Capítulo 58

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AMANDA

J Balvin parece perdido em seu próprio inferno pessoal. Seus ombros estavam encurvados para baixo e uma sombra surgiu em seus olhos escurecendo parcialmente o brilho que ele sempre sustentava no olhar. Minha mão enlaça com a sua e nossos dedos se fecham, ele se volta para mim e encosta sua testa na minha fazendo seu nariz deslizar lentamente sobre o meu.

_Eu não posso – sussurro afastando-me de sua leve caricia e a forma em que ele desvia o olhar para longe de mim foi pior que receber um tapa.

_Eu e Maluma – cuspiu ele – Fomos criados no mesmo lugar com... perspectivas diferentes, mas com o mesmo fundamento. A lei é dura mas é a lei. O sangue se paga com o sangue. A luta de um é a luta de todos. O começo é o fim e o fim sempre é o começo.

_La ley es dura pero es la lay, la sangre por la sangre, mi lucha por tu lucha, el principio para el fin – repito as palavras automaticamente, recordando-me perfeitamente da declamação de Maluma – Você estava na gangue com Maluma.

_Não Amanda – riu ele passando uma mão por seu cabelo em pleno sinal de frustação, ele encara suas próprias mãos antes de continuar a falar – Eu estava em uma gangue oposta a de Maluma. Concorrentes de mercado eu diria. Nós... nos odiávamos.

_Gangues rivais? – pergunto surpresa, não conseguia imaginar J Balvin em uma gangue.

_O pai de Maluma...– rosnou ele soltando uma risada sarcástica o que me deixou um pouco abalada com esse novo lad – Aquele filho da puta. Espero que você nunca chegue a conhecê-lo.

Se ele apenas soubesse que eu já tinha conhecido o homem em pessoa.

_Maluma de certa forma sempre o idolatrou – confessa ele – Apesar de ter visto sua mãe sendo estuprada e assassinada em sua frente por causa dele, ter presenciado os atos de crueldade de seu pai, ele nunca Amanda – diz ele encarando-me – Ele nunca piscou, nunca se arrependeu, as coisas que ele fez... não cabe a mim dizer. Mas ela... – murmurou ele com saudade - ...ela era a única coisa que colocava um sentido nele.

_Daniela? – sussurro o nome sentindo as ondas explodirem o meu peito.

_Daniela – murmurou ele em uma caricia – Ela era um anjo, seus cabelos tão claros eram um ponto de luz pela noite, seus olhos azuis transmitiam uma bondade e alegria – engoliu em seco – que eu nunca tinha voltado a ver antes... até que eu conheci você.

_Como... como ela morreu? – pergunto ouvindo sua cabeça encostar forte na ambulância, seus olhos parecem um pouco úmidos enquanto ele encara o céu.

_Londoño a matou – disse ele amargo.

_Ele matou ela? Por...que? – engasgo ao perguntar vendo o semblante de J Balvin perigoso.

_Porque ela me protegeu – diz ele a cuspir de lado – Existia uma grande gangue na Colômbia, a Leon de Sangre. Ela sempre foi comandada por Londoño e Charles, os dois eram melhores amigos... inferno... eles eram irmãos.

_Londoño tem um irmão? – estico minhas pernas retas no chão e encaro o mesmo céu de J Balvin, esperando que tudo fizesse algum sentido.

_Tinha, eles eram inseparáveis e cresceram na máfia colombiana. Londoño ficou conhecido como "O Temível" enquanto Charles era chamado de "O Impiedoso". Seus nomes eram sussurrados e nunca ditos em voz alta, como se os bastardos pudessem ser invocados – sorriu J Balvin perdido na lembrança de um passado cruel – Incrivelmente eles amavam a mesma mulher, Marli. Mas ela acabou se casando com Londoño eles eram... extremamente apaixonados. De certa forma Charles nunca superou aquilo, ao menos o boato o diz.

Espero em silencio que ele continua e respiro pausadamente com medo de meus pulmões falharem.

_Eles tinham feito um acordo, um negocio grande. Mas naquela noite Londoño não estava lá – ouço o relato de J Balvin enquanto ele parece perdido em outro lugar – Devido à ausência de Londoño o negocio não se concluiu, Charles ficou furioso, acabou com seus negócios e saiu da Leon de Sangre levando consigo seus aliados e a grande máfia se dividiu, nascendo Sangre Latina, os membros a chamam mais de La Família. Depois de anos desaparecido Charles retorna exercendo um grande poder na região e se vinga na família de Londoño, o bastardo morreu, mas naquela noite Marli também se foi. O bastardo do Charles deixou uma porrada de filhos e o mais velho com somente catorze anos liderou Sangre Latina ao sucesso.

As imagens vão entrando em minha cabeça juntando-se com o relato de Maluma, meu Deus, que mundo era esse.

_O problema foi que, Londoño após perder Marli, perdeu a cabeça – riu ele – Tornou-se cruel, dissimulado, um verdadeiro louco.

_Como você se envolveu nisso? – questiono sem conseguir encara-lo.

_Eu tinha quinze anos quando minha mãe descobriu que tinha câncer Amanda, eu não estava preparado para isso. Eu me entreguei às drogas, sai de casa é descobri o pior caminho para lidar com o fato de que minha mãe ia morrer. Eu entrei em uma gangue – confessou ele – O dinheiro era bom, eu conseguia pagar os medicamentos da minha mãe, a quimioterapia era cara.

_Ela não questionou sobre o dinheiro? – pergunto curiosa, encarando seu semblante aflito.

_Ah sim, minha mãe é uma dor na bunda de tão esperta – sorriu ele tristonho – Mas eu menti, continuei negando até o final. Mas foi ai que as coisas tornaram-se perigosas. Eu tornei-me um problema para a Leon de Sangre e Daniela me escondeu.

Seu suspiro foi audível e arrebatador, volto a segurar sua mão e ele me puxa para seu colo. Deixo minha cabeça pousar sobre seu pescoço e ele acaricia meu cabelo perdido em seu próprio mundo.

_A família de Daniela pertencia a Leon de Sangre Amanda, só que era difícil controlar os membros de sua casa, porque sua mãe era dona de um motel vagabundo no bairro – diz ele – Ela era a única bondade que conheci além da minha mãe. Maluma avisou diversas vezes para eu sair de lá, brigamos e quase matamos um ao outro. Mas Daniela sempre esteve lá com um anjo fazendo-nos sentir a culpa por jorrar sangue em sua cozinha. Quando a gangue de Londoño descobriu meu paradeiro e veio por mim Daniela estava na casa. Maluma e eu entramos em uma briga definitiva mas quando ele levantou a arma e disparou...

_Não – sento-me sobressaltada temendo o continuar da historia, a cena da arma fixada em algum ponto em minha cabeça.

_Amanda. Daniela se jogou em minha frente e levou a bala – sua voz engasga e uma gota fria pinga em minha bochecha.

_Mas você disse que Londoño matou Daniela – me sobressaio tentando encontrar a clareza.

_O ângulo em que Maluma atirou pegou na porra no meu braço, mas o tiro de seu pai...

_Londoño fez parecer que Maluma atirou em Daniela? – rosno – Maluma pensa que atirou em Daniela?

_Certamente – continuou J Balvin – Ele vive com o fardo.

_Por que você não contou a verdade a ele? – pergunto enraivecida a sentar-me e olha-lo nos olhos.

_Esse é o problema Amanda. Primeiro, ele não iria acreditar em mim, o ódio ainda é latente. Segundo, infernos... eu posso ter um passado bem mais leve que o dele mas não sou um santo, nunca pense que sou um bom homem Amanda, eu não sou mas eu me arrependo das coisas que fiz - sorri ele irônico – E quarto mas não menos importante, estou marcado na lista de morte de Londoño, porque descobri a verdade a exatamente um mês, antes eu culpava 100% a Maluma.

_Eu não entendo – sussurro pasma – Londoño matou Daniela fazendo Maluma pensar que foi ele que deu o tiro? Você descobre a verdade e por isso foi sentenciado à morte?

A risada de J Balvin me assombrou por toda a tarde naquele dia, e as palavras que se seguiram depois gravaram-se em minha mente como uma musica ruim de um velho disco quebrado.

_Essa é a lei da gangue Amanda, o sangue se paga com sangue. Londoño não planejava matar somente a mim naquela noite. Ele foi com a intenção de matar Daniela também, que me escondeu de baixo de seu próprio nariz, em seu próprio território. Quando Maluma descobrir a verdade ele vai atrás de Londoño buscando vingança. E se alguém pode mandar aquele desgraçado pro inferno, é ele. No final é sempre o mesmo que o começo Amanda, o sangue se pagara com o sangue.

Livro 1 - Doce TempestadeOnde histórias criam vida. Descubra agora