Bônus de 10K- A mestiça.

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Narradora POV On

Ele sabia no momento em que fizera vinte e um que sua vida estava mudada. Era um adulto agora e estava disposto a fugir das garras da matriarca de uma vez por todas.

Crescerá toda a vida recluso. Preso pelas mãos da mãe coruja. Trancado dentro de casa, ele aprendeu a desvendar os mistérios ocultos. Fora o primeiro a descobrir a amante do pai. Notava o cheiro de perfume barato. Via os olhares discretos do homem ao fazer ligações particulares.

A mãe era a mais amorosa possível. Dona de casa, se ocupava em cuidar da residência milenar dos familiares. Era o homem da casa. Lavava, passava, cozinha, trocava lâmpadas, fazia consertos e tudo o que precisasse. Era supersticiosa ao extremo, motivo pelo qual ela o privava de uma vida social minimamente normal.

Ahh sim, e também haviam as cartas. As cartas que pareciam ser a única coisa além do próprio filho capaz de trazerem felicidade. Jane dizia a todos que era de uma amiga distante, dos tempos em que esteve no abrigo durante a guerra. Ela as recebia sempre, mais ou menos quatro vezes ao ano. Guardava cada pedaço de papel escrito dentro de uma gaveta trancada por uma das milhares de chaves que tinha pendurada ao cinto.

Numa madrugada qualquer, quando já completará quinze anos, acordará  com gritos. Devia ser por volta de quatro da manhã quando o pai voltará bêbado de mais uma das noites de aventura. Jane estava ocupada demais descobrindo sobre o adultério e deixou a porta do quarto aberta.

Ele entrou e encontrou o molho de chaves jogado sobre a escrivaninha. Aproveitou o momento. Destrancou a gaveta e tomou posse das cartas.
Não ligou para os gritos ensurdecedores que vinham do andar de baixo ou para a discussão fervente sobre como eles haviam deixado a família toda ruir. Passou o resto da madrugada lendo no quarto.

Querida Jane,

Como vão as coisas? Estou a quase uma estação sem novidades suas. Passei na Pescaria do Freddy depois de quase um quatro meses e me deparei com o bisneto dele. BISNETO. Era ele quem tomava conta da loja agora. Parece que antes de morrer Freddy havia feito questão de deixar bem claro, o que eu vinha fazer na cidade e qual era o seu papel. Era um bom homem, espero que esteja em paz. OU nadando com algumas das sereias mais bonitas... Perdão, você sabe que não consigo me conter.

Deixei as quinquilharias de sempre lá, artefatos vindos de todos os reinos. Coisas não muito chamativas. Enfim, fiz um bom dinheiro nesses últimos tempos. Não que eu precise. Estou nisso há uns mais de setecentos anos e tenho dinheiro suficiente em todas as culturas para viver como um rei em qualquer lugar.

A situação na Terra do Nunca é a mesma de sempre. É pacífica pela manhã enquanto crocodilo vai roendo-a aos poucos pela noite. Você sabe que não gosto de lá então não vou me alongar sobre isso.

Faz tantos anos que não te vejo que só consigo lembrar de você como a garota de quinze anos que era. Sei que já está com cabelos brancos, mas isso simplesmente não faz sentido. É o seu filho? O pequeno Jonathan? Ele já deve estar bem moço não é? E quanto ao canalha do seu marido? Aquele idiota continua te menosprezando?

Mande notícias. Estarei de volta a Bournemouth daqui mais ou menos uns quatro meses e ficarei por cinco dias, então, talvez queira vir dar um 'oi' ao seu velho amigo.

É com enorme saudade que lhe escrevo,
Gancho.

No dia seguinte o pai de Jonathan saiu de casa e não voltou mais. O divórcio também não demorou. O garoto jamais iria voltar a ver o pai de novo. Não que isso fizesse diferença. Pra ele foi melhor dormir sem as discussões constantes lhe acalentado o sono.

Me Leve Para A Terra Do Nunca ( EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora