Bônus de 3K: Sininho.

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Os três irmãos estavam tremendo de frio quando vieram me procurar. O crepúsculo pintava o céu de vermelho como se o sol sangrasse e jorrasse sangue na tela azul. Estamos todos sangrando aqui. O dia estava quente e abafado como o inferno, mesmo assim eles tremiam.

Haviam arranhões nos corpos deles. As roupas estavam sujas de barro e em farrapos, olhos fundos, cansados, os cabelos intensamente loiros estavam apagados e meio cinzas. Já não existiam mais sorrisos nos rostos das crianças. Não. Aqueles eram os rostos de quem tinha visto o terror.

-Por favor Sininho nos ajude!- a irmã mais velha falou a voz tremendo enquanto puxava os outros dois irmãos para perto, abraçando-os, com medo de que fossem arrancados.

Nem pareciam mais as crianças ricas e ingênuas que tinham chegado aqui.

-Sininho.- Michael chorando nos braços do irmão mais velho. –Sininho, sininho...

-Vocês sabem que eu não posso fazer nada.- falei para os garotos desesperados na minha frente. Não tinha nada que eu pudesse fazer por eles.

-Isso é mentira. Você consegue nos ajudar, você sempre tem alguma ideia. - falou Wendy se erguendo e me olhando com desprezo. Nunca gostei dessa garota. Seus olhos se estreitavam e ela me olhava com desdém, quase asco, da maneira como falava era fácil ver que queria cuspir em mim. Ela tentava não me insultar com as palavras, mesmo que seus olhos e suas feições lhe traíssem.

-Ele tá vindo Sininho, por favor.- João interviu no meio da conversa. O mais sensato dos irmãos.- Você sabe que temos pouquíssimo tempo. Quando a noite cair não teremos chance.

-Eu disse que vocês não deveriam ter ido atrás dele, eu disse que não deveriam nunca cruzar os limites da Floresta Morta.- retruquei para os dois.

-EU QUERO VOLTAR PRA CASA!-gritou o mais novo em prantos enquanto puxava o vestido azul da irmã que tentava sem sucesso acalmá-lo.

- O crocodilo não vai deixar a gente voltar.- falou a mais velha.-...ninguém pode nos ajudar excerto você.

Nunca gostei da ideia de trazer essas crianças pra cá. Fiquei calada quando Peter se apaixonou pelas histórias da menina inglesa e resolveu trazer a ela e seus irmãos. Eles eram ricos, nobres. Não sabiam de nada da vida. Queriam a comida pronta, a cama pronta, a roupa passada. Os meninos eram suportáveis. Mais do que a irmã, pelo menos. João é o mais intelectualizado de todos. Tem fome por aprender, conversava com todos e perguntava sobre tudo, tudo, absolutamente tudo que lhe viesse a cabeça. Sua natureza questionadora deixava claro que era um estático. Precisava dar explicações. Entender o que na cabeça dele não fazia sentido. Ele me seguia por todo lado, em algum momento, não sei dizer exatamente quando as perguntas não pareciam mais tão chatas e me vi pegando um certo afeto pelo garoto.

Michael é o bebê, corre por aí com os meninos e gosta de lutar com espadas de madeira, mesmo que muitas vezes tropece nos próprios pés. Durante as noites dorme abraçado com um ursinho e ama ouvir histórias. Não tive muito contato com o menino, mas era doce.

Já a irmã é a personificação da chatice. Sinceramente, não sei o que Peter vê nela. Nem porque está tão apaixonado. É uma garota chata, mimada, dramática e barulhenta que não faz nada a não ser esperar que alguém venha resolver os seus problemas. Eu vi quando Peter a beijou pela primeira vez. Vejo na maneira como a olha que está perdidamente louco pela garota. Ela tem tudo o que eu queria ter. Ela tem um tamanho real. Ela tem o coração dele. Ela não tem deveres.

-Vou precisa do seu medalhão.- disse por fim convencida. Vou ajudar essas crianças, por mais que não queira, não posso viver sabendo que tive essa chance e que as deixei na mão.

Me Leve Para A Terra Do Nunca ( EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora