Odeio!

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- Ai... – Resmungou Carmilla suando de uma leve febre com pontadas nas costas. As janelas bem fechadas abafavam o quarto junto da lareira em brasas – Mas que porcaria...Doran seu maldito – Amaldiçoava o nome do paspalho peludo a cravar a maldita bala de bronze em suas costas; esticou os pés no chão, sentada a beira da cama, tomou o revolver do lobo em mãos – Tomb? – Lia na lateral da arma sobre o escravo mudo. "Ridículo" pensou ela abrindo o tambor e tirando os cartuchos usados, ainda havia uma bala. Fechou os olhos tentando escutar os batimentos de Laura, mas o único som que ouviu foi o de bicadas na janela.

O corvo quase explodiu com o mau-humor e janela que o acertara, foi parar longe. Saltou da casa do outro lado da rua em direção a vampira, ele pousou atrapalhado um tanto depenado, sacudia uma carta no bico grasnando para a destinatária.

A morena apanhou a carta do bico negro e, agradeceu por pura educação. O corvo alçou voo e sumiu por entre os edifícios. Carmilla abriu o envelope com o selo da serpente dos Brandsnake em cera dourada.

"Mircalla Karnstein,

o governador da Styria a convoca para uma encontro no castelo Clausa ao meio dia de hoje, deve vir sozinha; caso recuse a convocação, será declarada inimiga do governo austríaco, sendo assim declarado seu posicionamento inimigo, forçando-nos a assumir uma postura agressiva em prol sua caçada e execução, inclusive de sua humana Laura Hollster,

Midas Brandsnake".

Carmilla amassou o pergaminho, não teria sossego tão cedo. Por mais obvia que fosse a emboscada, seria menos inteligente não ir, recusar-se a comparecer seria assinar embaixo numa declaração de guerra, nenhum lugar seria seguro, nem mesmo para Laura que, era atrelada a seu nome como integrante de um clã.

Noturnos e seus clãs, não existem sem eles e, podem ser constituídos de tudo que seja considerado vivo ou não morto, a vampira bem conhecia esses termos, até Chello tinha um grupo de dois com ela e, a cachorrinha morreu por esse clã de duas.

A morena terminou de amarrar o cabelo, puxando a franja em duas tranças laterais, atadas ao prendedor em forma de rosa prateada na nuca. Vestiu uma camisa escura, uma calça verde água e o casaco de Garu, as roupas da carrasco lhe eram um pouco folgadas, mas estava decente, apresentável para o suposto encontro ou um encontro muito agradável com a loira, ela tentou se concentrar respirando fundo e sacudindo a cabeça – não era bom se distrair nessa situação, por mais sedutora que fosse a distração.

Saindo do quarto a vampira jogou um ultimo olhar sobre Death Kiss repousada no batente. Esticou a palma frente ao cabo, observando a lamina e, suas veias se agitaram sob o efeito do bronze ainda correndo pelo corpo.

"Estarei sem Death nessa cilada" – Pensou – "Mas tenho o punho do Inverno comigo e, uma fuga de cavaleiro se eu precisar, levar armas para uma convocação não é muito educado, mas eles não sabem o que são armas de verdade".

Carmilla desceu as escadas, indo direto para a calçada frente ao bar, a rua estava deserta, o sol ainda descansava atrás das altas montanhas. Verificou se havia gelo no motor da moto batizada de Avalanche, o tanque estava meio cheio e, o caminho da viagem meio longo, olhou a moto do lado e, sem pensar arrancou o tanque vizinho, entortando o metal como um funil dentro do gargalo de combustível de sua montaria. Esperando o tanque encher, a morena se apoiou no banco quando uma leve tontura puxou seu cérebro para o lado.

- O que é isso? – Questionou esfregando a testa. O tanque estava cheio, então apertou o metal desfazendo o funil para devolvê-lo sem que percebessem o roubo e, de repente o metal estava mais rígido, quase impossível de moldar; encarou sua mão sem entender como faltava força, então as costas guincharam e, o som do tiro veio a tona na memória – Que porcaria, mas o machucado já fechou – Ela sentou na moto depois de devolver o tanque meio torto, encarava o chão apertando os joelhos.

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