Meus pés delizavam pelas folhas, o corpo desviando o máximo dos galhos conforme os olhos se acostumavam a luz dos primeiros raios da manhã. A sensação de umidade e o cheiro de orvalho com um toque doce e leve guiavam inconscientemente a direção dos meus passos.
Então a floresta desaparecia ficando cada vez mais rala, conforme as árvores frondosas eram substituídas por arbustos e gramíneas. A clareira se abria no meio da floresta, de repente, como um oásis no deserto.
As flores brotavam do chão formando um campo colorido com tons de roxo claro. Lavanda.Ela estava lá deitada na terra, de barriga para cima enquanto contemplava a tela que se pintava de amarelo. Deitei-me ao seu lado, sentido as folhas se acomodarem embaixo de mim, confortavelmente.
-Você voltou afinal.
-Voltei.
A mão enrugada tocou a minha com um aperto leve. Seus olhos azuis se viraram para encarar o meu rosto de seu cabelo branco, quase cinza se espalhava pelo chão de flores. Pela primeira vez em muito tempo, seus fios não estavam presos.
-Isso é bom,sempre soube que você era uma menina corajosa.
-Espero que sim.
Vovó apertou seus olhos, analisando a minha imagem, franzindo a sobrancelha, ponderando as palavras com dificuldade.
-Você sabe que tem escolher certo Adaline? Entre os dois. - seus olhos azuis não se desgrudavam da minha face analisando cada detalhe da minha reação.
Desvio o olhar do dela, me perdendo na imensidão azul do céu. Eu já havia escolhido há tempos atrás.
-Vou ficar com a terceira opção.
Ela arqueou as sobrancelhas surpresa e os lábios se estreitaram num meio sorriso discreto.
-Já pensou em tudo o que está em jogo? -comentou a velha ao meu lado, com os olhos distantes no céu, vislumbrando nas nuvens as consequências do futuro.
-Um zilhão de vezes. - respondo voltando minha atenção pra ela,arqueando as sobrancelhas como quem diz "não há mais nada a ser feito." Afinal era a única opção que me deixaria dormir em paz.
-De fato uma menina corajosa.
Uma vertigem tomou conta da minha barriga, minha visão começou a enturvar. Os ruídos do exterior chegavam desconexos no meu ouvido, senti que acordaria a qualquer minuto.
-Sinto sua falta. - digo rapidamente com medo de desaparecer.
-Eu também sinto a tua.- ouvi sua voz ecoar na minha mente quando tudo escureceu.
A coruja da Sininho estava bicando o canto do meu braço para que eu acordasse. Não era forte, mas funcionava como mini beliscões irritantes. A voz da fada resoava baboseiras na minha cabeça enquanto ela me amaldiçoava por ser uma mestiça preguiçosa.
Soltei um suspiro ciente de que seria impossível voltar ao meu sonho e conversar mais com a minha avó. Na real, eu havia tentado. Estava figindo dormir a pelo menos 10 minutos, tentando usar a força dos meus pensamemtos pra me carregar de volta a onde eu estava, mas falhei, é claro.
Abri os olhos e encarei Sininho com o ódio que fervilhava no meu peito, por não impedir que a coruja continuasse me cutucando. Ela mostrou a língua pra mim.
-Você está me olhando como se pudesse me queimar viva.- comentou a fada com uma risadinha baixa quando resolvi me levantar.
-Talvez eu esteja pensando exatamente nisso. -ponderei com uma careta divertida. Notei que Sininho usava uma pequena capa, por cima das roupas, adaptada para o seu tamanho, provavelmente para esconder as asas mutiladas.
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Me Leve Para A Terra Do Nunca ( EM REVISÃO)
Fantasy#1 em peter pan 25/6/2019 #3 em fantasia 5/01/2020 #3 em aventura 10/5/2018 #7 em romance 22/7/2019 #9 em mistério 28/12/2018 Adaline Darling nunca se sentiu verdadeiramente parte de algo. Talvez fosse a orfandade ou a crianção rígida da vó, quem...