Capítulo 7-Saliva, Dobradores e Estáticos - REVISADO.

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Sinto uma ponta afiada quase entrar na minha coxa direta e isso me faz dar um pulo da cadeira.

­­­­­— Acorda, Adaline! A professora está entrando! — Mabel disse, forçando o lápis de ponta afiada na minha perna por mais alguns segundos antes de retirá-lo.

— Eu não estava dormindo. — Atesto esfregando meu rosto com as mãos, aproveitando para disfarçar o meu rosto amaçado e limpar qualquer possível saliva que possa estar aparecendo

— Estava sim! Você até babou na mesa. — Ela acusa apontando com o lápis para a carteira. Touché Mabel, você acertou.

Eu sei que não tinha babado, mas fui traída pelos meus olhos inquietos e acabei arrancando uma gargalhada de Mabel. De fato eu não havia babado.

— Eu não babei — respondo fingindo estar sem paciência.

— Mas ficou em dúvida! — ela atesta com um sorriso vitorioso.

— Você pelo menos podia ter me acordado de uma maneira mais delicada. — reviro os olhos. — Quem sabe só me chacoalhando, dizendo — afino minha voz até deixa-la com um tom fino irritante para imitar Mabel. — "Ei, Adaline, melhor amiga do meu coração, vamos acorde. Adaline, acorde" — eu faço gestos como se estivesse acariciando uma pessoa.

Mabel me olha de cara fechada fazendo uma careta de desgosto.

— Primeiro: minha voz não é assim. — Ela diz me mostrando seus dedos. — Segundo: você não acordaria nem se um terremoto chacoalhasse metade de Londres — reviro os olhos outra vez com desgosto.

— AIIIII! — grito alto no meio da sala de aula, dou um pulo da cadeira quando a ponta afiada atinge de novo a minha coxa e bato o joelho na mesa, reprimindo um grito quando noto que a sala toda olha pra mim.

Volto meus olhos para Mabel que tem a mão na boca segurando uma risada. Apesar do olhar severo da professora, agradeço mentalmente por ela não ter me mandado de volta para a diretora.

— É pra isso que serve o meu lápis. — sussurrou sem emitir uma palavra, apenas desenhando as palavras com a boca, e assoprando a ponta afiada.

Faço uma cara de sonsa e sorrio, mostrando-lhe o meu dedo. Mabel Elizabeth Schoffield apenas ignora e balbucia que no fundo eu a amo. Cretina. A cretina está certa.

...

— Não vai querer sair da escola de novo? —Bel indaga enquanto eu me sento debaixo da árvore.

— Não — respondo como se não fosse nada demais. É claro que eu estou doida para dar o fora daquele colégio, mas a possibilidade de encontrar Pan me assombra, não que ele não possa vir no meu colégio como tinha feito da última vez. A diferença é que agora eu sei que ele é real, eu aceitei que esse tipo de mundo existe. Só não estou pronta para conversar sobre isso. Para ficar cara a cara.

— Você quer me contar alguma coisa? — Bel pergunta de repente olhando meu rosto com intensidade, como se tentasse ler minha mente.

— Eu quero mas você não vai acreditar — conto indiferente, mordendo uma fatia do meu pão com manteiga. Ninguém sabe o que tinha acontecido nas últimas semanas, ninguém sabe que em menos de um mês depois do meu aniversário de dezesseis anos minha vida tinha virado de cabeça pra baixo, que eu tinha virado noites acordada, que tinha conversado com o Peter Pan (e por mais estranho que admitir isso possa parecer, parte de mim até achou bem legal).

O último mês tinha me exaurido tanto fisicamente quanto mentalmente, já estou chegando em um ponto onde não aguento mais me manter em pé, enfrentar sozinha e tentar entender o motivo de tudo isso estar acontecendo comigo, é simplesmente desgastante. Eu durmo quando devo estar acordada, acordo quando devo estar dormindo, como quando devo estar estudando e tomo banho quando devo estar comendo.

Me Leve Para A Terra Do Nunca ( EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora