Me Leve Para A Terra Do Nunca ( EM REVISÃO)

Capítulo 26- A Vila dos Piratas.

Quando acordamos estávamos os dois agarrados na rede, as pernas entrelaçadas e os corpos colados dava a impressão de que éramos um só, uma criatura de quatro pernas e quatro braços. Foquei no chão e ás vezes em algum canto da parede do quarto , talvez nas microscópicas partículas de poeira que flutuavam pelo quarto iluminado pelos feixes de luz solar que entravam tímidos pelo buraco\porta. Peter se levantou da rede devagar, tentando não me acordar sem perceber que eu já estava acordada à muito tempo.

Assim que ele se pois de pé eu me sentei sobre o tecido. Nossos olhos se encontraram e as bocas se abriram mas nenhuma palavra saiu. Ele quebrou o contato visual que durou sete séculos (na verdade 7 segundos) e meus olhos voaram para os seus pés enquanto a minha bochecha insistia em queimar.

-E-eu, vou indo lá.- falou com a voz rouca de sono e gesticulando com as mãos para saída como quem está perdidamente atrapalhado.

-Tudo bem.- respondi de volta sem saber exatamente o que dizer.

-Tá, então eu vou indo.- ele avisou novamente, sua voz como se pedisse autorização.  Havia algo esquisito no seu rosto, nada ruim, apenas um misto de confusão como se a própria cabeça estivesse um turbilhão.

-Pode ir.- repito e dessa vez começo a balanças as minhas pernas pra frente e pra trás, ansiosa.

-Okay, tchau.- ele acrescentou novamente e não se moveu se demorando cada vez mais ali enquanto seus olhos antes tão decididos agora tímidos olhavam pra mim e ao mesmo tempo para o quarto inteiro.

-Tchau Peter.- falei  com um tom um pouco mais firme, tornando a ficar de pé. Suas sobrancelhas se ergueram um pouco em surpresa e seus pés se moveram tão rápido que ele quase tropeçou a deixar o quarto.

Bobão.

Um sorriso bobo brota nos meus lábios e dou pulinhos de alegria no quarto ciente de que não estou sendo observada, enquanto mexo o meu corpo da maneira mais ridícula possível. Sim, eu estou feliz pra caramba. Parece que meu corpo todo quer se mexer e sinto que até posso sair abraçando as pessoas por aí, talvez até Patrick aquele escroto espinhento.

É tão bom ver esse jeitinho dele vulnerável e pensar que ele se abriu comigo na noite passada e que nós dormimos juntos, que o cheiro dele tá em mim isso é tão...Mara...

Para. Adaline. Para. Sem sentimentalismo estúpido.

Tudo bem, tudo bem. Só um pouquinho de sentimentalismo estúpido.

Corro para a minha mochila no ímpeto de me arrumar. Visto uma calça jeans de cintura alta e uma blusa branca soltinha de manga curta. Escovo o meu cabelo (o que eu geralmente nunca faço, porque ele é curto e só uma passada de dedos resolve. Não que eu me importe com a aparência dele, às vezes eu só tenho preguiça). 

Noto que ele cresceu, está agora no meio do pescoço, quase na altura do ombro e não mais na nuca como estava antes. Quanto tempo faz que eu estou aqui? Meus olhos se voltam para o meu celular largado junto com as outras coisas estúpidas que eu trouxe e não toquei. A bateria ainda está intacta, parada nos eternos 67%, a pasta de dente que eu trouxe de casa parece nova da maneira como veio e eu a uso a mais de um mês.

Desbloqueio o celular e vejo a tela sem sinal se abrir pra mim. Vejo a foto da galáxia como plano de fundo e deslizo o dedo pela tela até a galeria de fotos. Excluindo as fotos de céu tenho milhares de prints das caretas bobas de Mabel  e fotos icônicas de vovó fazendo coisas de velhinhos que a gente zoa com os amigos no snapchat.

Numa das fotos ela está sentada confortavelmente na poltrona da sala de estar com o óculos pendendo dente o seu nariz enquanto olha concentrada para a tela do computador.  Na próxima ela está rindo descontroladamente, a pele enrugada se esticando e os dentes amarelados surgindo num sorriso aberto e alegre, lembro daquela cena porque ela tinha acabado de me pedir para criar um facebook naquele dia e depois de muita recusa da minha parte eu finalmente cedi. Naquela foto em especial ela estava rindo de um vídeo onde um bebê dava uma risada fofa e descontrolada.