AMANDA
Eu havia imaginado esse dia de diversas formas diferentes. Era incrível como minha imaginação me pregava peças. Por um momento, apenas um pequeno momento eu achei que Maluma estivesse acariciando meus cabelos e que estávamos juntos na casa de sua Tia Yudy – mulher que eu ainda não conseguia entender – mas eu não poderia estar mais errada.
J Balvin estava passando vagarosamente seus dedos por meu cabelo que já estava desbotando sua coloração marsala, como todos os outros dias pensei em como seria difícil doma-lo pela manhã, sua infinidade de nós entrelaçada aos fios finos ora ondulado ora enrolado, mas de qualquer forma seu habitual estado "armado" seria impossível de negar. No que eu estava pensando ao fazer aquele corte? Sem escova ele parecia mais como um papagaio apontando seu bico para baixo.
_Você parece estar com o olhar longe – ouço J Balvin dizer e forço meus olhos a abrirem-se um pouco mais e fixar-se em seu rosto marcado por uma felicidade que eu gostaria de ter pela manhã – Parece que alguém aqui não é fã das manhãs ensolaradas.
Ele poderia apenas sonhar com a verdade. Assumo uma posição sentada e absorvo lentamente a cena ao meu redor, ainda estava no quarto do hospital e o cheiro de desinfetante fez-me estremecer. J Balvin estava com roupas normais, uma calça jeans e uma camiseta vermelha, um pequeno bandaid em seu braço evidenciava as horas em que ele passou recebendo soro. Fora isso nem parecia que aquele homem esteve à beira da morte, já a mim - encaro-me no pedaço de metal que era a cama que J Balvin tinha estado – parecia um personagem de filme de terror.
_Vou ao banheiro – resmungo algo similar enquanto arrasto-me em direção ao banheiro.
A água estava gelada, mas nada deveria estar tão frio quanto meu coração. Maldito órgão inútil, eu estava muito bem antes dele começar a sobressair-se para funções que não lhe eram direito. Amarro meu cabelo em um nó e sento-me na privada verificando as mensagens no meu celular. Rita e Yasmin estavam convidando-me para passar o natal com elas e me mandavam fotos de comidas sob diversos ângulos. Mamãe mandou três áudios com mais de dois minutos – suspiro – eu ouviria isso mais tarde. Além disso, apenas mensagens do grupo do trabalho esperavam ser lidas. Ninguém mais nesse mundo havia se lembrado de mim. Não que eu conhecesse muitas pessoas.
Arrumo novamente a roupa que a mãe de J Balvin havia trazido para mim – uma adorável blusa vermelha bordada de flores brancas e uma calça jeans um numero menor que o meu, que apertava minha bunda e provavelmente estava marcando minha pele – e suspiro, hora de enfrentar o mundo.
Quando saio do banheiro J Balvin esta com as mãos nos bolsos e sorri de lado a me ver, ele parecia uma boa pessoa.
_Onde está sua mãe? – pergunto ao novamente perceber que ela não estava no quarto. Uma agulhada na minha coluna lembra-me da posição desconfortável que fiquei ao dormir na poltrona do quarto de J Balvin no hospital.
_Ajudando na organização de natal do hospital – sorri ele – De todos os lugares que imaginei passando o natal nunca esperava que fosse em um hospital.
_E onde você esperava passar o natal? – pergunto ao ir em direção à porta enquanto sinto J Balvin seguir-me.
_A – riu ele – Você sabe, Caribe, algumas cervejas, mulheres nuas.
_Pervertido – comento ouvindo seu riso arrepiar minha coluna.
_Só por você – sussurra ele em meu ouvido fazendo-me tropeçar em meus próprios pés.
_Ai estão vocês crianças – viro-me para encarar a mãe de J Balvin que parece muito alegre ao entrar no corredor hospitalar – Preciso de ajuda, vocês podem auxiliar as crianças a pendurar os enfeites? Eu preciso correr e ligar para o bufe e ver se as coisas estão prontas!
_Bufe? – perguntou J Balvin enquanto eu sussurrava – Crianças?
_Fiz uma doação ao hospital – continua ela – E paguei um bufe para ajudar na ceia de Natal, estão todos muito empolgados!
_Espero que tenha gastado dinheiro com um pouco de natilla e hojaldras – murmurou J Balvin ao ter suas bochechas apertadas.
_Você só pensa em doces mocinho – terminou ela de brincar com as bochechas dele e virou-se para mim sorrindo – Há crianças nesse hospital que não poderão voltar para suas casas querida, então eles passam o natal aqui. A equipe do hospital sempre prepara junto com os pais um salão onde eles comemoram o natal junto com a família e com a equipe do hospital.
_Verdadeiramente tocante – murmurou J Balvin recebendo um tapa forte no braço de sua mãe – Ai, por que você fez isso? Se estou dizendo que é realmente comovente?
_Não me tire do serio hoje! – discorda ela – Querida por favor, tire-o da minha frente, vou ir pelo bufe. Se comporte e não seja baleado na minha ausência.
_Essa mulher é louca – ouço-o dizer arregalando os olhos enquanto começo a rir – Talvez eu seja adotado.
_Não – sorrio ao caminhar para o setor de crianças – Provavelmente não.
_Como pode ter tanta certeza? – pergunta ele ao caminhar a meu lado.
_Ela provavelmente teria te devolvido para o lar se fosse o caso – vejo sua surpresa e um girar de seus olhos me provoca um riso.
_Graças a Deus não preciso de vocês pra ter autoestima – diz ele alargando meu sorriso.
_Tudo bem garanhão, vamos pelas crianças - desconverso ao encontrar uma enfermeira que nós deu indicação sobre as crianças.
Ao chegarmos à ala infantil, me surpreendi pelo numero de crianças que estavam ali. A maioria delas estava com suas cabeças raspadas e levavam sondas no nariz e outro pequeno grupo que me chamou atenção. Albinos, deficientes visuais, crianças com deformações no crânio, na face e em outras partes do corpo. Elas surpreenderam-se com nossa chegada, mas logo exibiram sorrisos inocentes e tão puros que meus olhos tornaram-se um pouco mais úmidos.
_Crianças eu trouxe dois amigos novos para vocês conhecerem – diz a enfermeira Martha – Essa é a Amanda e esse aqui é o J Balvin, eles vão ajudar vocês na decoração.
O local fica em silêncio enquanto observamos a enfermeira sair.
_Agora que a senhorita Martha saiu, vamos começar a produção – brincou J Balvin ao pegar no colo uma das crianças que o olhava com adoração – Vamos pequeninos, vamos botar o pau pra quebrar.
Sorrio ao ver a multidão de crianças rodear J Balvin, ele parecia estar lidando muito bem com aquilo tudo, meu coração dá uma batida singular e sinto meu olhar se encontrar com o de J Balvin.
_Tia Amanda esta com vergonha por ser uma péssima decoradora – confessou J Balvin para as crianças – Mas vamos ter paciência ao ensina-la, afinal esse é o verdadeiro espirito de natal.
_Vou te ensinar o verdadeiro espirito de natal – sorrio ao encaminhar-me para a mesa de pintura onde algumas crianças pintavam os enfeites.
Aquele natal prometia ser inesquecível.
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Livro 1 - Doce Tempestade
FanfictionAmanda é uma garota brasileira de 20 anos que acabou de ganhar uma bolsa de estudos na Colômbia. Viver em um alojamento com outras brasileiras que só pensam em festas e homens estava prejudicando e deixando a decidida e certinha univer...