Wanna Know?

74 5 15
                                    

Carm POV

Algumas horas mais tarde e a vampira saiu da cama.

Naquela dúvida cruel: tomo café ou almoço?

Os dois.

Encheu uma caneca de café, apanhou um pernil de leitão, e sentou-se no sofá da janela. Abraçou os joelhos, mirando a resto de inverno sob a tímida primavera. Os movimentos ainda eram tanto doloridos, mas chega uma hora que até da cama você cansa.

A camisola de fino algodão, alguns babados, era quase como voltar no tempo. Aghi se encarregara de vesti-la, exatamente como anos atrás. Roupas que não ficavam muito tempo em seu corpo. A rendas na ponta das mangas, esganados por um fino e brilhante cordão dourado. As delicadas rendas caiam do pescoço ao calcanhar, soltos como cauda. A imagem de uma virgem donzela à janela, esperando o amor bater sua porta.

Tamanha delicadeza era esquecida, quando a carne do pernil, desprendia dos ossos, entre os dentes da morena. Comia como um marinheiro a muito longe de terra firme. Voraz, e sem qualquer coisa da chamada boa educação. Mas sinceramente, a quem hoje ela devia impressionar. Tempos atrás seu pai a repreenderia; Ana no entanto, era quem a acompanhava nas disputas na cozinha: qual delas comia mais amoras. Ambas terminavam pintadas de roxo, lilás, azul e vermelho. A camisola sempre tinha uma manchinha de diversão. Ou a ponta dos dedos, ou os lábios.

Recordou de quando juntaram o vermelho nos lábios de uma, com o lilás da outra. Foi a primeira vez. A nostalgia arrematou seus olhos, por que estava lembrando disso?

Anayta Tiell. A jovem criada, filha da cozinheira a trabalhar no castelo. Pensando bem, não pela primeira vez lembrava dela. Uma certa loirinha a se assemelhar a jovem, e o que isso tem haver?

- Acho que não vou ter de trocar os curativos hoje. – Disse Chlloe examinando o rosto da vampira entre as mãos.

Realmente estava se curando rápido, coisa que a tempos não era nessa velocidade.

- Obrigada por estar lá. – Disse à canina.

- Nã-nã-não foi nada, a Sam que insistiu em vir.

- Eu nada cadela! Por mim, a gente tava em Paris! – Acusou a gata, o que corou ainda mais a face da canina.

Chlloe ficou sem saber onde esconder o rosto, então saiu atrás de Sam. Duas mulheres adultas que pareciam duas crianças pulando no sofá, vestindo toalhas.

Não demorou até que ambas tomassem os pelos, e a gata e a cachorra brincassem de morder no pé da vampira.

Carm sorriu. Pois não ia esquecer fácil do inferno pálido o qual escapara. E não pela primeira vez, fora salva pela cadelinha.

Terminou o café almoço, e teve de lidar com a cara de cachorro pidão. Os olhinhos brilhantes, focinho cheirando o ossinho, e o inconfundível choro.

- Sério isso? Tem mais ali. – Mas o que o totó quer, é o que o totó quer, e ela lambeu o focinho pedindo a sobra. – Toma. – Carm entregou o osso desacreditada da gula da peluda, que com todo cuidado pegou o mimo sem machucar a dona.

A vampira soltou o ar pesadamente. Era inevitável o assunto, e sim tinha a ver com Laura.

O que aconteceu naquele elevador?

O gostinho sem sabor ainda pairava na memória.

E Carm não pode deixar de sentir culpa, em não conseguir ser o monstro que é. As palavras amargaram, ao ponto de seus olhos ameaçarem água.

Monstro.

"Você não é um monstro." Escutou dentro de si, como um pequeno e esganado feixe de luz.

One More NightOnde histórias criam vida. Descubra agora