O que veio fazer em Viena? - parte 1

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Carm POV

Algumas horas depois de mandar um ifrit procurar um chaveiro para consertar a maçaneta, Carm voltava para seu devido quarto, acompanhada da duquesa.

O balançar da carruagem era leve, quase como um berço de ninar, exceto pelos buracos, a cada tranco desses Aghi batia no teto, para que Arthur tomasse cuidado lá fora, direcionando o cocheiro. O trepidar balançava Carmilla, absorta nos pensamentos, olhando através da janela, mirando o rio Danúbio, as ondulações da água, ao som dos cavalos, o som do óleo queimando nas arandelas que se apagavam, ao competir com a luz do horizonte.

Tantos anos atrás estava ela em semelhante veículo, enfiada num vestido preto, acompanhada de sua mãe, e irmã. Bom ela não era sua mãe de verdade, nem a outra sua irmã de sangue. Andou com aquelas pessoas, chamou-as de família, mesmo não sendo. Outras vezes fora com seu pai, mas nem lembrava de sua face, e era dolorido pensar, que por gostar e desgostar, ele gritou, bateu na mesa, a chamou de imoral, errada, má, moradora do inferno.

A morena sentiu-se só, quando confrontada por dentro sobre seu lugar. E se já é difícil de achar a ponta do durex, o que dirá se achar no mundo, quando você não sabe de onde veio. Uma coisa era certa para ela, desse mundo não era.

- Carmilla? - Chamou Aghi. - Quer dar um mergulho? Está tão distante olhando para a água. - Riu-se da distração da outra.

- Não, já nadei demais por esses dias. - Respondeu desanimada, deixando o silencio tomar o restante da fala.

- Ahmed te chateou?

- Nossa, quem é você? O que fez com a Aghi que eu conheci? - Sarcasmo, mas era sim de assustar, a morena não reconhecia a patricinha de antes.

- Eu cresci Carmilla. E sou governadora, é meu trabalho prestar atenção aos noturnos, você é uma noturna. E a pessoa com que passei a noite, e me divertiu como a muito não me divertia. - Desabafou.

Carm ficou vermelha lembrando do tremendo evento que fora a cama da duquesa, da intensidade, da pessoa que chamou. Mais uma vez o silencio cobrou palavras dela.

- Eu não diria chateada, mas é meio cansativo, todo mundo de cara feia comigo, mas acho que to me acostumando. Pelo menos estão falando de mim, fale bem, fale mal, mas fale de mim. - Uma leve melancolia escapulia entre os dentes do amarelado sorriso, como uma espinha de peixe, que insiste em espetar a língua.

A carruagem seguia em direção ao hotel Saint Stephen beirando o rio, uns minutos a mais e estaria sã e salva no quarto. Mas quem disse que estava sã depois do palhaço? E quem garantia que estava a salvo das sombras em sua mente?

Sombras essas prestes a engolir os pensamentos, e novamente jogá-la entre o desanimo e a tristeza. Daquela que gosta de te desmotivar a sair da cama.

- Acho já perguntei isso, mas o que veio fazer em Viena? - Perguntou serena, ajeitando o casaco de bicho morto.

- Você já perguntou sim. - A renegada encarou a duquesa em um estupido sossego.

- Era bom eu saber, gostaria que me contasse, antes de saber tudo por meu mesmero. É mais agradável aos ouvidos e à alma, vindo da própria pessoa.

Nenhuma resposta. Seria uma boa ideia contar?

- Depois de tudo, deixei você escolher o brinquedo que quisesse da minha coleção para usarmos, ainda está com medo de mim? - Sorriu.

- Eu não escolhi nada! - Respondeu.

- Só porque você disse que não lembrava o tamanho. - A duquesa riu ao perceber a vermelhidão na renegada. - Carmilla, por favor, de toda essa cidade você é a que menos tem motivos para sentir medo de mim. A única coisa que me interessa em foder de você, está entre as suas pernas. Além do mais, gosto de você, e não me parece que veio tirar férias aqui, dentro da boca do bichinho do Jareth. Para que você se deu ao trabalho de ir lá?

- E quem é Jareth? - Questionou um pouco perdida.

- O rei dos goblins, alto, cabelo espetado, salto e calças extremamente apertadas. E metido a cantor. É dele o bichinho cuspidor de fogo dos esgotos. Colocou lá para guardar seu tesouro, o que não tem sentido nenhum. Quem se prestaria a ir até para roubar um penico de ouro? Quem usaria um? - Sorriu Aghi.

A expressão de Carm a traiu, pois ela tinha visto um homem com essa descrição lá, e a esperta duquesa percebeu. Dali não parecia haver meio de contornar a culpa, o que dirá encobrir a verdade, talvez fosse uma má ideia contar, mas poderia ser ainda pior se Arthur decidisse inventar.

- Estamos atrás de um homem. - Disse tremendo na base.

- Vou precisar de um pouco mais que isso. Embora dos humanos eu não vá saber tanta coisa.

- Sherman Hollis. Estamos procurando um homem chamado Sherman Hollis. É o pai da Laura. Viemos atrás dele, mas tudo foi um tiro no escuro, eu não tinha ideia do que iriamos encontrar, chegamos numa câmara escondida na galeria, cheiro de óleo, querosene, e sangue seco. Umas estantes cheias de poeira e fuligem. Uma decoração nazista, misturada com o bigodão e a barbichinha. Era só até lá, mas o chão cedeu, e caímos. Daí polvo, castelo, goblins, pulgões e carrapatos, dragão. - A coisa mais normal do mundo, além de uma tremenda bagunça política, também teve o bônus do safari pelo museu de história natural.

- Então é com aquele polvo que o Jareth anda pintando água, filho da... - Aghi segurou a última palavra, que modos.

- O polvo eu não matei, mas esse Jareth não tem por que se preocupar, eu chutei ele pro fogo. - Contou do giro de dança o qual tirara Laura daquele arrepiado.

A duquesa riu-se.

- Carmilla, acha que fogo de dragão é o bastante para matar o rei dos goblins? Logo ele está cantarolando nos dutos para me irritar, do contrário eu já tinha dado jeito nessa peste. Cantando feito um elefante em orgasmo. - Lamentou-se pousando a testa na ponta dos dedos.

- Bom foi isso. Foi um acidente. - Carm torceu para que a verdade não lhe acometesse atrás de barras de ferro, ou colocasse seu pescoço abaixo do fio da lâmina da carrasco.

Aghi ficou em silencio, absorvendo a informação, e algo mais havia naquela expressão.

- Então vocês só estão atrás do dono daquela câmara, justo, mas vocês vieram meio tarde. Chegaram antes de vocês, tem um bom tempo já, foi algo feito pelos governos humanos, então fui apenas notificada, não tinha tanta importância. Arthur. - Chamou e o mesmero colocou a cabeça na janela. - Para os arquivos, e rápido!

Ele maneou um sim, e a carruagem fez uma seca curva, jongando Carm para o lado.

Depois de ajeitar a compostura e a cabeça, Carm pode escutar os cavalos galoparem, em alta velocidade, a caminho de uma pista.

Que arquivos Aghi se referia?

***

Da autora:

AAAAAAAAAAAAAUUUUUUUUUUUUUU!!! Hey Soldiers. E sim eu também to loka para saber o resto, como assim? Me contem o que estão achando, eu fico feliz demais com os coments. Um grande abraço de lobo em vcs lindas, e até o próximo OMN.

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