AMANDA
Beck's.
Nunca imaginei que Maluma tinha um lugar como esse. Na verdade, eu tinha um pouco de ciência, após seu relato naquela noite obscura dentro de minha mente – não conseguia lembrar daquela noite sem que as lagrimas voltassem aos meus olhos – se eu apenas pudesse esquecer disso, mas como poderia eu me esquecer de alguma coisa que o envolvia?
Antes de chegarmos a esse lugar – com muita relutância – consegui parar em uma Drogaria e comprar alguns produtos para fazer a higienização e o curativo de Maluma. Dirigir o carro escutando seus dedos tamborilarem na porta do banco de passageiro distraia-me. Seu olhar estava perdido em algum lugar muito longe de ser alcançado, talvez ele apenas não quisesse ser alcançado – ou menos, não por mim – pensei. Isso era um desses momentos em que eu somente não poderia entender o que se passava em sua mente.
Mesmo achando estranho estacionar o carro no inicio de uma floresta, eu não discuti. Apenas fiz o que ele pediu. Podia detectar a raiva e o rancor em sua voz, mas mantive-me em silêncio ao segui-lo por entre as árvores que se seguia.
Uma árvore grande e robusta que tinha seu tronco coberto de musgo e folhagens verdes destacava-se no meio das outras árvores. Fosse por seu tamanho, pelo balanço em decomposição em seu galho grosso ou por ser ela a sustentar a casinha de madeira escondida entre seus galhos, eu não saberia dizer. Observei Maluma escalar o tronco com facilidade, deixando-me sozinha no chão a olhar a paisagem.
Algumas flores amareladas estavam carregadas com o orvalho daquele dia fresco, a folhagem era tão intensa que o sol com dificuldade conseguia atingir a terra escura. Surpresa observei alguns coelhos cruzarem a minha direita desaparecendo floresta adentro. Se fosse uma outra ocasião eu iria amar descobrir mais daquele lugar, mas meu destino estava no topo daquela árvore. Eu nunca tinha escalado na minha vida, mas como dizia o velho ditado "Sempre há uma primeira vez".
Seguro a sacolinha da Drogaria com mais firmeza antes de iniciar meu caminho para cima – tendo o cuidado de não olhar o chão que se afastava – a madeira era escorregadia pelo musgo fazendo-me agarrar algumas vezes a folhagem de trepadeira que rodeava o tronco na busca de obter algum equilíbrio. Quando cheguei à casa da árvore, corajosa olhei para o chão sentindo-me um pouco tonta. Afasto-me da beirada e volto meu olhar para a porta entreaberta do lugar. Não era muito grande, no máximo – eu diria – dois metros quadrados, a pintura azul estava ficando amarelada e descascando, era evidente que o lugar havia sido abandonado.
Encontro Maluma sentado olhando fixamente um alvo torto na parede oposta. Em silêncio vou a sua direção e ele nem reage quando começo a limpar os ferimentos de sua mão. Era estranho – essa sensação de... ser útil a alguém – há muitos momentos que eu passo com esse homem mas em nenhum deles deixei-me de perguntar o real motivo de seguirmos conectados de uma forma tão peculiar.
_Não precisa ser tão delicada – diz ele sem olhar pra mim. Seus olhos continuam fixos no alvo como se ele de certa forma o direcionasse para algum lugar – Não sou feito de vidro. Eu não vou quebrar. Não foi meu pior.
Continuo limpando seus ferimentos sentindo-me triste. O quanto esse homem já não sofreu na vida? Quanta maldade ele já não presenciou? Quanto sofrimento ele não suportou para dar o melhor á sua irmã? Lagrimas fazem meus olhos perderem o foco do que estou fazendo, fungo em uma tentativa de conter o muco que quer escorrer de meu nariz. Infelizmente eu não era uma dessas pessoas que ficavam bonitas chorando. Meu nariz já deveria estar vermelho. Sinto quando uma lágrima cai de meu rosto e após alguns segundos uma mão passa delicadamente por minha bochecha.
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Livro 1 - Doce Tempestade
FanficAmanda é uma garota brasileira de 20 anos que acabou de ganhar uma bolsa de estudos na Colômbia. Viver em um alojamento com outras brasileiras que só pensam em festas e homens estava prejudicando e deixando a decidida e certinha univer...