Sou o tipo mais inútil

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- Corra, corra, corra Laura! – Gritava uma mulher atrás da pequena loira com um vestido cheio de babados parecendo um bolinho – ou um cupcake com chantilly – a pequena corria alegre no campo verde do verão austríaco, seu pai voltava com amigos de uma caçada, carregando patos silvestres amarrados pelo pescoço rodeados pelos cães de caça.

A pequena corria saltitante para o pai que a recebeu com um abraço. O forte Hollis era um verdadeiro papai urso, de colete de couro bege, camisa de flanela xadrez azulada.

- Como esta a minha pequena lobinha?! – Disse animado. Ela sorriu banguela.

- Fortona – Respondeu erguendo os braços mostrando os músculos de calango.

- E rápida - Completou a mamãe Hollis – Lobinha? – Ela questionou serrando os olhos no marido, que nome para uma dama.

- Claro que sim, uma lobinha, minha filha não é presa alguma pra ninguém e, olha só já caíram os dentinhos, vão crescer as presas de um lobo gigante? – Ele ria com a pequenina a uivar como um lobo sobre o inicio de careca.

- Pode ser, mas ela ainda vai fugir da mamãe, porque se ela for pega vou matar o lobo de cócegas – A mãe dela aproximava os dedos nas costas da jovem que, saltava dos ombros do pai e voltava a correr.

- Não vai me pegar, eu sou muito mais rápida, o lobo é mais rápido que o urso! – Cantarolava ela.

- Vamos ver, eu sou uma ursa então?

- Sim porque você é casada com o papai urso – Respondia ao vento – E eu sou o filhote lobo que brinca com os ursos e gosta de cookies!!! – Gritava com os braços para o alto, quando sua mãe a alcançou e encheu a filha de cócegas.

As risadas misturavam-se a um zunido atordoante vindo das montanhas, aviões traziam o pavoroso enegrecido céu sobre suas cabeças.

- Mamãe... – Chamou na tremula voz, mas a mamãe havia desaparecido, o verde e as flores morriam com o frio atroz se aproximando, trazendo a tempestade e as sombras dos confins da floresta, ao cantar daqueles corvos e feras revelando-se para a criança.

- Corra, corra, corra Laura... – Esgoelava a floresta. Assim fez a loira debandando, mas de repente estava ela a cair de cara na neve, seus braços cheios de ataduras, o corpo moído e o desespero a evadir qualquer outro pensamento que não o da morte.

- ...você tem um cheiro tão bom... – A voz pairou atrás dela e, antes de poder reagir, mais uma vez tinha as costas comprimida ao corpo da outra, o pescoço exposto, mas com a diferença de nitidamente sentir as mãos da vampira passeando por suas pernas e costelas, quando sentiu o zíper da calça deslizando e ousou olhar para trás, sua garganta ferveu como uma chaleira esquecida no fogão, as mãos da vampira pareciam subir sua blusa e tudo mais se apagou como um insano pesadelo.

***

Laura despertou suando, encarando o teto do quarto, seu corpo pesava uma tonelada, cada músculo parecia ter recebido uma massagem do Detona Ralph, com dificuldade puxou a mão direita das cobertas fofas de pele de cervo montanhês, porém sua mão tinha os movimentos vacilantes, esticou os dedos enfaixados com as falanges latejando.

- Não foi sonho? – Suspirou fechando os olhos com o braço sobre a testa. Seu braço esquerdo parecia preso e ela olhou para o lado.

- Não se mexa, pode abrir os machucados – Disse aquela voz rouca e sonolenta.

- Carmilla – Laura deu um pulo e chiou de dor logo em seguida.

- Para, você perdeu muito sangue – Carmilla abraçou mais o corpo da loira como um gatinho dorminhoco.

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