Você não entenderia...não ainda...

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A respiração das duas preenchia o quarto escuro. Laura sentia algo quente e molhado entre as duas pontas pressionando seu pescoço e, Carmilla fechava os olhos saboreando o que parecia sua próxima refeição...ou poderia ser mais que apenas uma refeição?
- Ghaaa!!! – Berrou a vampira com Chello pendurada pelos caninos em sua mão – Sai! – Levantou da cama tentando se livrar do monte de pelos.
Os rosnados do filhote a enfurecidamente dentar sua mão quebraram o encanto, Carmilla sacudia a mão, mas a brava cadelinha se recusava a soltar indo contra toda a violência da garota furiosa. Laura tentou ajudar, mas acabou levando a peluda na cara quando esta soltou da mão da vampira.
A mão direita de Carmilla marejava em carmim negro na pouca claridade e, com a completa desistência diária do sol, o breu engoliu o lugar. A jornalista sentou na cama segurando a peluda que não parava de latir para a quase devoradora de sua dona.
- Sua... – Sem que a loira pudesse reagir, a morena agarrou o filhote brutamente pelo cangote e, como uma genuína tomba-lata começou a chorar desesperada pelo toque sendo carregada para o corredor – Fora daqui! – Outra vez chutada segundo andar á fora.
- Carmilla! – Protestou Laura e, a vampira perdera o fôlego com a cabeça a mil e as presas coçando. Ela correu para seu quarto, batendo a porta atrás de si, o som do coração de Laura abafava todo e qualquer ruído, atormentada, Carmilla apanhou sua mochila e, pulou a balaustrada correndo para a floresta.

***

Acima de um pico perto de um tronco oco, com objetos voando para as mais diversas direções. A lua não iluminava tão bem, fina como o perturbador sorriso de um gato lilás.
- Cadê você?! – Vociferou Carmilla a revirar robusta mochila, tirando tudo e mais um pouco, a espada atirada para um lado, roupas, livros, umas joias, uma caixinha de madeira – Onde você esta?! – O mundo parecia poder acabar, até que ela encontrou o pequeno disco de prata com um espelho, o mesmo que pertencera a Guto por alguns minutos, ela mirou seu reflexo como se o espelho pudesse derreter com a visão de calor do general Zod – Agora me diz! Você tem de me dizer!!! – Clamou para o objeto.
A luz desapareceu completamente atrás das tenebrosas nuvens. O contorno luzia frouxamente, o reflexo negro tomava forma, enxergava a silhueta de uma pessoa cintilando em ondas de um lago, o cabelo longo passando a cintura, por alguns segundos pensou ser sua verdadeira mãe, porém o cabelo era dourado como o sol.
- O que? – Questionou.
A fraca lua mudava a imagem que, revelou uma mulher trajada de guerreira, uma leve armadura, parecida com aquelas descritas em seus livros de outro mundo, a vampira engasgou ao enxergar Laura no espelho. Urrando de raiva ela atirou o espelho que não se partira frente a desproporcional força, agarrou a espada que, decididamente lhe repudiava, travando na bainha.
- Ah! O que?! Agora que eu quero ver você não me mostra?! Quer saber, pro inferno! – Ela atirou a espada longe, sentando no chão apertando os joelhos – O que esta acontecendo? – Perguntou unicamente para si – Que saco por que você não me deixa ir?! Não pertenço a esse lugar! – Por mais que gritasse para a bainha trabalhada, a lamina não atendia aos seus apelos e, junto aquela bagunça pensava na galega a invadir seus planos.
Lembrava-se da ultima pessoa que a fez sentir aquilo. Muitos anos atrás, de como aprendeu o valor do sangue que, não poderia drenar qualquer um, pois do contrario aos poucos ou muito rapidamente perderia sua capacidade de pensar e raciocinar.
Sua falsa mãe tentara lhe roubar suas escolhas, incentivando a matança desenfreada, sangue sem sentimento é como água salgada, apenas vai te fazer sentir mais sede e, no fim...
Havia a muito acostumado a comer o sangue dos animais, não era o mesmo que o de humanos, mas era melhor do que perder a sanidade – isso foi sua verdadeira mãe quem lhe ensinou.
Carmilla pressionou o rosto contra as mãos, no que estava pensando? Suas presas queimavam de desejo pelo sangue da loira, mas por que isso de repente, mal a conhecia, então o que havia de errado, por que esse repentino desejo? Não estava ali para se envolver com ninguém, apenas queria decifrar o segredo da maldita espada e, ir para o mundo a que realmente pertencia.
- Carmilla, o que você estava pensando? Você não esta aqui para se apaixonar... – Ela encarou seus pés na neve por entre os dedos, não acreditava no que acabava de dizer - ...eu...
As nuvens transitavam na fraca iluminação e, a floresta mergulhava no farfalhar de folhas congeladas, e dançantes penumbras. A vampira observava as pontas das arvores a balançar, o tímido vento se fazia ouvir e, o familiar frio a abraçava, os buracos das mordidas reclamavam devido a falta de carinho para com eles, um fio carmim escorria na neve pendendo de sua mão e rosto.

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