomitar. Depois me jogava no banheiro com a água quente pingando sobre o meu corpo. Em seguida cambaleava para a cama novamente jogando-me nos colchões para dormir. Não me lembro de ter saído alguma vez para o lado de fora. Apenas das marteladas de Max na porta, seus punhos espancando a madeira, perguntando se eu gostaria de comida. Eu queria, mas sentia que se colocasse qualquer coisa para dentro iria vomitar mais e mais.

Me Leve Para A Terra Do Nunca ( EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora