Capítulo 8

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MALUMA

Minha cabeça estava subindo e descendo no ritmo de uma respiração tranquila, percebo que estou agarrado em Amanda como um garotinho indefeso e me afasto bruscamente ao lembrar da noite passada. Me sinto fisicamente muito bem mas a sensação de ter que depender de alguém para me sentir daquela forma tinha me aborrecido.

_Maluma – sussurrou Amanda ao sentar-se na cama, ela tinha o rosto sonolento e me olhava com extrema preocupação.

Eu odiava aquilo. Aquele olhar nas pessoas quando elas descobriam sobre meus pesadelos. "Não me deixe", mas que porra tinha passado na minha cabeça?

_Estou saindo – digo para ela ao pular da cama.

Sinto seu olhar cravado em minhas costas enquanto pego meu tênis. _Você está saindo?

_Eu não te devo explicações, porra! – grito ao pegar meu tênis.

Encontro seu olhar e vejo sua careta irritada e por dentro arrependo-me por ter falado com ela assim – mas eu não admitiria nunca – eu não precisava daquilo, tinha sobrevivido muito tempo sem aquela garota, quem ela pensava que era para querer se intrometer na minha vida assim?

_Você não deve explicações? – grita ela surpreendendo-me de imediato – Então para de vir na minha casa como se eu tivesse a obrigação de deixar você dormir aqui só porque sabe que eu não vou dizer não! Eu estava apenas preocupada com você e não preciso aguentar sua atitude de merda pela manhã!

_Eu não preciso da sua preocupação – respondo a ela ao calçar meu tênis, sinto um objeto sendo arremessado em minha direção e desvio antes da pantufa verde florescente acertar minha cabeça. – Não preciso de nada vindo de você.

Percebo que Amanda tem uma pequena obsessão pela cor verde, mas estou irritado e frustrado por ela estar preocupado comigo. Eu não preciso da pena de ninguém, nem da dela.

_Fora da minha casa – grita Amanda ao apontar a direção da porta.

Saio do apartamento ouvindo um silêncio desafiador vindo do corredor. Arthur o porteiro está acenando-me novamente e eu passo reto sem responder ao seu "Bom Dia". Ao entrar no carro atendo a ligação de Lorenzzo sentindo pequenas agulhadas na minha cabeça.

_Que horas você vai chegar hoje? – pergunta Lorenzzo deixando alguma coisa cair no chão. Aquele era o homem mais coordenado que eu já havia conhecido e o fato dele transmitir nervosismo por uma ligação me deixou apreensivo.

_Estou indo para a gravadora a pu... Anitta está na minha casa- confessei sentindo meus lábios amargarem – Se você puder pegar algumas roupas eu agradeço.

Um silêncio toma conta da linha e tiro o celular do ouvido a fim de verificar se a ligação tinha caído. Estávamos em linha ainda, conecto o celular no carro e dou a partida antes de perguntar.

_Você perdeu a voz ou algo do tipo?

Silêncio.

_Francamente – digo ao sair da rua da Amanda. Não gostaria de pensar na briga desnecessária que eu causei então foco-me na respiração pesada que saiu pelo alto-falante – Se você não vai me responder eu vou desligar...

_Você esqueceu que meu casamento é hoje! – gritou Lorenzzo fazendo-me pisar no freio antes de atropelar um gato – Eu não acredito nisso. Mas é típico de você mesmo!

Droga.

_Eu não esqueci – minto ao olhar com ódio para o gato que sai rebolando pela calçada como se nada houvesse acontecido. Odeio gatos – Apenas pensei que iriamos pela gravadora pela manhã.

Novamente o silêncio toma conta da linha e começo a tamborilar meus dedos pelo volante esperando o sinal abrir. Como eu conseguia me meter em confusão com as duas pessoas que ainda eu tinha alguma consideração, era um mistério.

_Eu não esqueci – minto de novo aprofundando meu tom.

Nesse aspecto Lorenzzo era pior que mulher quando ficava irritado com algo. E depois eu que sou o rancoroso. Apesar de ter uma opinião bem forte quando a questão é casamento eu absolutamente devia isso a Lorenzzo e esperava que aquilo durasse ao menos um ano antes do divorcio. Casamentos não foram feitos para durar, era apenas uma estratégia imposta pela sociedade com medo de passar o resto de seus dias sozinhos.

_Eu disse que não esqueci, carajo! – gritei ao fazer uma curva – Eu até convidei a Amanda pra ir.

_A Amanda? – perguntou Lorenzzo com a voz irritada – Desde quando você anda passando tempo com a empregada? Por Deus no céu! Me diz que você não corrompeu essa menina?

A raiva que aquele comentário me provoca me faz apertar o volante e acelerar o carro. 120 km por hora. E passando por um radar naquela avenida. Pelo menos eu tenho dinheiro para pagar a multa.

_Você me conhece, sabe que eu não faria isso – respondo entredentes.

_É exatamente por saber do seu histórico que estou perguntando isso! – gritou ele – Pelo amor de Deus, quando é que você vai aprender?

_Eu não transei com ela – gritei socando o volante – Apenas convidei porque você disse que eu precisava de uma acompanhante decente, mas já que você quer que eu leve uma vadia pro seu casamento, pra mim tanto faz, eu não gosto dessa merda mesmo.

O silêncio volta a reinar na linha até que Lorenzzo solta novamente sua respiração pesada. Quase posso vê-lo parado segurando seu telefone, com uma mão em sua cabeça sem saber o que dizer.

_Não leve uma puta para o meu casamento – respondeu ele – Diana ficara enlouquecida, eu já falei como a igreja dela é conservadora.

Sinto meus olhos revirando-se e percebo que tinha acabado de fazer um retorno e estava avançando para outro sentido. Mas que diabos eu estava fazendo?

_Você entendeu? – perguntou ele – Maluma.

_Entendi – respondo pegando uma rua desconhecida e saindo na rua de Amanda novamente. Paro o carro no meio da rua e tento controlar minha respiração. Como eu tinha ido parar ali de novo?

_Espero você e Amanda ao meio dia para o ensaio de casamento, não esqueça que você é meu padrinho e sim você vai vestir um terno – disse Lorenzzo irritado – Se você estragar meu casamento eu vou bater a merda fora de você.

_Não posso prometer coisas que não sei se consigo cumprir – respondo vendo a janela do quarto de Amanda abrindo-se. Aquilo eram mãos de homens? Quem estava na casa com ela? Era aquele tal de Jhony?

_Apenas me diz que você vai se esforçar ao máximo? – pergunta Lorenzzo fazendo um som estritamente alto. Ou aquele era o som do meu pneu? – Maluma? Maluma?

Tinhaacabado de dar ré no carro e estacionado de imediato. Ouço a porta do meu carrobater e compreendo que estou atravessando a rua quando lembro que deixeiLorenzzo falando sozinho. Que Deus abençoasse o filho da puta no apartamentodela, porque eu estava subindo. 

Livro 1 - Doce TempestadeOnde histórias criam vida. Descubra agora