Capítulo 67

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AMANDA

Como se ele nunca tivesse existido.

Essa era a estranha sensação que eu tinha. Eu tinha acordado em um hospital, uma boa enfermeira me disse que um homem bonito mesmo cheio de machucados não havia saído do meu lado nas primeiras horas. Contou-me ela que ele havia me dado um beijo na testa antes de ir embora, mentindo – certamente – a enfermeira ao dizer que voltaria logo. Mas ele não pretendia voltar, ele havia partido para nunca mais voltar.

Meus dias no hospital foram pagos por fonte desconhecida – como se eu não soubesse quem pagou. Foi um choque saber que J Balvin estava morto, mesmo havendo passado um mês do incidente, os jornais da Colômbia passavam uma e outra vez a mesma noticia, contando com detalhes sobre como uma das maiores gangues havia sido aniquilada pela policia. No prédio em que fui mantida presa foram preso mais de 900 quilos de droga, além de dez caminhões de armamento pesado. Além de mim, havia 35 mulheres sequestradas com destino à Islândia e uma dúzia de crianças. No dia em que fui salva houve mais de duzentas mortes, a maioria homens, apenas quatro mulheres foram vitimas no tiroteio e graças a Deus nenhuma criança.

Dar meu depoimento ao investigador foi o mais fácil, as perguntas eram das mais variadas, mas não tive que falar muito devido a alegação de meu abalo mental. Ser estuprada muda à perspectiva de alguém, eu não suportava sair na rua e ganhar o olhar de um homem, desde aquele dia eu só usava roupa de frio, independente do calor, não conseguia manter-me ao redor das pessoas por muito tempo, era como se todas elas soubessem o que tinha acontecido comigo.

Eu tentei encontra-lo, indo a sua casa, mas ele já não morava mais no residencial. Até cheguei ao ponto de alugar um carro e dirigir até a casa de Yudy, mas essa também havia desaparecido. Percorri seu nome e o de sua família por toda a maldita internet, mas não havia nada. Nada. Ninguém sabia de nada. Ele estava completamente fora de ser encontrado.

Minhas amigas me ligaram, tanto da Colômbia quanto do Brasil. Mamãe queria comprar uma passagem para ir buscar-me, mas eu havia sido mais rápida comprando uma passagem para meu lar doce lar.

Transferir-me de volta a meu país de origem me deixou com um sabor de derrota. Eu não havia conseguido sobreviver sozinha. Eu até havia tentado, mas o destino havia me ferrado em cada maldita oportunidade. Consegui criar uma historia mais suave aos meus pais, basicamente informando que eu estava no lugar errado, na hora errada e tinha visto algo que não deveria. Eles não precisavam saber de todo o resto, não mudaria absolutamente nada.

Viver com meus pais novamente foi sufocante, cada movimento que eu dava era sinal de preocupação, eu tinha que lutar para ganhar minha independência novamente. Em quarenta dias consegui passar em uma universidade federal e estava indo viver em Campo Grande com uma bolsa de estudos. Minha mãe ficou um pouco mais segura já que eu tinha uma tia que vivia naquele local, próximo da faculdade.

Olho meu rosto agora no espelho perguntando-me o que diabos eu iria fazer? Aquilo havia mudado toda a perspectiva da minha vida. Eu tinha mudado tanto nesses dois meses, tanta coisa havia acontecido e mais essa agora.

Eu agora levava um corte curtíssimo, a cor natural do meu cabelo zombando da minha revelação. Passo insegura a mão por minha barriga reparando pela primeira vez em como ela estava arredondada. Eu não estava apenas engordando – engulo em seco – eu estava gravida.

Olho a prova irrefutável de que Maluma realmente existiu e respiro profundamente. O teste que eu havia feito no hospital deu positivo. Encaro as letras negras escritos reagente seguida do tempo cinco meses. O filho era de Maluma. Sinto um imenso alivio pelo bebe não ser de J Balvin, mas era aterrador saber que eu levava um bebe de Maluma.

_Meu bebe – afirmo ao sentar na privada – Meu bebe e de mais ninguém.

Olho para meu celular na pia e em um momento impulsivo envio uma mensagem para Maluma sabendo que aquele numero já havia sido apagado e que ele nunca saberia da verdade. Quando eu havia chegado ao Brasil havia enviado varias mensagens – cento e quarenta e seis para ser exata – e ele nunca tinha respondido.

Estou gravida, de cinco meses, faça as contas – enviar. Volto a colocar o celular na pia e fico a encarar meus pés, faltava apenas quatro meses para o bebe nascer. Eu tinha que fazer pré-natal, pensar em nomes, mudar meu estilo de vida...

Encaro meu celular vibrando na pia e o pego um pouco tremula. Olho a mensagem que segue em baixo da minha sem acreditar no que meus olhos estão vendo.

Estou gravida, de cinco meses, faça as contas.

Chego em doze horas.

Livro 1 - Doce TempestadeOnde histórias criam vida. Descubra agora