A bela adormecida

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Laura POV

Ruas de um duro cinza, telhados de um macio branco, ou seja, um frio do caramba. Dias propícios a cobertas e chocolate quente. É se você não estivesse trabalhando...e será que não estava?

O quarto cingido da pálida e cadavérica luz do céu prateado. O mais retumbante silencio preenchia o ambiente inerte. A não ser pelos resmungos da bela adormecida sobre a cama. Laura se remexia no quentinho da coberta fofa, esticou as pernas tendo aquele choque geladinho de uma parte não usada na cama. Ainda sem abrir os olhos, escutou a porta do quarto, e alguns passos em direção a cama. Depois sentiu a mesma afundar perto de si. Alguém se sentara a seu lado.

- Laura. Laura, acorda. - Era a voz de Carmilla. Desgraça, mas porque não podia acordar desse pesadelo com a ex? Aliás talvez fosse pesadelo, e estivesse enfim acordando dele. Sem a outra, sem os maus dizeres de egoísta. - Você tá dormindo faz quatro dias, e vai ser difícil eu convencer os babacas de capa preta, que você tem catalepsia, ou uma overdose de açúcar.

- Quatro dias?! - Laura levantou de uma vez, sentando para cair de volta na cama. Seu corpo estava quente por fora, mas frio e desforme por dentro. Dava para dizer que se sentia feito um coxão d'água.

- Vai com calma tá. A quanto tempo você não tira esse colar? - Carmilla mostrou o singelo objeto.

- Sei lá, não é da sua conta. - Laura tentou pegá-lo, porém foi negado pela vampira. - Me devolve, é meu. Você que me deu, então é meu. Eu to pelada! VOCÊ TIROU AS MINHAS ROUPAS?!- Vociferou.

- Você já tava pelada quando tombou. E eu vou te devolver o cristal, porque não vai ter outro jeito de você sair dessa cama sem ele. Mas me promete que quando isso tudo acabar, você vai se cuidar direito. - Disse enquanto a loira apertava os nós no cordão arrebentado.

- Igual você fez? - Questionou pronta para uma briga. A pergunta deve ter surpreendido, dada a demora da resposta e a mudança de semblante na morena, mas ao contrário do que esperava, a cara de espanto foi rapidamente à um violento sarcasmo.

- Se ajudar. Claro que vou ter de perguntar pra Craule se ela topa à três. Ou você prefere o Raphael? - Laura irou-se. Porém dessa vez; dessa vez ela ficou olhando enquanto a vampira segurava firmemente seu pulso. - Chega disso. Se for pra você ficar dando chilique e brigar comigo a cada vez que abre a boca, eu prefiro não falar nada. E vai ser assim a viagem toda, até você voltar pra Treffen. Porque eu não posso voltar sem você, ou me matam. - A seriedade na voz e o olhar da vampira, mostravam que ela não estava de brincadeira, ela não era uma garota estupida e mimada, ao menos não agia mais como uma.

A porta fora violentamente vitimada de fortes batidas. Seria o serviço de quarto?

Devido ao estado da loira, Carmilla não permitira ninguém adentrar os aposentos. E tudo quanto precisasse, pedira que deixassem à porta, sem mais aborrecimentos. Explicou-a.

Laura levantou-se indo em direção a sua mochila - limpa - na poltrona. Vestiu uma calça, junto uma camiseta e um suéter azul bebê, com a estampa de um cachorro com a linguinha de fora. Talvez devesse agradecer, afinal...afinal o que?! Para início de conversa, nunca pedira por companhia alguma. De uma forma ou de outra, a presença da morena a irritava profundamente, não bastasse a traição na cara dura, anda tem que ficar atrás, só para fazer passar vontade?

Passar vontade?

Pera quê?

Foi então que os humores mudaram em segundos, tempo o bastante para a pálida girar a maçaneta e sem aviso ser beijada por uma mulher de cabelos castanhos.

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