Manhã dolorida. Uma ressaca daquelas

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Amanheceu. Depois de mais uma noite comum em Treffen. A luz da manhã adentrava pelas janelas como um véu quase transparente, pintando na escura madeira, a forma das janelas. Carmilla se revirava no chão. Tentava distinguir entre o frustrante dia que tivera e, seu maravilhoso sonho de poder ir para outro mundo...

Quando sentiu o nariz bater na porta do armário abaixo da pia, constatou que; tirando o milagre da espada funcionar, todo o resto fora verdade. Uma visita à toa, o peixe, uma lamina inútil que não obedecia. A frustração dentro de si parecia querer abrir suas costelas. Então puxou o cobertor para dormir até suas costas doerem. Cobertor?

Apertou aquele tecido azul, grosso de capote de frio e, aquele perfume gostoso invadiu seus sentidos. Virou-se para dentro do balcão com as costas coladas na curva e, as pernas para dentro da cozinha. Danny e Laura dormiam sentadas, com a bochecha da mais alta no topo da cabeça da mais baixa. Sendo que a mais baixa estava mais próxima a vampira. Carmilla ergueu-se apoiada sobre as mãos, mirando a garota vestindo um macacão com um aplique ridículo de cachorrinho sobre o bolso da frente.

Alguém bateu na porta da frente, ou tentou derruba-la com tamanha força que batia. Carmilla segurou a cabeça que ameaçava explodir com aquelas batidas – uma ressaca boa – ela pulou o balcão, mas acabou caindo com um pé enroscado no banquinho. Levantou bufando para abrir a porta, imaginando mil e uma maneiras de estraçalhar alguém. Porém mais uma vez seus planos foram frustrados, pois mal deslizou o ferrolho e, a porta a atirou violentamente no chão, a desnorteando ainda mais com a cabeça estourando. Quando percebeu havia um homem muito forte sobre ela, berrando como um mamute.

- Onde esta minha filha?! – Gritava ele – Onde esta minha Lau... – A fala fora interrompida por um machado bem fincado no chão a poucos centímetros dele. Ele virou o rosto para o balcão, onde Danny o reconheceu, e ficou aliviada por errar a mira.

- Pai? – Disse Laura apontando uma colher de pau entre os dedos. Sherman saltou do chão, correu para o balcão puxando a filha junto dele – Eu to bem, eu to bem – Suplicava ela, enquanto seu pai a virava de ponta cabeça, procurando ferimentos.

- Bom dia senhor Hollis – Disse Perry descendo as escadas no corredor seguida de LaF ajeitando os suspensórios. A dona da casa foi para a cozinha. Danny tirava o machado do chão, pensando no que teria acontecido se tivesse acertado. Por sorte sua mira não era tão boa.

- Que aviso ontem, mas não escutei nada além dos aviões. Teve alguma coisa na cidade? – Perguntou LaF sendo ignorada ao estender a mão para Carmilla que, se levantou sem ajuda de ninguém.

- Só os aviões e as sirenes mesmo – Respondeu Sherman tirando as mãos do pescoço de Laura – Nem uma misera bomba. Essa guerra podia acabar logo. Quase como os travesseiros pensando se minha filha esta segura – Mirou de soslaio á ela que, ia sentando numa cadeira – Penso em como deve estar a loja. Berram as sirenes, as luzes apagam, e os Trollers atacam.

- Ai meu deus, a loja – Resmungou Laura com a testa na mesa – Da ultima vez... – Da ultima vez, passou o dia varrendo os restos da vitrine na calçada.

- Aqui – Chamou Perry com algumas canecas de café com leite e biscoitos. Laura pegou a bandeja mais pesada e foi distribuindo as canecas. Todos se sentaram em um canto, mas ainda próximos o bastante para conversarem.

Chegando ao ultimo copo. Mirou Carmilla, praticamente desmaiada sobre a mesma mesa da noite passada. Laura encheu o peito e foi até ela.

- Ei – Chamou ao lado da mesa – Toma, vai melhorar – Disse carinhosamente para o emaranhado de cabelo que nem se virou para ela.

- Vamos indo – Disse o senhor Hollis após terminar o café da manhã junto a filha. Ofereceu carona as amigas de Laura. Danny aceitou um pouco sem jeito – quase matou o homem a pouco – LaF apanhou o casaco na porta da cozinha, dando um discreto abraço em Perry antes de sair.

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