Amo?

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O vento era gentil, mesmo que gelado, de alguma forma ele era revigorante, parte do vale era em branco puro, restos da avalanche, a estrada escura e úmida ladeada dos trilhos do trem e a floresta, uma calmaria se instalava dentro da loira apoiada as costas de Carmilla a guiar a moto. Laura apertava um pouco mais os braços no tronco da piloto; sendo sincera, não conseguiu resistir a se apertar mais nas costas da outra, a sensação do corpo próximo a si acalmava seus pensamentos e, a três dias era o que mais precisava.

Desde a morte da mãe, tomara inúmeras responsabilidades para consigo; descansar não era algo comum para sua cabeça. Aquele vento no rosto lhe lembrou da primeira cavalgada, quase caiu do pônei disparado e, sua mãe a alcançou num corcel branco como a neve.

- O que foi cupcake? - Perguntou Carmilla.

- Nada... só estou pensando...

- Bem que senti cheiro de fumaça - Riu da pensadora em suas costas - Não liga, eles são idiotas, eu sei que você não fez nada.

- Vai me contar?

- Você não me conta o que estava pensando...

- Nada de mais, só na minha mãe... eu lembro dela as vezes, mas não lembro do rosto dela... - A fala incomodou a vampira, não se faziam necessárias mais palavras, assim como o jovem Guto, pais ou qualquer ente querido somados a palavra guerra explicavam tudo. Carmilla ficou em silencio somente com o som do motor a encher os ouvidos delas - Tudo bem, arrumei um rosto substituto.

- Substituto?

- Sim, imagino meu pai com uma peruca longa e trancinhas, daí tenho uma mãe.

A motorista gargalhou e junto levou a loira ao riso, ambas riram muito na estrada, falando as maiores asneiras e, tudo começou com Sherman Hollis de peruca, daí só foi aumentando.

***

Laura desceu da moto, esperando Carmilla estacionar. Uma estrada fora dos mapas as trouxe até aquele ponto deserto entre as montanhas. A vampira bateu o pé num degrau, o inicio de uma escadaria de pedra antiga, invisível pela neve. Subiram por mais ou menos meia hora.

- Não vai pedir pra descansar? - Virou-se para a galega.

- Não. Por quê? - Disse passando a motoqueira - E então aonde vamos?

- Você vai ver - A vampira tomou a frente.

O caminho era estreito, as arvores invadiam os degraus de raízes e, os galhos afinavam a passagem, a temperatura decaia pela altura; chegaram a um patamar com algumas pilastras, ruínas do que um dia fora o anfiteatro dos poetas "greco-austriacos". Laura ficou maravilhada do lugar ambientado-as na Grécia antiga.

- Uau!

- Anda, ainda tem mais um pouco - Chamou Carmilla subindo os andares da plateia.

Subiram até o final, passando por entre duas pilastras a formar um portal grego, a trilha desembocava em uma abertura de frente com o fim da montanha. A vista emudeceu a loira.

- Agora eu esperava um "uau" - Disse Carmilla, mas não escutou nenhuma resposta - Laura?

- Eu?

- É você, ta tudo bem?

- Tá, é que isso é lindo, como ninguém nunca me contou desse lugar?

- Provavelmente porque todo mundo que conhecia esse lugar ta morto.

- Mas enh?! - Um momentâneo assombro se mostrou, porém sacudiu a cabeça para ordenar os pensamentos - Alias, vamos falar! Agora você tem de me contar, o que houve naquela noite, aquelas coisa, o incêndio!

One More NightOnde histórias criam vida. Descubra agora