Primeira Noite - parte 1

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O Punkt como sempre era o refugio de almas enfadadas do trabalho, esposas ou guerras. Famintos rosnados permeavam a estardalhaço dos bêbados, Chlloe devorava o guisado de batatas e coelho, enquanto Carmilla tentava mastigar as batatas que, para ela, mal tinham sabor.

Alimentar-se de comida humana não lhe afligia o corpo como tantos outros azarados de mesma índole anêmica. Estava difícil comer, estava difícil manter as forças que, a muito não correspondia a uma vampira de sua idade – mesmo que fosse nova ainda – o desanimo tragara-a da alegria, mas o baixo astral não era por um guisado ruim.

- Não tá bom? – Perguntou Chlloe ao seu lado no balcão. –Tá pensando nela né? – Sorriu maliciosamente roendo o ossinho da coxa na cumbuca.

- Come ai e fica quieta! – Ralhou virando a cara.

- Mas já terminei... – Mostrou a tigelinha vazia, com aquela cara de cachorro com fome.

- Pode ficar com o meu! – Empurrou sua porção de guisado e pão de grãos.

O bom totó não recusava comida, ainda mais saborosa como essa. Lamentava as incomodas roupas por falta de costume, mas bravamente combatia a gana desnuda, pois com as roupas podia comer mais que sobras e migalhas no chão.

Carmilla descansou a cabeça sobre a mão, com um dos pés apoiado na cadeira, e o outro balançando solto sem apoio, enquanto pensamentos faiscavam relembrando os acontecimentos, e pelos sete infernos! Um mês se passara desde o retorno a cidade, o deplorável encontro com Pinky e Cérebro, somados a culpa pelo estado de Laura.

A jornalista era principal assunto a ocupar os nervos vampirescos. Um longo monologo sobre o que havia acontecido a elas, o que a gargantilha fizera e cada uma das revoltas ex's, uma baita biografia não autorizada recomendada para maiores de dezoito, a trilha vermelha de conquistas de Mircalla Karnstein. Cada noite dessas histórias sangrentas vitimava-a com um forte abraço, seguido de um beijo calmo a principio, mas desesperado ao fim, com ambas ofegantes. Era desesperado, doentiamente necessitado, o mesmo podia ser sentido nas duas. Carmilla mais desesperada e sedenta que nunca do contato com a jovem a adoentá-la de amor.

- Que droga! – Apertava a cabeça entre as mãos, a testa no copo de Gin esverdeado servido pelo bartender. – Droga eu te quero também! – Recordava os beijos, o rastro de fogo deixado pelos lábios dela, a respiração queimando a cada tragada do momento... – Droga Laura! Eu te quero, quero transar...! – Sem querer a ultima parte pulou em demasiado realce de seus pensamentos, todo mundo a encarava respondendo em uníssono:

- NÓS TAMBÉM! – Ergueram os copos e garrafas.

- Há! Eu sabia! Tá pensando nela! – Comemorou Chlloe, acertando um ossinho na nuca da morena quase ruiva de tão vermelha.

- Ah! Cala a boca! – Vociferou com o rosto fervendo – não de raiva – numa escapada desesperada do mico, Carmilla arremessou uma garrafa em qualquer direção, e ao som do tilintar dos cacos deu-se o estouro da boiada. Mesas, cadeiras, garrafas, copos, gordos e magros, tudo ia pelos ares ao fluir do álcool.

Os bancos do balcão estavam vazios, as duas ocupantes destes travavam uma luta livre no chão.

- Que foi? To mentindo? Errei? Tá pensando na ex? – Nisso pôs a língua para fora, soprando o ar imitando uma cobra.

- Ah! Eu te mato! – Bradava. Só um instante após a ameaça de morte e a shapeshifter livrou-se tomando a forma de um filhotinho brincalhão. – Covardona, volta aqui! – Perseguia os alegres latidos serpenteando a confusão. – Que droga Chlloe. – Praguejou a morena acostada na janela da calçada.

One More NightOnde histórias criam vida. Descubra agora