Na trilha dos ursos

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A estrada de Getroffen estava meio quilômetro atrás das três mosqueteiras. Com a densa e pesada floresta Karnstrong, rendendo suas corujas de olhos amarelos, para ornar com o ranger e farfalhar das altas e antigas árvores. A lua presa no meio do céu clareava o chão e, o lado das arvores, para que as garotas não batessem o nariz. Mas era bom ter cuidado. Neve ainda que pouca, não combinava com descidas íngremes como aquela. A trilha que seguiam, apontava para nordeste, ladeando a face sul dos Alpes.

LaF puxava a ponta da fila, tinha uma boa memória para mapas, geográficos ou anatômicos. Não importava. A samaritana com cabelo de fogo era o tipo de pessoa a qual eram os livros que se enjoavam dela. Laura no meio tentando identificar qualquer sinal de trasgo.

-Cuidado por ai – Aconselhou Danny sendo a ultima. A alta lenhadora sabia como podiam ser traiçoeiros os inocentes raminhos de grama úmida – Falta muito? – Perguntou preocupada com deslizes.

- Não. Ta bem perto – Respondeu a bióloga apertando o paço.

- Esta cansada Danny? – Laura sorria sobre o ombro e, recebeu um sorriso no canto da boca da outra como resposta.

- Não. E você?

- Eu estou ótimaaa... – Laura desceu uns vinte centímetros com a perna direita estirada na descida, enquanto a esquerda estava enterrada num buraco.

- Eu disse pra tomar cuidado! – Disse a lenhadora puxando a jornalista de campo – Você esta bem? – Ela tirava a as folhas grudadas no capote azul.

- To sim, valeu. Meu deus Danny você esta gelada! – Constatou ao sentir a pele dos braços sob a camisa de flanela azulada com fios verdes no ombro.

- Ah! Não é nada.

- Ta maluca?!

- Relaxa – Falou com as mãos nos ombros da loira – Suei muito hoje, não queria andar do seu lado fedendo como um urso – Laura deu um tímido sorriso. A lenhadora fazia sua face esquentar.

- Gente, oi. Aqui – LaF chamou o casalzinho ternura, do topo de uma cratera. A bióloga adentrou o buraco a céu aberto. Laura e Danny a alcançaram – Mas o que?! – A doutora engasgou, olhando para todos os lados.

- Ta, e o urso? – Perguntou Laura.

- Eu também quero saber – Disse LaF procurando o animal o qual aquela pata em seu cinto pertencia. Porém não havia nada além de neve, terra revirada e, umas arvores com a base estourada – Ah! Raios, não pode ser! Onde esta? – Questionava cavoucando o chão.

Danny observava as arvores com a madeira saltada como lanças. A amazona nem piscava, olhava o chão como quem lê um livro. Caminhou até uns arbustos para a montanha. Agarrou alguma coisa presa nos galhos mais baixos e, fechou a cara ainda mais ao desenterrar com os pés o que LaF achara o inicio do outro lado.

- Danny – Chamou LaF.

- Foi pra cá – Disse com todo pesar na fala, segurando um tufo de pelo entre os dedos.

Laura deitou os olhos no que as duas haviam encontrado. E perto da doutora havia uma enorme mancha vermelha congelada. A marca parecia arrastar na direção do arbusto, onde a lenhadora desejava ter um pedaço de peroba para apagar as duas e, as afastar do gritante perigo em seu coração. Relutante. Danny guardou as costas das amigas. Conhecendo muito bem do gênio delas.

A passagem escondida atrás do arbusto era um vão entre dois altos picos. Uma suave subida levava as garotas. Quanto mais subiam, mais frequentes eram as marcas vermelhas nos sulcos das paredes, no chão, e vez ou outra, LaF abaixava para pegar uns tufos do pelo pardo.

***

Carmilla seguia o grupo até a cratera. Tendo esperar o ataque de risos passar, por conta da loira. Ela parou frente à borra rubra no chão, mirando a madeira estourada.

- Isso fui eu – Disse para si com aquele borrão e as arvores destruídas.

Entrou na mesma fenda atrás do grupo. Vendo os mesmo borrões de sangue, naquilo murmurou um "Isso não fui eu" – zangada e, com sede. Ainda coberta de verde. Atirou a espada com tanta força que, abriu aquele buraco. Socou as arvores descontando a raiva. E com prazer lutou com aquele urso enorme, até prender os dentes nele e, beber tudo o que aguentasse...nem de longe a satisfez – ao fim do caminho, a passagem se abria num barracão, equipado de uma roda d'água.

Carmilla pulou atrás de uma carroça velha com o guinchar da porta. Mais alguns segundos e, Danny passou amparando Laura que quase vomitava, enquanto LaF as seguia. As três sumiram na curva da passagem. Pôs-se de pé, apreciando a construção, provavelmente mais antiga que ela.

Marcas de lama até o meio das paredes sustentavam uma singela faixa de tinta verde, separando a alva neve do escuro chão. Carmilla abriu o pequeno portão para entrar – um cercado torto e velho com arame farpado – o fechando com cuidado antes de prosseguir – uma fútil delicadeza, uma piada interna para sua diversão – passou pela porta sem ter de abrir mais. E dali mesmo, viu o que teria provocado o mal estar da loirinha. Os destroços do que um dia atrás fora uma ser vivo...alguns tufos de pelo de urso. Restos de músculos rasgados. Um açougue.

A vampira puxou o ar para seus pulmões. Soltou os braços do lado do corpo, suspirando e, tornou à porta. Ela havia deixado o urso sonolento, mas não o matara. Tinha alguma coisa ruim, estava à espreita, sabia exatamente o que era e, que seria um pé no saco se os encontrasse.

- Tomara que só estejam de passagem – Bufou, quando sentiu um calombo sob o casaco. Enfiou a mão no bolso, tirando o pequeno pacote que Laura lhe deixara – Cookies – Constatou ao abrir aquele pequeno laço. A vampira abocanhou uma dos discos de baunilha e saiu andando sem dar muita importância para a casa dos horrores. Os pedacinhos de chocolate derretiam na boca enquanto a massa não era puro açúcar. E tinham o cheiro dela...

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