Don't talk about it - parte 2

57 3 3
                                    

Carm POV

Como os grandes guerreiros de outrora, devotos a batalha, bem-vindos dos salões dourados nas chamas de eterna glória. Sete dias de festas, banquetes, muita alegria e música, eram os precursores da ida aos salões dos deuses, e partida da morte para a vida.

Não houvera sete dias para qualquer coisa, nem mesmo canto entoado nas montanhas de Treffen, somente o silencio de uma garota frente a pira funerária, queimando o corpo de uma guerreira.

Os olhos de Carm permaneciam fechados, quando o segundo nascer do sol a atingiu. Embalsamada do calor vindo do fogo, e as cantigas e histórias no sangue dela, e da outra. A noite inteira o calor consumira o corpo, limpo, arrumado e bem cuidado para o último adeus. Longe da cidade e de qualquer olho curioso.

Ao seu lado, sua fiel amiga, que não abanava o rabo, e compartilhava do sentimento. A vampira acariciou-a entre as orelhas do enorme cão.

- Mate qualquer um que se aproximar. – Proferiu em tom ameno, pronto a romper em lagrimas. O pescoço ardia junto da queimadura na bochecha, as articulações dos joelhos rangiam de tanto tempo em pé, mas nada disso era maior do que o ardor do que queimava por dentro, além mesmo do fogo da pira.

A morena deu as costas à pira, indo em direção as arvores sem movimento, mesmo o vento mostrava respeito, quieto do diante do luto. Carm aproximou-se de uma das arvores com um machado de cabo escuro enterrado na casca de semelhante tom. Horas atrás a curva lâmina localizava-se enterrada no peito da caçadora. E como o fez do corpo, arrancou-o de uma vez da arvore, ergueu-o a altura dos olhos vermelhos refletidos no fio. Dali buscaria seu amo.

***

Laura POV

Um quarto de hotel escuro, ermo ao olho e a alma. Chão de taco rajado, daquela mistura de cores que francamente, quem acha bonito para pôr no piso de casa? Talvez o quarto fosse menos esquisito com um pouco de luz, mas nada passava pelas enormes cortinas que nem ar deixavam passar.

Laura abriu-as como a camareira de um rei preguiçoso. Até a luz entrou preguiçosa, tamanho era o insosso marasmo do quarto, que as sombras estavam mais grossas. E era apenas um dos vários quartos de hotel usados pelo pai. Sherman era um homem extremamente preparado, precavido de tudo, mas depois da morte da esposa, ele ficou mais desconfiado, e com a guerra muito, mas muito paranoico. Ao ponto de trocar o nome da filha para não ser rastreada, não ter endereço fixo, bem como nunca passar mais de uma semana no mesmo quarto de hotel.

Como os outros, não havia nada, nem carta, recado, bilhete, nada; nem chiclete colado embaixo da mesa, nada do pai deixado para trás. Laura sabia dele ser assim, cuidadoso, mas sério, nenhuma migalha deixada para ela, nenhuma mensagem marcada a bafo nas vidraças? Ou carta escrita em papel higiênico, enrolada em plástico dentro da caixa de descarga?

Estava difícil, tanto que a criatividade estava começando a faltar.

Bom, havia mais um lugar, mas se esses estavam limpos, não havia se quer chance daquele último ter algo. O único lugar que poderia ser chamado de casa, mas somente após a guerra, quando seriam ele e ela a povoar um lugar chamado de lar.

A casa dos Hollis.

Não era assim que chamavam, apenas de "um dia vamos morar aqui", mas quando tudo estiver bem. E quando é que seria esse dia?

A jornalista decorara desde muito pequena todo o gigantesco manual de segurança do pai, e desde pequena ensinada a não desrespeitar as regras para manter o bem. Mas a natureza da loira nunca fora de respeitar limites, nem mesmo quando a proibiam dos biscoitos, com o pote no topo do armário; só dava a pequena empilhando livros equilibrados num banquinho sobre uma cadeira em cima de caixas de peras genovianas.

One More NightOnde histórias criam vida. Descubra agora