Capítulo 23-Cachorro que ladra não morde.

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Meus pés estavam doendo e desgastados, fios de cabelo salgados grudavam no meu rosto conforme eu corria contra o vento e tentava desviar o máximo que podia de todos os objetos e pessoas na minha frente.

O medalhão pulava para cima e para baixo batendo com um pouco de força no peito mas isso não me impediu de seguir Lily de um lado a outro enquanto ela corria perfeitamente arrumada, parecendo flutuar sobre o chão com tamanha destreza e velocidade, como se tivesse nascido pra aquilo.

Ela deu uma volta na oca adentrou a mata e voltou para a vila, ziguezagueando pelas crianças que corriam e brincava, desviando das mulheres e dos homens que carregavam a caça do dia, passando pelos cachorros e animais que andavam em volta como se não estivessem ali.

Parei de segui-la quando meu pulmão e o meu baço ameaçaram acabar com a minha vida. Levando uma mão ao peito e me jogando de qualquer jeito no chão seco de terra vermelha comecei a ofegar de maneira barulhenta.

Vida de sedentária é uma bosta.
O sol tava absurdamente quente. É fato: odeio esse clima tropical mais do que os dias cinzas de Londres. Agora aquelas nuvens o clima meio frio, e estático, normal, corriqueiro me dá até saudades do que esse céu azul anil, sem nuvens com o sol amarelo que queima o topo da minha cabeça.

Fechei os olhos e tentei bloquear o sol com uma das mãos, colocando-a estrategicamente entre as minhas íris e aquela imensa bola de fogo. Passado bons cinco minutos nos quais eu estava jogada no chão pegando fôlego uma sombra cobriu o sol por inteiro me fazendo abrir os olhos.

Donkor.

-Não me diz que você quer pegar um bronzeado?- falou com um sorriso irônico no rosto.

-Na verdade sim e você tá atrapalhando.- respondi tentando fingir uma cara mal-humorada.

-Bruta.- reclamou ao me esticar as mãos me oferecendo ajuda para levantar.

-Tem gente que gosta.- Sorri e aceitei sua ajuda. Donkor me içou pra cima me tirando daquele chão imundo.

-Eu sempre soube que o Peter era um masoquista.- falou rindo enquanto  enfiava uma das mãos no bolço da bermuda. – Aliás, o que aconteceu com você? Tá toda acabada.

-Eu já sabia, você não precisava falar em voz alta.- respondi com um sorriso falso.

-Desculpa, foi sem querer.

-Tudo bem.

-Toma. Acho que isso é seu.- falou tirando a mão do bolso e me oferecendo o que estava nela: a foto. A minha foto, com vovó e Mabel que tinha se perdido com o vento.

Estava meio amassada e suja, mas era ela e estava lá. Meus dedos tocaram a foto e a tomei para mim, meu corpo tomado de alegria esquecendo de absolutamente toda a merda e as tentativas de morte que eu já tinha sofrido até o presente momento.

-Obrigada Donkor.- falei sincera, me precipitando para um abraço que ele recebeu acaloradamente.

-De nada, mas olha na verdade não sou eu quem merece esse abraço. Foi o Peter que achou a foto, ele só me pediu pra te entregar.

-Ah é?- falei depois de dois segundos em silêncio, olhando pra ele atônita. Pelo amor do santo deus Adaline da pra você ser menos sonsa?

-É.- respondeu assentindo com a cabeça vendo a minha cara de total "garota apaixonada que não quer assumir que está apaixonada."- Bem o que você vai fazer agora?- falou tentando esconder uma risada e mudar de assunto.

Obrigada, senhor por me livrar de uma conversa potencialmente vergonhosa.

-Preciso ir atrás da Lily, ela tinha assuntos pra tratar com um tal de Irapucã ou algo assim.

Me Leve Para A Terra Do Nunca ( EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora