Tribunal, triangulo, e tentando ficar longe

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Pouco mais de seis da manhã, Treffen acordava com os galos chamando o sol, o inverno guardava seus sinais mesmo com o natal tão próximo. Cedo e Carmilla estava de pé ao lado da janela do quarto, aguardando com os olhos fechados e um sorriso fofo no rosto. Fraco, mas aumentando ao longo da rua, em pequenos passos e pequenas escorregadas, os batimentos de Laura. As ordens foram para ficar longe.

Norma guarnecia o primeiro quarto do corredor, a promotora saberia se a renegada tentasse qualquer coisa, a juíza e a carrasco tardavam a retornar da caça ao centurião, o que prolongava a separação e, aumentava a saudade, mas ao mesmo tempo avisavam a vampira do perigo, essa havia sido quase; envolver a jornalista era colocar uma corda em seu pescoço - pescoço que Carmilla amou morder - além do mais, a morena não estava ali para se envolver com ninguém, tinha de ir para seu mundo.

Carmilla terminava de tirar mais alguns curativos, se olhando no espelho do armário, o corte da adaga ainda persistia sem se curar. Vestiu uma surrada calça jeans, e foi para a mochila procurar uma camisa, pois a que usava fora destruída por Garu.

- Não acredito! - Suspirou ao não encontrar outra camisa na mochila, descrente ela virou tudo no chão. Caíram vários livros, um par extra de botas de cano baixo, outras calças - nenhuma de couro - dentre outras peças de roupa e algumas trouxas lotadas de carne seca de alce. A vampira ainda não conseguia se alimentar, mas um pedaço da carne seca e salgada entre os dentes era bom para distraí-los enquanto buscava qualquer vestimenta da parte de cima.

Acabou por recatalogar seus queridos livros, revirar alguns panos dobrados com alguma flor ou erva de algum país que passara, sorriu ao encontrar uma pulseira de couro com uma asa metálica, alguns dos presentes de sua mãe.

- Até que enfim voltou, já estava indo pular no lago atrás de você - Resmungou para a lateral da lareira onde uma estranha aura distorcia o ar e, Death Kiss surgia da ponta para o cabo recostada na parede - Só vou ter de fazer uma coisa antes, tipo arrumar uma camisa nova e, depois você vai me levar, dessa vez é sério! - Ela ficou em silencio como se realmente esperasse uma resposta da lamina inerte.

A vampira tinha entre os dedos vários bilhetes de embarque que já tomara, embora viajar de graça fosse fácil e até divertido, as vezes comprava a passagem para ter consigo alguma lembrança, era solitária a vida antes e depois do caixão, por um instante lembrou dessa solidão quando seus olhos se prenderam numa pequena caixinha de madeira no meio das recordações. Sua mãe havia lhe dado aquela caixinha com uma rosa dos ventos entalhada na tampa, dentro dela um colar com um pingente de cristal azulado, o dedilhou sentindo as pontas dos dedos gelarem. Depois deitou os olhos num embrulho menos prazeroso de recordar, entre as camadas do lenço de seda, desenrolou uma gargantilha de couro negro, adornada de prata e rubis vermelho sangue, estes que um dia tocou e provou, em especial a pedra que coroava a peça, do mesmo tamanho que os outros, mas o décimo terceiro brilhante perto do feixe era dolorido no peito de Carmilla.

- Será melhor mesmo que ela não fique comigo - Firmou em voz alta, na mesma hora alguém bateu a porta. A morena imaginou ser Norma, porém uma surpresa dominou a vampira ao se deparar com a jornalista parada no corredor.

- Ah oi... - Laura perdeu o fôlego ao ver a morena, ainda mais coberta pelas ataduras a acentuar as curvas na parte de cima - Meu Deus você esta bem? Se machucou?

Carmilla estava muda, acabara de dizer, acabara de prometer e, estava bem ali sua perdição.

- Você ta bem mesmo? - A jornalista perguntou com o pouco de fôlego que pode tomar e a face mais quente.

- Estou bem Laura, e você? - Por instinto a vampira acariciou o rosto da loira.

- To bem, feliz com esse tempo mais quente, mas o natal ta chegando, então vai esfri...ei pera ai como você sabe o meu nome? Nos conhecemos? - A vampira engasgou - Me diz, a gente já se viu por ai? Como? Acho que nunca te vi na cidade, antes de você rolar a escada, foi daquela vez que você ficou assim? - A loira ficava boquiaberta com os perigos de degraus metálicos do Punkt.

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