Capítulo 38- A bela e a Fera.

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A respiração ritmada dele começou a se alterar em grunhidos abafados e tosses secas. Peter se levantou retirando o braço que fazia as vezes do meu travesseiro e afastando o corpo quente que fazia o papel de cobertor. Instantaneamente senti a brisa fria da noite lamber a minha pele dando-me arrepios.

A tosse dele passou rasgando o peito num barulho infernal, um engasgo dolorido. Pan vestiu as roupas e se apoiou sobre a parede de barro do quarto quando mais um ataque de tosse o acometeu. Ele se virou pra mim e pediu sem dizer uma palavra que eu continuasse no quarto, não ousasse sequer segui -lo como da última vez.

Ainda estávamos tecnicamente brigados mesmo depois de tudo o que aconteceu a nada menos que poucas horas atrás.  Peter pegou um dos meus lenços e levou a boca quando foi atingido por um violento ataque de tosse. Aquilo tinha som de tortura e cheirava como morte. O lenço branco foi dobrado e enfiado rudemente no bolso da calça, segundo antes que Peter deixasse o meu recinto no meio da noite sem dizer nada.

Eu vi. Mesmo que a luz da chama não fosse boa efetivamente e que o movimento entre o tossir e o dobrar do lenço tivesse durado menos de meio segundo...havia sangue ali. Peter estava tossindo sangue. Isso não é nada bom.

Desde quando ele vem estando assim tão doente?

Obviamente eu não vou conseguir dormir mais. Tenho que me conter para não ir atrás dele nas profundezas dessa noite escura mas a lembrança daquela criatura horrenda volta e meia reaparece na minha frente, turvando a minha visão e deixando as pernas bambas.

Visto minha única calça jeans e um moletom pesado que trouxe da Inglaterra. Pego a tocha com uma das mãos e saio tateando pelo escuro até o grande salão. De longe observo o quarto dos meninos perdidos e caminho até lá.

Evito entrar para que a luz da tocha não os acorde. Estão todos alinhados no quarto, dormindo em redes. Vejo olhos azuis brilhando na escuridão e reconheço a coruja de Yakecam que observa os arredores como uma brava sentinela.

Sentei-me no banco improvisado de madeira e ateei fogo a lareira para que voltasse a crepitar. Pude me aquecer enquanto cortava algumas das ervas que Trixie havia dito que eram boas pra garganta.

O brilho dourado veio se aproximando até parar a uma distância razoável. Sininho pousou no banco de madeira ao meu lado, sentando-se  enquanto observava o fogo.

Estava usando um casaco verde rústico, com uma túnica pesada de algodão. As vezes eu gostaria de saber como essas fadas conseguem roupinhas tão fofas num tamanho tão minúsculo. Minhas Barbies  não tinham esse privilégio.

-Se divertiu muito?-Sininho perguntou cortando o silêncio.

-Como assim me diverti? -indaguei para a fada enquanto erguia uma das sobrancelhas.

- Você e  o Pan pareciam bem entregues aos prazeres da carne ontem a noite.-ela falou com um meio sorriso sugestiva. -Afinal eu nunca pensei que você fosse do tipo submissa, com todo aquele lance de "tire a roupa", "fique quieta" e blá blá blá...Confesso que foi engraçado.

Estou boquiaberta. Preciso que alguém me ajude a pegar a minha boca porque ela foi lá no chão. É isso mesmo o que eu estou ouvindo?

- Você viu? -falei simplesmente.

-Só o começo, quando as coisas começaram a ficar mais profundas eu fui embora. Adaline eu tenho coisas mais importantes pra fazer do que assistir a suas meras atividades reprodutoras.

- Não acredito que estou tendo essa conversa com você.-digo simplesmente.

-Tomou o chá? Não vai querer ficar grávida.- Sininho disparou e engasguei com a minha própria saliva.

Me Leve Para A Terra Do Nunca ( EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora