Próxima parada!!!

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Laura POV

- Você aqui?! O que você tá fazendo aqui?! – A loira apertou os dentes raivosa. A vampira, no entanto, limitou-se a um olhar escarnado em resposta, enraivecendo ainda mais a loira consternada.

- Nada de mais. – Esclareceu Carmilla dobrando os braços para cima com as mãos abertas para o teto.

A vampira passou uma perna depois da outra sobre Laura, sumindo pela porta de acesso do vagão.

- Aonde pensa que vai?! – Ousadia dessa criatura infernal. Como podia?

- Pro vagão restaurante, to morrendo de fome.

A filha da mãe nem se prestou a virar para ela. Laura cerrou os punhos zangada, e na mesma raiva pisoteou o chão, por todo o longo bagageiro e cozinha até o restaurante. Mesas soldadas ao chão, ladeadas dos bancos sem divisórias, estofadas de um carmim desbotado, ressecado e trincado de constante uso. Duas fileiras dessas mesas dispostas nas extremidades laterais, e um estreito corredor no centro, onde o garçom insistia em passar com a sopa de macarrão num carrinho.

Alguns poucos passageiros ocupavam as mesas nas quinas, um senhor barrigudo de chapéu coco e um paletó verde, roncava com a taça de rum à mão. Na mesa ao outro lado do corredor uma vovó auxiliada pela neta a bebericar a sopa. As mesas opostas a delas a qual Laura entre cortava estavam três homens de aparência aristocrática, costeletas, bigodes e barba, bem cuidadas e aparadas. Na última mesa estavam duas moças com não mais de vinte anos, sorrindo discretamente aos cavalheiros. Por fim ao meio do vagão, ela. Um soco nos princípios da samaritana Hollster.

Carmilla estava virando o prato de sopa. Prato? Não, era a sopeira de caldo de ervilha. E desde quando a vampira comia tanto?

Ah se pensar nisso não alfinetou as nádegas da jornalista. Lembrar do porque a morena não mais estava pele e osso. Por causa dela...dela... um amargor de pele de sapo inundou a boca, e a loira deu meia volta passando a mão em uns potes de sorvete ao atravessar a cozinha. Era melhor ficar no vagão de carga, caso uma descarga violenta de raiva a atingisse. Bom as coisas lá dentro eram mais resistentes, socar malas de roupas, chutar baús. Ninguém a atormentaria se não sua própria cabeça.

O gosto do açúcar e gordura de leite congelado não a alegrou, chegou a arder de tão brava. Lembrar da morena com outra a estava enlouquecendo.

- Que merda Carmilla!!! – Gritou chutando um baú severamente pesado, o que foi revertido numa forte topada no dedinho. – Que droga! – Ralhou pulando num pé só e o chutando no maldito baú, mas junto ao chute, um murmúrio. – Olá?

"Fragile" leu no aviso. Frágil onde? Pesado e mais duro que os cascos de uma égua.

A curiosidade sobrepujou a dor, e Laura aproximou-se da arca. Algo estava errado, podia estar dolorida, mas não era do tipo que causa alucinações. Colou o ouvido na madeira, e fechou os olhos. Não que um trem fosse silencioso, mas quando se concentrava, podia escutar o que queria. Um espirro.

Tem alguém preso aqui.

- Ei! Pode me ouvir, eu vou te ajudar, espera. – Ela tentou com toda a força, mas nenhum dos três caixotes moveu-se. – Eu vou buscar ajuda.

- NÃO! – Gritou o baú.

Um baú que fala?

A jornalista encarou a peça de bagagem.

- Não chame ninguém. – O baú era uma mulher, com vós fina e abafada.

- Olá? – Esbaforiu Laura ainda descrente.

- Olá. Eu sei que é estranho, mas não chame ninguém, e não conte a ninguém que estou aqui.

Isso rendia uma história, e que história. E a curiosidade da loira saltitou, disposta a aceitar o pedido da arca falante, apenas para escutar sobre.

One More NightOnde histórias criam vida. Descubra agora