Wien Carnival - parte 1

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Laura POV

A porta fechou às costas da loira no corredor. Do lado de dentro podia escutar o chuveiro ser ligado – o banho de Carmilla.

Um tanto confusa quanto ao que sentir, raiva e pena se misturavam, dando forma a uma confusão em sua mente já bagunçada. Porém, de nada adiantava ficar com pena, pois a qualquer toque, qualquer olhar, tornava a raiva, raiva dela...

Laura deu dois tapinhas em suas bochechas. "Chega! Vou andar um pouco!" e foi ela para o saguão. Marqueses e condes, e a alta aristocracia caminhava de lá para cá. Uns iam, outros vinham, uns gargalhavam e outros xingando as acomodações paupérrimas do segundo melhor quarto – frescos.

Ela sentou-se num canto do pequeno bar no enorme salão. Observou os vários carregadores empurrando aos trancos a bagagem da baronesa Mirovigio – está certo que três malas não seriam problema, mas cada uma delas era do tamanho de um jumento, e com o peso de um – quatro homens eram necessários, dois para empurrar dois para puxar.

Cada um daqueles monarcas a seu jeito, chiques vestidos, casacos de peles para as mulheres, com seus roliços pescoços e colares de pérolas do tamanho de olhos. Os homens tinham suas abotoaduras apertadas, e gravatas sumidas abaixo da papada.

Faxineiras amaldiçoavam os céus pelas horríveis manchas de lama no tapete persa. E adivinhem quem era responsável pelo rastro das patinhas, não é mesmo Laura?

- Por conta da casa. – Disse o bartender, empurrando uma taça sobre o fino balcão mogno.

- Eu não bebo. – Respondeu de pronto.

- É refrigerante com rodelas de laranja e gelo. – Sorriu ele em seu ralo jovial bigode.

Um refrigerante, que mal teria? O pior é que estava bom. Docinho na medida, que não dá sede de cinco litros de água logo depois de um gole. Como sabia ele do não gosto pelo álcool? Como sabia ele, as preferências de todo deprimido que encostava lá? Outros três chateados de gravata, outras três bebidas, uma diferente da outra. Uma laranja num copo boca fina, e raspas de limão. A segunda bebida era um burbom de cor enferrujada, aspecto pesado com cerejas ao fundo. E a última e mais interessante, uma caneca quente, com uma bebida doce achocolatada, com chantili por cima, um biscoito com um marshmallow à ponta, levemente tostado, com raspas de chocolate. Cada um dos homens deprimidos, ao primeiro gole sorriu.

Mas quando se aproximou um jovem cavalheiro.

Há! O bartender perguntou o que ele queria.

- Um Magno Gaudens. Com açúcar na borda do copo, bem doce. – Mordeu lambendo os lábios, sentando-se ao lado da loira. Com o olhar predador confiante. – Sabe o que significado do nome do meu drink moça?

"Grande alegria" bem sabia ela, mas também sabia o que podia dizer aquelas palavras:

- Orgasmo Intenso. – Disse ele com mais saliva na boca que um buldogue. – Adoro latim, outras línguas dão outro tom, outros prazeres. – Enfatizou.

Ele percebeu o desconforto nela, e com isso acreditou estar dando certo. Certo o que?

A bebida dele chegou bem rápida, graças a deus, qualquer coisa para calar essa boca tão linda fechada.

- A minha conta. – Pediu ela. E antes que Mike pudesse responder a ausência de débito, Marcos o atropelou.

- Pode deixar, eu pago, não me deve nada além de um encontro hoje. – Deu um gole, e do rosado de bochechas de bebê, o Dom Juan avermelhou, com os olhos lacrimejando. – Mas isso está horrível, eu pedi um Magno Gaudens. – Esbaforiu com a língua ardendo, do suquinho amarelado e turvo na taça de borda açucarada.

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