All aboard!!!

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Laura POV

O céu nublado, prata do inverno, pintando tudo de pálido, iluminando timidamente superfícies congeladas. A luz eram fios esbranquiçados adentrando as cortinas, zebrando o piso escuro, e refletindo na água de desgelo das botas da jornalista. As roupas estavam jogadas pelo chão, sujas de barro, molhadas de neve, e fedendo a suor.

O quarto foi dominado pelo barulho do chuveiro, junto o vapor escapulindo o topo da cortina de plástico. A água era quente, chegava a arder com tamanha força do jato. Pequenas gotículas condensadas se agarravam ao plástico da cortina, enquanto outras maiores escorriam até o chão. Laura mantinha-se em pé na banheira, agarrada as barras de apoio do chuveiro, não para suportar a cachoeira, e sim de raiva, ainda que nem percebesse.

Fervendo por dentro uma mágoa , tanto quanto a água chocando nos ombros e nuca, correndo como rios entre os seios, e avivando o longo cabelo nas costas.

"Egoista" trincolejava dentro daquela cabecinha.

TOC-TOC! Na porta. Mas a cachoeira abafava o som.

TOOOC-TOOOC!!! Mais forte. Nada de escutar.

TOOOOOOC-TOOOOOOC!!! Quase derrubando a porta.

- JÁ VAI!!! – Berrou mal-humorada, seguiu aos tropeços enrolada na toalha. Esse povo sem paciência, o que poderiam querer com ela? Ainda mais agora, não bastasse o cansaço e frustração da viagem perdida. – O que é? Ah! Millie?

- Surpresa, hehe. – Deu uma risadinha sem graça à soleira. A secretaria entrou no quarto tomando lugar numa das cadeiras da mesinha à janela. O enfim capote para neve, a fazia parecer ao menos quatro vezes maior, as pernas enroladas em grossas meias de lã, mas o salto, esse ela não tirava nem se fosse para salvar a vida.

Senhor! Para que esse poste de salto estava aqui? Laura revirou os olhos, o corpo latejou com a brusca mudança de temperatura, do bafo do quarto, para o polo norte de fora no corredor.

- Tá aqui pra quê? – Cordialidade era uma coisa que estava em falta no mundo, e não era a loira a diminuir esse índice. – A pista que vocês me deram estava toda errada, não encontrei nada aqui. – Grunhiu chateada.

- Eu sei. Quer dizer nós sabemos. E em nome do comandante peço desculpas. Assim que você embarcou recebemos outra informação. Aqui. – Millie estendeu um papel dobrado. – Ele foi visto pela última vez em Viena.

Laura leu uma cópia do livro de registros. A data de Chek-in batia com a época da viagem a um ano.

- Isso tá certo mesmo? – Perguntou.

O olhar de Millie respondeu o bobo "logico que não". Exatidão não é algo comum em investigações, se houvesse certeza de qualquer coisa a loira não estaria onde estava.

Longe da hospedaria, longe do bloco de comando dos caçadores, longe dela.

Numa cidadezinha que nem lembrava o nome. E até surpreendeu-se de ter trem para a mesma.

Talvez do tamanho de Treffen, cidades assim são como os pontos sem nome no mapa, constantemente os maquinistas passam reto, deixando um ou dois passageiros no ponto errado, os obrigando a voltar com outro trem em outro dia. Curiosamente o maquinista não teve de lembrar de parar na estação de lugar nenhum. Ao contrário da cidade onde vivia, se você não cutucasse o maquinista um pouco antes, ele passava reto.

Laura seguiu acompanhada de Millie, segundo as ordens ela devia se assegurar que a loira embarcasse para Viena. Indo até o balcão do saguão, onde um grotesco e mal-educado homem cuidava das chaves. Laura esperou até que ele a visse plantada ali, mas mesmo quando a viu, nada fez além de tragar grosso charuto mastigado na ponta.

One More NightOnde histórias criam vida. Descubra agora