Trixie POV ON
Os murmúrios ao meu redor aumentam. Uma confusão colorida de sons e criaturas de todos os tamanhos. Ignoro. Meus olhos correm para o azul infinito do mar e eu deixo que eles naveguem sem rumo. O gume afiado da faca desce rasgando a barriga do peixe. Enfio a mão dentro daquele corpo gelado e inerte e retiro as vísceras jogando-as num balde ao lado.
Faz oito luas que a Adaline não vem me visitar e eu me sinto ridícula por estar sentindo falta da garota. Desde a tragédia que viria a me deixar com o coração estilhaçado há alguns anos atrás, eu havia me decidido: não iria me apegar a mais ninguém. Toda bruxa sabe que o amor é a maior fraqueza que se pode ter. Amor enfraquece a sua magia. Amor te mata.
Não é a toa que milhares de bruxas são criadas desde o nascimento para serem criaturas frias e sem coração. Isso quer não quer dizer que por serem frias as bruxas são necessariamente más. Apenas que preferimos nos manter afastadas, reclusas na nossa própria realidade e fechadas do restante. Sem nos apegar. Só que isso não é uma fórmula perfeita. Somos pessoas acima de tudo. O amor, essa necessidade intrínseca de afeto, uma hora ou outra desponta. Seja o amor por um bicho de estimação, uma pessoa... ele sempre aparece. Ou se ficar tanto tempo guardado, pode se transformar em amargura e ir corroendo você por dentro, contaminando a sua magia, tornando-a negra aos poucos. De alguma forma ou de outra a magia de ninguém consegue ser completamente negra ou branca, está mais para tons de cinza.
Faz oito luas que Adaline não vem me visitar e eu não consigo parar de questionar o por que. O cheiro almiscarado, misturado da avenida principal, a movimentação dessa massa disforme de seres e cores e sabores e sons diferentes não consegue me distrair. As ondas revoltas do mar azul escuro ecoam contra as pedras firmes dos cais, arrebatando-o como se quisesse arrancá-lo dali.
Nada disso me tira da cabeça a menina. A maneira como fugia desesperada na vila e acabou derrubando todos os meus produtos na fuga daquele homem jacaré. O olhar de ferocidade no rosto assustado. Sim, ela estava morrendo de medo. As pernas tremiam e o rosto estava tão branco que a garota mais se parecia um defunto . Os olhos ferozes não enganavam ninguém. Era corajosa.
A criatura estava em cima dela. Pronta para devorar o rosto bonitinho com uma mordida daqueles dentes podres e afiados. Lágrimas brutas lhe escorriam pelo rosto aos montes pintando caminhos pelo rosto sujo. Mesmo assim ela encarou a criatura e não desviou o olhar.
Algo ali me tocou profundamente. Algo nos olhos dela me lembrava a mim mesma quando cheguei nesse lugar não mais do que uma menina. Quando se aproveitaram de mim de todas as maneiras e tentaram roubar a minha inocência. Quando mesmo em situações decrépitas eu acreditava que conseguiria dar a volta por cima, quando ter coragem e impetuosidade de uma jovem parecia a solução perfeita pra vencer todos os problemas do mundo.
Ela era eu.
Tive que interferir. Conversar com ela e me oferecer para ajuda-la não foram atos genuinamente bons. Eles não foram movidos por uma sensação abrupta de misericórdia e caridade. Apenas vieram acontecendo. A garota era intrigante, feroz, petulante, jovem e desorientada.
Foi a primeira novidade que eu tive nessa vida monótona em algumas centenas de anos. Eu estava curiosa a cerca da garota que mentia o nome e se embrenhava na floresta além dos limites permitidos. Ela poderia ter entregado a minha cabeça ao Gancho mas não o fez. Algo nela me chamava a atenção.
No início achei que seria algo simples. Ensinava os preceitos básicos que toda bruxa deve conhecer. As ervas, para que serviam e como prepara-las. É verdade que usava o trabalho da garota para conseguir vender mais durante as manhãs na rua principal da vila. Adaline foi aos poucos se abrindo. Era órfã. Tinha uma língua afiada. Não possuía o mínimo de decoro ou fineza. Era extremamente inteligente, sabia sobre os astros, seus movimentos, suas influências.
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Me Leve Para A Terra Do Nunca ( EM REVISÃO)
Fantasy#1 em peter pan 25/6/2019 #3 em fantasia 5/01/2020 #3 em aventura 10/5/2018 #7 em romance 22/7/2019 #9 em mistério 28/12/2018 Adaline Darling nunca se sentiu verdadeiramente parte de algo. Talvez fosse a orfandade ou a crianção rígida da vó, quem...