Livro 1 - Doce Tempestade

Capítulo 17

AMANDA

A manhã chega sem eu ter conseguido dormir, sinto-me exausta e faço um esforço que não tenho para desligar o despertador. Estou sem energia, mas me recuso a ficar jogada na cama como se o mundo tivesse acabado. Sei que estou prestes a cair no choro a qualquer momento, mas vejo-me vestindo para ir para a UNAL como se esse fosse apenas mais um dia qualquer. Quando respiro o cheiro floral da universidade sinto meu peito um pouco mais leve.

Minha cara está péssima quando passo por um vidro espelhado do pátio e não havia outra maneira de corrigir aquilo sem usar maquiagem – a qual eu não possuía - então soltei meus cabelos com a esperança de que eles cobrissem a maior parte do meu rosto. Não me importava com o que as pessoas pensassem – pelo menos não muito – mas não queria obriga-las a ter que ver aquelas olheiras gigantes, escuras e profundas logo no inicio da manhã.

Yasmin manda-me uma mensagem avisando que está esperando-me na sala de aula então quando saio do restaurante universitário estou levando seu gelado preferido. Ao menos uma de nós devia ser feliz essa manhã. Olho na tela do celular e vejo que ainda é bem cedo, caminho mais lento que o habitual esperando que a paisagem traga uma tranquilidade que não sinto.

_Oi, Amanda? – diz uma voz masculina ao se aproximar por trás de mim. Olho para trás e encontro Estefan, hoje ele estava usando uma calça marrom clara e um cadirgan azul. Seu cabelo caia em cachos ao redor de seu rosto e ele parecia feliz em me ver.

_Oi, tudo bem com você? – pergunto vendo-o colocar as mãos dentro dos bolsos da frente de sua calça, ele parece um pouco sem graça ao balançar a cabeça.

_Estou sim, você parece... ótima – diz ele educado e sei que está olhando para minha cara de acabada – Não sabia que você estudava aqui.

_Não conversamos muito – respondo sem graça ao dar um sorriso tímido.

_Procurei você ontem na festa mas você já tinha ido embora – disse ele olhando-me como se quisesse falar algo – Seu amigo... ficou lá por um tempo... ele... estava divertindo-se.

Imagino Maluma se "divertindo" e sinto meu estomago revirar-se. Não consigo responder ao seu comentário e engulo em seco tentando encontrar minha voz.

_Ah... desculpa – disse ele dando um passo para trás constrangido – Eu... tenho que ir para minha classe agora, nos vemos por ai.

_Até mais – sorrio educada ao vê-lo sumir pelo corredor da engenharia.

Quando chego na sala, Yasmin está sentada no mesmo lugar de sempre – ao menos algumas coisas não mudaram – conforme chego mais próximo dela, vejo sua cara fechando-se em uma careta de horror.

_O que diabos aconteceu com você? - pergunta ela tirando um tubinho de sua bolsa, seguido de pó compacto e um rímel.

_Estou bem – lhe informei ao entregar seu gelado – Bon appetit!

_Não, não, não! – diz ela ao levantar-se e sentar ao meu lado – Vamos dar um reboque nessa cara e você vai me dizer o que aconteceu.

Suspirando deixo Yasmin pintar-me enquanto lhe conto vestígios do que anda acontecendo na minha vida patética e caótica com direito a trilha sonora de Lara Fabian para completar a desgraça triste que era lembrar a cena da minha discussão com Maluma.

O professor chega acompanhado da maré de universitários e meu dia começa a ficar melhor quando me concentro nos estudos. Passo a ficar completamente focada no que eu quero para minha vida e vou ignorando pensamentos que me levem de volta ao meu Bad Boy – ele não era meu – me corrijo ao voltar a suspirar.

Ia ser um longo processo de cura.

ღ❤ღ

Fazem oito dias que eu não sei nada de Maluma e apenas seis horas que enviei meu pedido de demissão. Cada dia sem ter o magnetismo daquele homem sob mim torna mais fácil o conceito de respirar sem sentir uma facada no peito.

Posso enumerar as sensações de como passei cada dia mas, apenas alguns deles saíram do "chorar como uma mulher traída" para "aconteceu algo diferente" que mereciam ser contados.

O terceiro dia longe daquele homem foi o primeiro que posso me recordar com precisão. Eu tinha comido pães de mel e chocolate quente e houve um pouco de choro de minha parte – eu confesso – mas eu estava melhorando. Eu estava afogando-me na gordura trans enquanto Maluma estava sendo fotografado cada dia com uma mulher linda e poderosa em seus braços.

Isso fazia com que a facada aumentasse, mas eu havia parado de acessar a internet, ouvir a radio e ler revistas afim de evitar descobrir como ele já tinha "superado" o que diabos fosse que tínhamos começado. Então esse foi o primeiro passo para minha recuperação.

O sexto dia foi o que eu senti o empurrão que precisava para conseguir sair de casa com uma cara decente. Rita havia me levado em seu curso onde fui seu projeto de transformação. Agora eu estava com o cabelo em um Channel de bico repicado cor Marsala que combinava perfeitamente com os óculos de grau da Ray Ban que minha mãe tinha me enviado do Brasil.

O sétimo dia foi aquele em que eu sai na rua procurando um novo emprego. Gritei até perder a voz por ter sido aceita como estagiaria em uma Editora de Livros famosa chamada Sotto. E foi ai que virei a noite escrevendo minha carta de demissão, aceitando pagar o pedido de aviso para que eu saísse o mais rápido da ultima ligação que eu tinha com Maluma.

O oitavo dia era hoje.

Estava saindo de casa quando meu celular começa a tocar. Quando por fim o encontro e consigo atende-lo surpreendo-me ao escutar a voz masculina que vem do telefone.

_Lorenzzo?

_Amanda – grita ele alto – Maluma está...

Escuto coisas sendo quebradas e um barulho alto gelou meu coração. O que estava acontecendo? _Lorenzzo o que está acontecendo? Que barulho é esse?

_Maluma está fora de si – continua ele falando alto sob o som de destruição – Sei que isso não tem nada haver com você mas, ele viu seu pedido de demissão e... está fora de si.

_Onde vocês estão? – pergunto ao descer rapidamente as escadas e sair do prédio a procura de um táxi.

_Na casa dele – disse Lorenzzo cansado exalando preocupação.

_Estou indo – aviso antes de encerrar a ligação.

Seique jogar fora os oito dias que precisei para voltar ao meu equilíbrio normalnovamente era trair a mim mesma, mas não pude controlar minhas ações, eulidaria com as consequências quando elas chegassem, a única coisa que passavana minha cabeça agora era que... eu precisava chegar até ele.