Descent

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Carm POV

- Laura, Laura vai com calma. Laura, Laura! – A vampira pegou a loira a escorregar o pé na escada. – Eu disse pra ir com calma.

A desajeitada ficou pálida, depois vermelha, e por fim roxa de uma queda de um metro até os braços dela. Dava para sentir o a respiração da boca, o calor do rosto.

- Me põe no chão. – Esperneou a loira enfezada, até ser deixada ao próprio equilíbrio.

Eta lugarzinho xexelento.

Bom era o esgoto, não dava para exigir muito, ou mesmo um cheiro menos podre, ou menos Remys pelos cantos. A tampa B35 do bueiro a qual entraram, dava no início de um túnel esverdeado, largura de três pessoas com os braços dados. Um veio de água seguia no meio do chão. Canos passavam na transversal pelo teto. O ar úmido e denso, frio, horripilante, morto, diferente do carnaval de vida na rua acima.

- Vamos Creampuff. – Seguiu a vampira. E a jornalista retrucou:

- Como você sabe que é pra esse lado?

- Porque só tem esse lado pra ir, a não ser que você saiba atravessar paredes. – Respondeu o óbvio.

A boca de Laura transformou-se numa risca amarga. E ela fez de conta que Carm nem estava lá. Só bufando e evitando qualquer contato.

Elas passaram por mais dutos que cortavam o caminho. A morena estendeu a mão, um gesto até gentil, mas fora esnobada.

Igual a alguns minutos mais cedo, quando voltaram ao hotel para trocar de roupa. Laura teria descido de máscara, fantasia e capa na hora, mas a vampira nem morta ia descer num esgoto usando um vestido. Um pouco de bom senso né, do jeito que a cidade estava, cheia de outros noturnos, nem na calçada dava para andar sem se proteger, o que dirá num buraco no chão.

- Laura. – Nada de resposta, tudo bem, então seria um monologo mesmo. – Olha eu sei que você tá chateada, e que não dá pra resolver isso em cinco minutos, mas só estamos nós duas num esgoto. Vai ser mais fácil se a gente conversar. Tá bem péssima ideia, mas pelo menos dá pra você olhar pra frente? Não tem de ficar com a cara na parede só porque tô do seu lado. – Pediu. Era valido, quem quer entrar num lugar feio desses em silencio? A não ser que a loira quisesse conversa com os ratos.

- Chateada? É assim que você acha que eu tô? – Cuspiu a loira. – Chateada é pouco.

- Sério? Agora? No meio da merda, você quer falar disso? – A loira enfezou e virou a cara. – Não é isso, não é fazendo pouco caso, mas esse não é o melhor lugar pra tratar nada, a menos que seja um assunto que de pra resolver com soda caustica.

A galega mirou o chão, o olhar tristinho, e tentou falar enquanto os passos delas ecoavam, junto a goteiras solitárias. À frente o fim de um duto de esgoto, que mais parecia uma rota de fuga. Uma grade de ferro brotava da água, e terminava no teto, preso por um mecanismo de correntes, levando a uma enferrujada alavanca no beiral a qual estavam, restos de podres de madeira, e um pouco de lixo boiava por ali.

- AAAAAAH!!! – Laura deu um pulo, ao sentir a perna ser puxada. Saída da água, uma mão azul com membranas entre os dedos, procurava um dos ratos, mas por engano pegou um pé humano.

- Olha só, parece que dava pra resolver com soda caustica. – Disse Carm rindo da gata arrepiada.

- Não ri!

Tarde demais, pois a gargalhada estava solta, não só a da vampira, mas do carnaval dois metros acima. Do outro lado do duto uma porta de ferro guarnecia o resto do túnel. Sem dificuldades Carmilla saltou para o lado da porta, já Laura na teimosia, se equilibrava para passar pelo beiral atrás da queda de água turva.

One More NightOnde histórias criam vida. Descubra agora